Na indústria automotiva, as mulheres tendem a ter uma formação mais completa: 33% têm ensino superior e 8% possuem especialização
Na indústria automotiva, as mulheres tendem a ter uma formação mais completa: 33% têm ensino superior e 8% possuem especialização. Crédito: GM/Divulgação

Mulheres conquistam espaço e fazem história na indústria automotiva

Desde figuras históricas a mulheres que estão em altos cargos em montadoras ou no comando de oficinas capixabas, a atuação feminina tem contribuído para o setor evoluir cada vez mais

Publicado em 08/03/2021 às 09h00
Atualizado em 08/03/2021 às 09h00

O mundo automotivo é repleto de histórias e de conquistas que o transformaram no que é hoje: uma indústria importante para a economia, que investe constantemente em tecnologia e que tem uma legião de fãs espalhados pelo mundo. E muito disso se deve à contribuição feminina, que lá nos primórdios da sua formação, elevou para o primeiro plano o uso de veículos motorizados como o principal meio de locomoção da sociedade.

Afinal, a invenção do limpador de para-brisas, da seta e até mesmo o sucesso do carro como meio de transporte viável se devem às mulheres que foram além do que se esperava delas em uma época quando sequer se falava em igualdade de gêneros. O que ainda não é uma realidade, já que as mulheres ainda são 19,7% da força de trabalho dentro das empresas automotivas, ante 80,3% dos homens dentro da indústria, em 2019, segundo a pesquisa “Diversidade no Setor Automotivo” realizada pela Automotive Business (AB) e MHD Consultoria.

Por outro lado, elas são 47% na área de produção e manufatura, tornando sua presença forte e importante como força de trabalho das empresas automotivas. Mas no setor de marketing e vendas, onde são tomadas as decisões e estratégias, desenhos de produtos e planos de negócios, a presença feminina corresponde a apenas 11% dessa área.

Luciana Stippe Denis: “A indústria precisa de diversidade”
Luciana Stippe Denis: “A indústria precisa de diversidade”. Crédito: VW/Divulgação

No entanto, assim como as pioneiras foram responsáveis por inovar a indústria, quando há a participação das mulheres nessas áreas de decisão, o mercado acaba se renovando e criando produtos de sucesso. Um exemplo foi no lançamento do VW Fox, em 2003, que se tornou um dos modelos mais vendidos da montadora alemã no Brasil, como explica a supervisora de planejamento de veículos de testes da Volkswagen, Luciana Stippe Denis. Ela participou do desenvolvimento do modelo.

 “O Fox foi um marco para a empresa e o time de desenvolvimento era um dos mais diversos. No passado, o que prevalecia era apenas a visão masculina, mas o Fox mesclou as duas visões, o que levou a identificação a um público mais amplo de compradores”, conta.

Luciana já tem 26 anos de empresa e entrou como estagiária na área de engenharia, estando hoje à frente de um setor onde busca incentivar a diversidade de seu time. “A indústria precisa de diversidade, pois isso faz com que sejam criados produtos com atributos que aumentam as vendas. Uma empresa que tem um único ponto de vista está fadada a perder mercado. Quando se entende isso, o mercado tende a ser mais inclusivo, o que faz com que as vendas aumentem”, avalia.

MAIS OPORTUNIDADES

Na indústria automotiva, as mulheres tendem a ter uma formação mais completa: 33% têm ensino superior e 8% possuem especialização (pós-graduação ou doutorado), enquanto homens com ensino superior são 21% e com algum tipo de especialização, 6%. No entanto, elas são minoria nas lideranças: 21% diante de 79% de lideranças masculinas.

E a disparidade salarial também é alta: quanto mais altos os cargos, maior a diferença: enquanto a remuneração média para homens em cargos de liderança é de R$ 54.883, uma mulher, na mesma posição, recebe R$ 26.958, ou seja, quase a metade.

Trabalhadora de fábrica da Volkswagen no Brasil
A presença de mulheres na área de produção e manufatura corresponde a 47% da força de trabalho, segundo pesquisa do setor. Crédito: Volkswagen/Divulgação

Com base nisso, algumas empresas têm se comprometido a criar mais oportunidades para mulheres ocuparem esses cargos de liderança, oferecendo ambientes mais adaptados para a realidade da mulher. Um exemplo é a iniciativa Women in Action da GM, que acontece desde 2016 na empresa e consiste em um programa de aceleração de desenvolvimento feminino. Ao todo, 184 mulheres já participaram de quatro edições do programa, que em 2018, das 28 participantes 32% foram promovidas e 4% tiveram oportunidades internacionais, segundo a empresa.

“O papel de liderança feminina dentro da GM é forte e muitas veem a empresa como um polo de oportunidades. A mulher é tratada como personagem principal e não apenas como coadjuvantes”, pontua a vice-presidente de Relações Governamentais, Comunicação, Sustentabilidade e Responsabilidade Social da GM, Marina Willisch.

vice-presidente de Relações Governamentais, Comunicação, Sustentabilidade e Responsabilidade Social da GM, Marina Willisch
Marina Willisch: “O setor automotivo está em uma fase de grande maturação”. Crédito: GM/Divulgação

Marina Willisch

Vice-presidente de Relações Governamentais, Comunicação, Sustentabilidade e Responsabilidade Social da GM

"Queremos que as mulheres vejam que têm chance e que os homens não tenham problema em ver isso e que exista, de fato, equidade entre os gêneros"

Neste cenário, a GM é a primeira a ter uma mulher a liderar uma montadora no mundo, na figura de sua presidente-executiva global, Mary Barra, que assumiu o cargo em 2014. E mesmo no Brasil, duas mulheres já assumiram o comando da montadora por aqui: Denise Johnson, de 2010 a 2011, e Grace Liblein, nos anos de 2011 e 2012.

“O setor automotivo está em uma fase de grande maturação. A aceitação de mulheres nesta indústria é muito maior, por conta da quantidade de mulheres que tem entrado. Queremos que elas vejam que têm chance e que os homens não tenham problema em ver isso e que exista, de fato, equidade entre os gêneros”, observa Marina.

NO ESPÍRITO SANTO, PIONEIRISMO E DETERMINAÇÃO

Quando se fala em pioneirismo no mundo automotivo, um dos nomes mais lembrados é o da capixaba Rosa Schorling, primeira mulher a obter carteira de habilitação no Brasil, em 1932, com ainda 12 anos de idade. Ela acumulou uma série de façanhas fora dos automóveis também, como sendo a primeira mulher paraquedista do país e ainda pilotava aviões desde os 19 anos.

Isso mostra muito da determinação das capixabas, que hoje estão em diversas frentes no setor automotivo, como é o exemplo de Silvana Barbosa Milagre Rocha, que saiu do ramo da moda para entrar no mundo dos reparos automotivos, quando decidiu, com o marido, vender a loja de roupas e apostar na Play Motos, uma oficina de motocicletas.

Silvana Barbosa Milagre Rocha, proprietária da Play Motos
Silvana Barbosa Milagre Rocha: “Hoje, somos uma oficina bem conceituada e indicada”. Crédito: Play Motos/Divulgação

“Na época, eu viajava muito e minhas filhas eram pequenas. Eu e meu marido sempre gostamos de motos e decidimos fechar a loja e abrir uma oficina. Tive de aprender tudo do zero e fomos pioneiros na região. Hoje, somos uma oficina bem conceituada e indicada em toda a região de Viana”, destaca.

Atualmente com quatro funcionários, Silvana conta que sempre teve o apoio do marido e apesar de ficar no gerenciamento da oficina, se precisar ela também coloca a mão na massa. “Aprendi tudo sobre o funcionamento da máquina e até troco óleo, se for necessário. As minhas filhas também entendem do assunto e sabem tudo da área”, acrescenta.

Outra capixaba que também está à frente de uma oficina no Estado é Kennya Comper, proprietária da Comper Veículos, que trabalha com estética de veículos e reparação automotiva. Tudo começou quando um amigo fez um convite para que ela assumisse o serviço de secretária em um lava-jato.

“Depois de um tempo, ele saiu e eu fiquei com o negócio. Aprendi tudo sobre a área e na época em que um serviço grande surgiu, duvidaram que eu conseguiria dar conta, por ser mulher. Não só peguei o desafio, como um mês depois, estava fazendo todo o serviço dessa empresa no Estado”, lembra.

Kennya Comper, proprietária da Comper Estética de Veículos
Kennya Comper: “A presença de mulheres na área tem crescido e nós prestamos muito mais atenção a detalhes”. Crédito: Comper/Divulgação

Mesmo encontrando resistência no início por ser mulher, Kennya não desistiu e com o negócio crescendo, aumentou seu atendimento para lanternagem e pintura. Ela conta que ainda existem clientes que duvidam de sua capacidade, mas a maioria, hoje, a respeita.

“A presença de mulheres na área tem crescido e nós prestamos muito mais atenção a detalhes, principalmente em serviços como o de estética automotiva. Ainda há machismo, mas o respeito dos homens tem aumentado e eles prestam atenção ao que dizemos quando há confiança no nosso serviço”, finaliza Kennya.

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