Publicado em 27 de julho de 2020 às 14:58
Em meio à crise diplomática entre Washington e Pequim, dois aviões militares americanos foram avistados no domingo (26) a menos de 100 km de Xangai, a menor distância registrada nos últimos anos.>
Um avião de vigilância eletrônica e guerra antissubmarino P-8A e uma aeronave de reconhecimento EP-3E voaram pelo estreito de Taiwan no domingo, próximo de Zhejiang e Fujian. Foi o 12º dia em sequência em que aviões espiões americanos se aproximam da costa chinesa. >
O voo ocorreu na véspera do fechamento do consulado americano em Chengdu, medida retaliatória determinada pelo governo chinês depois de ação igual feita pela administração Donald Trump contra a representação do país em Houston.>
Os americanos dizem que o consulado chinês era um centro de espionagem, provavelmente voltado a roubar segredos sobre o desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19. A China chamou a acusação de absurda.>
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A atividade militar na região tem crescido. Segundo o centro Iniciativa de Investigação de Situação Estratégica do Mar do Sul da China, da Universidade de Pequim, o P-8A chegou a 76,5 km da costa chinesa e o EP-3E, a 106 km.>
Os aparelhos voaram em coordenação aparente com o USS Rafael Peralta, um destróier na região. Segundo o centro, as operações aeronavais americanas no mar do Sul da China e no estreito de Taiwan estão nos maiores níveis da história recente.>
Só neste ano, foram seis operações de liberdade de navegação, nas quais navios de guerra circulam em águas internacionais que a China afirma serem suas -Pequim clama controle de 85% do mar do Sul da China e instalou bases em recifes e ilhas artificiais em toda a região, que tem o tamanho da Índia.>
Em todo o ano passado, foram 8 operações, ante 6 em 2018 e 4 em 2017 -quando Trump assumiu e lançou as bases de sua Guerra Fria 2.0 com a China, na forma de disputas comerciais e tecnológicas, mas que agora avançaram para o campo político.>
Só neste ano, os países se estranharam sobre a repressão chinesa contra a autonomia de Hong Kong, o manejo da pandemia do novo coronavírus, a presença da chinesa Huawei em redes de 5G no Ocidente e o domínio do mar do Sul da China.>
A China considera Taiwan uma ilha rebelde, mas a proteção militar americana tem evitado uma invasão e a anexação da pequena república. Já o mar do Sul da China é a rota por onde passa a maior parte de suas exportações e importações, vitais para a sobrevivência da economia chinesa.>
Segundo o centro, só nas três primeiras semanas de julho houve 50 missões de reconhecimento aéreo semelhantes a essa de domingo. Num ano, chega a haver 2.000 operações, com aviões americanos baseados no Japão ou, no caso de missões com bombardeiros, oriundos da base de Guam, no Pacífico.>
Em nenhum dos casos houve interceptação por parte de caças chineses, mas, ao menos na quinta (23), um navio chinês transmitiu uma advertência para que o aparelho americano se afastasse, segundo áudio que circulou na mídia do país asiático.>
Naquele mesmo dia, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, fez um discurso agressivo conclamando os países do "mundo livre" a escolherem entre "liberdade e tirania" -uma retórica ao estilo da Guerra Fria entre soviéticos e americanos.>
Boa parte do barulho promovido por Washington pode ser debitada das dificuldades eleitorais de Trump, que está atrás na corrida com Joe Biden para a eleição de novembro. Mas as divergências estratégicas entre as duas potências seguirão, mesmo que o democrata seja o eleito.>
Em entrevista publicada pelo centro nesta segunda (27), o especialista Wu Shicun avalia que nem EUA nem China querem um conflito, mas que o risco de incidentes está aumentando. "As duas partes estão testando as linhas vermelhas do outro lado", afirmou ele, que preside o Instituto Nacional de Estudos do Mar do Sul da China.>
"Os navios de guerra americanos estão entrando cada vez mais para descobrir onde é a linha vermelha da China. Temo que as chances de um acidente estejam crescendo", afirmou.>
Em 2001, um caça chinês colidiu com um avião espião americano e o piloto morreu. Em 2018, um destróier chinês passou a 41 metros de outro, americano, o que em termos navais é praticamente uma colisão.>
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