Publicado em 2 de maio de 2020 às 08:16
A FDA (agência que regula remédios e alimentos), dos Estados Unidos, concedeu uma autorização para uso do antiviral remdesivir em pacientes (tanto adultos quanto crianças) graves com suspeita ou confirmação da Covid-19. >
Com o autorização de uso emergencial, o antiviral poderá ser dados por profissionais de saúde a pacientes com níveis baixos de oxigenação no sangue ou que precisem de ajudar de respiradores.>
"Baseado na totalidade das evidências científicas disponíveis, é razoável crer que o remdesivir possa ser efetivo no tratamento da Covid-19 e que, quando usado sob as condições descritas nesta autorização, os conhecidos e potenciais benefícios superam os conhecidos e potenciais riscos da droga", afirma o documento da FDA.>
A autorização já era esperada após a divulgação, na quarta (29), de resultados modestamente positivos da droga contra o novo coronavírus.>
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O estudo conduzido pelo NIH (National Institutes of Health), dos EUA, apontou que a droga pode diminuir o tempo de recuperação de pacientes graves. Na pesquisa, o grupo controle, que tomou placebo, levava em média 15 dias para se recuperar. Enquanto isso, o grupo de pacientes nos quais o remdesivir foi administrado precisou de 11 dias para receber alta hospitalar.>
Ao anunciar alguns dos dados do estudo (que ainda não foi apresentado em sua íntegra), Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês), braço do NIH, comparou a divulgação aos primeiros resultados positivos da droga AZT contra o HIV, o que representou uma reviravolta no tratamento da doença.>
Mesmo com a animação de Fauci, os dados parciais apresentados não representam a solução da guerra contra a Covid-19. Contudo, "provou-se um conceito", disse o diretor do Niaid, "um remédio pode conter esse vírus".>
O estudo do Niaid tinha um desenho forte: era randomizado, duplo-cego (tanto médicos quanto pacientes não sabiam o que estavam medicando ou recebendo) e com grupo controle. Isso faz com que o nível de evidência obtido sobre a droga seja mais forte e permita conclusões mais seguras.>
O registro de ensaios clínicos do estudo do NIH chamou a atenção após o anúncio de Fauci. O desfecho a ser analisado foi alterado pelos pesquisadores em 20 de março, quando o estudo já estava em andamento.>
O resultado final em análise pelo estudo, como foi apresentado na quarta, foi o tempo que o paciente levou para recuperação. Já o resultado que inicialmente seria analisado era mais complexo e levava em conta uma escala baseada em uma série de parâmetros clínicos.>
A mudança do resultado principal em estudo pode levar a distorções nos resultados encontrados quanto ao tratamento foco da pesquisa.>
Segundo pesquisadores, o resultado é interessante, mas ainda é necessária cautela considerando as evidências disponíveis sobre o uso da droga contra a Covid-19, principalmente considerando os dados aparentemente conflitantes com o estudo publicado, nesta quarta (29), na revista The Lancet, que não aponta efeito estatisticamente relevante da droga (o estudo teve que ser interrompido e os dados obtidos são frágeis).>
Além da mudança no desfecho analisado, o estudo em si ainda não foi apresentado, o que torna impossível uma análise mais detalhada dos dados, diz Natália Pasternak, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e presidente do Instituto Questão de Ciência. Mas, "no meio de uma pandemia, qualquer remédio que ajuda é bem-vindo", diz a pesquisadora.>
Ela afirma, contudo, que a mudança do resultado principal em análise na pesquisa precisa ser explicado.>
Ao mesmos tempo, também na quarta, um estudo publicado na revista médica inglesa The Lancet estatisticamente não mostrou benefício do uso da droga em pacientes com Covid-19. A pesquisa, feita na China, teve que ser interrompida, por falta de pacientes, o que enfraquece os dados e dificulta as análises.>
O remdesivir é produzido pela farmacêutica Gilead Sciences e foi desenvolvido para tratar outras doenças. Foi testado, com pouco sucesso contra o Ebola e teve resultados promissores contra outros coronavírus em testes em animais. Não fora até agora aprovado para tratamento de nenhuma doença.>
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