Publicado em 12 de agosto de 2023 às 10:00
Imagine que chega uma nuvem de mosquitos na sua casa e você faz o que é preciso para acabar com essa "ameaça". >
Você pega um inseticida, borrifa e os mosquitos morrem ou vão embora. Ou seja, o inseticida cumpriu sua função. >
Agora, imagine que você continua borrifando sem parar. Chegará um momento em que algo que foi benéfico se voltará contra você.>
Isso pode acontecer com as inflamações.>
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Quando surge uma infecção, um machucado ou algo tóxico, a inflamação vem como uma resposta do seu corpo para lutar contra esses males.>
Nesse processo, o corpo libera substâncias químicas como anticorpos e aumenta o fluxo sanguíneo para a área danificada, o que desencadeia uma resposta do sistema imunológico.>
É o que acontece quando nos cortamos, por exemplo. A área afetada fica imediatamente inflamada, vermelha e dolorida, e gradualmente o tecido é substituído, até cicatrizar.>
Uma resposta rápida é um exemplo de boa inflamação.>
Mas, como na analogia do inseticida, a resposta excessiva do sistema imunológico pode ser prejudicial.>
Quando a ameaça parar, a inflamação também deve parar.>
Mas pode acontecer que nosso sistema imunológico continue em alerta e, portanto, continue reagindo ao que considera estranho. É como se permanecesse detectando a presença de um intruso que não está mais lá.>
"O sistema imunológico continua trabalhando contra esse tecido. Pode acontecer, por exemplo, com os antígenos do coração na miocardite. Assim, a resposta inflamatória passa a ser não mais aguda, mas crônica", explica a médica Diana Alecsandru, diretora de imunologia e infertilidade do Instituto de Infertilidade, na Espanha.>
A inflamação crônica prolongada é perigosa porque altera muitos processos do corpo.>
Isso mesmo que ela seja uma inflamação crônica de baixo grau, mas constante — ou seja, uma inflamação lenta e pouco grave. >
A inflamação crônica descontrola "todas as funções do organismo e desencadeia todo tipo de doenças, como câncer, alergias, asma e condições autoimunes", diz o médico Mario López Hoyos, presidente da Sociedade Espanhola de Imunologia. >
Os especialistas citam ainda problemas especificamente de saúde reprodutiva, como falhas na implantação do embrião e abortos. >
Em 2018, a revista Nature publicou um estudo mostrando que mais de 50% de todas as mortes no mundo são atribuíveis a doenças relacionadas a inflamações: cardiopatias isquêmicas, acidentes vasculares cerebrais, câncer, diabetes, doenças autoimunes e neurodegenerativas, entre outras.>
A inflamação pode persistir porque uma infecção ou machucado não cicatrizou bem, por exemplo.>
Outro caso é o dos distúrbios autoimunes, em que o sistema de defesa ataca por engano o tecido saudável ou o organismo em geral.>
A inflamação crônica também pode ser causada pela exposição prolongada ao ar poluído ou a produtos químicos.>
Precisamos lembrar também das mudanças no estilo de vida nos últimos 50 anos.>
"Nossa microbiota (microrganismos do sistema digestivo) vem mudando para pior com a industrialização. Comemos mais alimentos industrializados, mais coisas que fazem mal à saúde. E esse equilíbrio entre bactérias boas e oportunistas é quebrado", diz Alecsandru.>
Também não ajudam em nada o estresse, sono de má qualidade, o fumo, a ingestão de álcool, má alimentação rica em gorduras, pouca exposição ao sol e baixa vitamina D.>
López Hoyos aponta que toda inflamação, de acordo com parâmetros médicos clássicos, é detectada de quatro maneiras: dor, tumor (no sentido de inchaço), rubor e perda de função.>
Pensemos, por exemplo, em um corte na mão: vai doer, a área vai inchar, vai ficar vermelha e, se o caso for sério, podemos perder a mobilidade.>
Essa sequência acontece, em geral, em todos os órgãos que ficam inflamados. Mas não é tão fácil perceber uma inflamação crônica de baixo grau, muito menos diagnosticá-la.>
"Existem marcadores que dão pistas, mas é preciso encontrar de onde vem [a inflamação] e o que está gerando isso", diz Alecsandru.>
A médica acrescenta que os sintomas de inflamação crônica de baixo grau às vezes são tão comuns que ficam camuflados, como fadiga, fraqueza, infecções recorrentes e resfriados constantes.>
Outro sinal da inflamação crônica é quando aparecem problemas de pele recorrentes, como eczema e psoríase. >
"A pele é nosso maior órgão, há muitas células imunológicas sob a pele e esse é o primeiro indicador que vem à tona", explica Alecsandru, que também aponta para a qualidade dos cabelos e unhas. >
Há também sintomas do sistema digestivo, como feridas na boca, digestão pesada, flatulência e abdômen inchado.>
A médica diz também que as infecções por fungos são um indicador-chave. >
"É um excelente indicador de inflamação crônica, de que estamos inflamados até o último fio de cabelo. É o marcador de desequilíbrio da nossa flora e perda de imunidade na mucosa.">
Mas, sem dúvida, afirma Alecsandru, as infecções recorrentes são o indicador mais claro de que há uma inflamação crônica.>
"O sistema imunológico trabalha para curar, mas se não fizer nada além disso, fica cansado e não funciona tão bem. Assim, temos mais otites, mais amigdalites, mais infecções urinárias ou genitais.">
Se você desconfia que o que está causando a inflamação crônica são hábitos de vida pouco saudáveis, uma primeira forma de afastá-la é mudá-los.>
Mas se você já tem uma inflamação crônica, existe uma maneira de combatê-la?>
Lopez Hoyos afirma que quanto antes agir, melhor. >
"Se já começou [a inflamação crônica], é um problema, porque o fogo já está se alastrando e o terreno está queimado. Quanto mais cedo reverter isso, melhor", diz o médico, destacando que a primeira coisa a se fazer, quase sempre, é perder peso e melhorar os hábitos de vida.>
Usando a analogia do especialista, se o incêndio já começou, o ideal é procurar um médico o quanto antes. Nutricionistas também podem auxiliar no processo com melhorias na alimentação e na nossa microbiota. >
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