Publicado em 26 de abril de 2024 às 11:09
Não é praxe associar a cultura caipira às reviravoltas da tecnologia. Vejam a pintura "Caipira Picando Fumo", talvez a mais famosa entre as representações da vida pacata no campo. Parece haver um abismo entre a tranquilidade daquele trabalhador rural criado por Almeida Júnior (1850-1899) e o ritmo célere das transformações digitais.>
O apresentador Marcelo Tas mostra que esses universos simbólicos, inconciliáveis à primeira vista, podem conversar muito bem. Esse é um dos principais aspectos do recém-lançado "Hackeando sua Carreira - Como Ser Relevante num Mundo em Constante Transformação", livro em que ele reflete sobre novas ferramentas de comunicação e seus efeitos sobre a vida profissional.>
"Para encarar os desafios da revolução digital, fui beneficiado com um detalhe extra no meu currículo: a infância caipira na roça", escreve Tas no início de um dos capítulos.>
Aliás, não são exatamente capítulos. A publicação é dividida em introdução, 11 gomos e final. Gomos como os de uma mexerica, "que podem ser saboreados individualmente, na sequência que desejar".>
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Marcelo Tristão Athayde de Souza o Tas surgiu da junção das iniciais dos sobrenomes nasceu em 1959 na pequena cidade de Ituverava, no interior paulista, a pouco mais de 100 km de Ribeirão Preto. Seus pais trabalhavam como professores, mas boa parte da família era formada por agricultores àquela altura.>
Episódios curiosos e aprendizados extraídos da convivência com os avós e com amigos que sabem tudo sobre lavouras e pomares conduzem alguns trechos de "Hackeando sua Carreira".>
Tas aborda, por exemplo, momentos da trajetória profissional em que enfrentamos situações desconhecidas. O caipira, diz ele, "finge não saber das coisas, inclusive das que sabe com profundeza. É uma estratégia sofisticada".>
Explora também o conceito de poda, uma lição aprendida com Antonio Galo, o Tóim, que produz pêssegos e outras frutas na Serra da Mantiqueira.>
"A poda não é um ataque ao desenvolvimento da planta. Ao contrário, é uma retirada estratégica de galhos que sugam energia sem produzir nada. É uma renovação do sistema. Podar não é dizer não para a planta; é dizer 'sim'", escreve.>
O conceito se aplica tanto aos pessegueiros quanto aos haters. E, nesse caso, podar não significa bloquear nem responder com raiva.>
À Folha de S.Paulo Tas volta ao tema: "Use muito bem uma ideia, tire dela o melhor possível, o melhor resultado, e depois a corte. Corte para que você possa crescer em outras dimensões".>
A base do livro é, sobretudo, a carreira do apresentador, feita de cortes e renovações. Nos anos 1980, houve o sucesso de Ernesto Varela, o "repórter de ficção que entrevista pessoas de verdade". Na década de 1990, o Professor Tibúrcio, do programa Rá-Tim-Bum, e Telekid, do Castelo Rá-Tim-Bum, ambos na TV Cultura. No fim dos anos 2000, o CQC, telejornal humorístico da Band. Em seguida, Papo de Segunda, no GNT.>
Essas se somam a outras tantas atrações apresentadas e roteirizadas por ele, além de trabalhos para outros meios, como a direção de uma ópera e a criação de games interativos para museus. Atualmente, Tas conduz o Provoca, também na Cultura.>
Essa trajetória cheia de curvas encontra uma síntese na epígrafe, um comentário de Steve Jobs - as inspirações para o livro são as mais variadas, do caipira do interior paulista ao fundador da Apple, do diretor de teatro Antunes Filho ao psicólogo e economista Daniel Kahneman.>
"Muitas pessoas da nossa indústria não tiveram uma vida com experiências diversas. Então elas não têm pontos a ligar. Acabam trazendo soluções lineares, sem uma perspectiva ampla do problema", escreveu Jobs, citado por Tas.>
No começo da pesquisa para o livro, ele imaginava uma publicação voltada para um público jovem, em fase de estudos ou início de carreira. Mais adiante, porém, o autor se deu conta de que poderia dialogar com outras faixas etárias. "Hoje em dia, temos a tarefa de atualizar a nossa carreira o tempo todo.">
Outro objetivo dos primórdios do projeto, esse seguido à risca, era evitar um livro que enfileirasse conselhos. Tas prefere encadear histórias vividas por ele, episódios da evolução da tecnologia (especialmente nas telecomunicações), reflexões e, em muitos momentos, boas perguntas - como fazia Ernesto Varela.>
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