Publicado em 16 de fevereiro de 2021 às 16:09
- Atualizado há 5 anos
Com o aumento da resistência no exterior ao chanceler Ernesto Araújo, um assessor direto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem participado de missões diplomáticas a países cujas relações com o Brasil enfrentam dificuldades. >
Sem status de ministro, mas considerado o auxiliar mais próximo do presidente, o secretário especial da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), almirante Flávio Rocha, viajou recentemente a países com os quais o chanceler perdeu a capacidade de interlocução por posições ideológicas, como China e Argentina.>
A atuação do militar, que é chamado de "os olhos e ouvidos" do presidente, rendeu-lhe no Palácio do Planalto o apelido de "02 do Itamaraty". A alcunha, no entanto, é refutada pelo almirante, que já disse a integrantes do governo não ter ambições políticas.>
Apesar da resistência do militar, que não tem pretensão de deixar o atual cargo, o nome dele entrou, em janeiro, na bolsa de apostas para substituir o chanceler, quando a queda dele era dada como certa por causa do impasse nas negociações para trazer ao Brasil insumos farmacêuticos da China e vacinas da Índia contra o coronavírus.>
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Último seguidor do ideólogo Olavo de Carvalho na Esplanada dos Ministérios, o atual chanceler, no entanto, acabou por conseguir sobrevida na pasta após a solução dos problemas, o que contou com a atuação nos bastidores dos ministros da Agricultura, Tereza Cristina, e das Comunicações, Fábio Faria.>
Hoje, o presidente não pretende trocar o chanceler. Em conversas reservadas, porém, ele não descarta que uma mudança possa ocorrer caso a imagem do país não tenha melhora em médio prazo.>
Para assessores presidenciais, a postura aberta ao diálogo e a atitude cordial de Rocha são características que podem ajudar a melhorar a imagem do Brasil no exterior.>
E, por isso, eles consideram que a sua atuação junto a governos estrangeiros pode vir a ser um ganho para a política diplomática brasileira.>
Fluente em seis línguas e tido por integrantes do governo como um homem culto, Rocha é descrito como versátil e funciona como uma espécie de coringa no governo.>
Ele já foi cotado pelo presidente, por exemplo, para a Secretaria-Geral, cargo entregue a Onyx Lorenzoni, que estava na Cidadania. A transferência foi oficializada nesta sexta-feira (12) em edição extra do Diário Oficial da União.>
A atuação do almirante em questões externas é considerada por auxiliares do presidente como natural, já que a estrutura que ele comanda também presta assessoria em assuntos internacionais.>
Em janeiro, o almirante viajou à Argentina a convite do seu homólogo na nação vizinha, Gustavo Osvaldo Beliz. Os dois trataram de pontos de sinergia e de cooperação estratégica. Rocha também encontrou o presidente argentino, Alberto Fernández.>
Ernesto já fez críticas à Argentina, assim como o presidente brasileiro. Recentemente, o chanceler condenou decisão do Senado do país vizinho que legalizou a realização do aborto por decisão da mulher.>
"O Brasil permanecerá na vanguarda do direito à vida e na defesa dos indefesos, não importa quantos países legalizem a barbárie do aborto indiscriminado, disfarçado de saúde reprodutiva ou direitos sociais", escreveu Ernesto em redes sociais.>
Na semana passada, Rocha foi à China a convite do ministro Fábio Faria para reuniões sobre a implementação da rede 5G no Brasil. A Huawei, uma das principais empresas do setor, é chinesa e, por se tratar de um assunto de segurança nacional, a secretaria especial acompanha. Devido a diferenças ideológicas, o chanceler não tem mantido contato com nenhum representante do país asiático.>
Em agosto, o militar também representou o presidente em missão oficial ao Líbano para o transporte de auxílio humanitário ao país do Oriente Médio por causa de uma explosão no porto de Beirute.>
Na viagem, Rocha se aproximou do ex-presidente Michel Temer (MDB), que, a convite de Bolsonaro, chefiou a delegação. Na opinião pessoal de Temer, Rocha tem colaborado para arrefecer as críticas externas ao governo brasileiro.>
"Ele é de uma cordialidade absoluta e é muito competente nas conversas que teve comigo quando fomos ao Líbano. E ele é extremamente discreto e muito preparado intelectualmente", afirmou Temer à Folha de S. Paulo. "Eu acho que ele colabora para isso [arrefecer críticas ao país]. Mesmo nessa missão do Líbano, acho que ele se esforçou por isso, mas isso é um mero palpite meu.">
De acordo com integrantes do governo, apesar do apelido dado ao militar de "02 do Itamaraty", não existe uma disputa entre Rocha e Ernesto.>
Os dois mantêm um bom relacionamento e atuam em conjunto. É o que ocorre, por exemplo, quando Bolsonaro faz um telefonema para alguma autoridade estrangeira.>
O almirante e sua equipe técnica são os responsáveis por cuidar da parte mais operacional. Eles acertam o horário da conversa e discutem com o chanceler alguns pontos-chave que o presidente não pode esquecer de abordar.>
Rocha também tem funcionado como uma espécie de "apaziguador" em questões internas do governo. Ele atuou para arrefecer crises políticas, ajudou na sucessão do Ministério da Educação e coordenou a transição do Ministério da Saúde em meio à pandemia do coronavírus.>
Segundo auxiliares presidenciais, quando se trata de um assunto delicado e que não pode vazar para a imprensa, o almirante é sempre o nome escalado pelo presidente para atuar na linha de frente, incluindo crises institucionais com o Judiciário e o Legislativo.>
Segundo cálculo informal de auxiliares palacianos, o almirante participa de mais de 90% das reuniões de Bolsonaro no gabinete presidencial.>
Reconhecido dentro das Forças Armadas pelo conhecimento geral, ele é chamado frequentemente pelo presidente para opinar e aconselhar em temas delicados.>
Bolsonaro e Rocha se conheceram em 2002, quando o militar era chefe da assessoria parlamentar da Marinha na Câmara. O presidente, então deputado, se aproximou do militar por defender pautas que eram de interesse das Forças Armadas.>
Nesse período, Rocha fez amizade com deputados e senadores de diferentes partidos, o que, de acordo com amigos do almirante, o ajudaram hoje a atuar na articulação política apenas quando demandado pelo presidente.">
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