Publicado em 30 de outubro de 2025 às 08:53
Quem vê os telejornais da Globo vai se deparar com rostos novos e outros nem tanto nos programas desta sexta-feira. Com a saída de William Bonner do Jornal Nacional, anunciada no mês passado, o canal dá início à dança das cadeiras entre os âncoras dos seus principais jornalísticos.>
As mudanças começam no Hora 1, o primeiro jornal do dia, exibido bem cedo, às 4h. Apresentado por Roberto Kovalick há seis anos, o programa será entregue agora ao jornalista Tiago Scheuer, que passa a a comandar a atração na sexta.>
Kovalick, por sua vez, vai começar a acordar mais tarde. Ele será o novo apresentador do Jornal Hoje, que passa na TV logo depois da hora do almoço, por volta de 13h25. Sai da bancada César Tralli, que, promovido, vai tomar o lugar de Bonner no Jornal Nacional. Essa última passagem de bastão, a mais simbólica das três, acontece na sexta, e Tralli assume o telejornal do horário nobre na próxima segunda.>
O remelexo na programação da Globo, que por 29 anos manteve Bonner à frente do símbolo máximo de seu jornalismo, deve causar um misto de estranhamento e curiosidade nos telespectadores. Afinal, para além do "boa noite" que Bonner deixa de dar todos os dias, mudam também os "bons dias" e "boas tardes" de costume.>
>
As alterações devem respingar no caráter de cada programa. Nas mãos de Tralli há quatro anos, o Jornal Hoje, por exemplo, ganhou uma abordagem mais opinativa em relação ao passado -o programa, nascido em 1971, já foi apresentado por Sandra Annenberg, Léo Batista e Pedro Bial.>
Tralli ficou célebre pelos comentários críticos, cobrando atenção das autoridades --numa espécie de versão nacional do que já fazia no SPTV.>
Kovalick diz que não vai emular o colega, mas que sabe da importância de se colar ao público. Boa parte da audiência do Jornal Hoje é formada por donas e donos de casa, geralmente pessoas mais velhas que não trabalham e têm tempo livre à tarde. "Na hora de apresentar, imagino que estou à mesa do almoço com aquelas pessoas para contar novidades", diz Kovalick, que tem um perfil mais sóbrio e técnico do que Tralli.>
"Carisma é uma coisa que a gente não controla, mas é preciso ser espontâneo. As pessoas têm que nos reconhecer como pessoas que sofrem e percebem a dor alheia.">
Aos 56 anos, Kovalick recebe agora seu maior cargo na Globo, mas, de certa forma, terá de volta um gostinho daquilo que fazia no começo da carreira. É que sem o peso de ter de comandar os bastidores do jornal -além de âncora, ele era editor-chefe do Hora 1--, Kovalick terá agora tempo para exercer as funções de um repórter.>
Quando não estiver à frente das câmeras, então, o jornalista vai sacar o celular para fazer ligações aos contatos valiosos que ele acumulou ao longo dos mais de 30 anos na Globo -"pretendo trazer informações que eu sou capaz de apurar porque as pessoas gostam de falar com quem aparece na televisão". No canal, Kovalick já foi correspondente em Tóquio, em Londres, e depois, no Brasil, virou repórter especial do Fantástico e do Jornal Nacional.>
Tiago Scheuer, que assume o Hora 1, pegou dicas com Kovalick para se adaptar à rotina de dormir à tarde, embora ele próprio já tenha sido repórter da madrugada na Globo. O catarinense de 42 anos, que hoje trabalha no Bom Dia São Paulo, às 6h, vai agora entrar no ar duas horas mais cedo.>
Scheuer chamou a atenção da alta cúpula da emissora por usar um tom leve e didático para apresentar a previsão do tempo no jornal local de Santa Catarina. Em 2011 foi levado à equipe paulistana da emissora, para fazer também a previsão do tempo, além de reportagens, no próprio Hora 1, criado em 2014.>
Para além da TV, Scheuer usou as redes sociais para ampliar sua popularidade. Com quase 500 mil seguidores no Instagram, mais que o dobro de Kovalick, ele mostra bastidores dos jornais com vídeos engraçadinhos, ensina receitas de sobremesas e publica fotos das suas muitas viagens.>
"As pessoas adoram descobrir como se faz o trabalho que veem pronto na TV. É importante se manter 'cronicamente online'", ele diz, citando um bordão criado na internet. "Assim você se conecta com o público também na tela que está nas mãos.">
A promoção de Scheuer, Kovalick e Tralli culminam neste que é um momento histórico para o jornalismo da Globo. Bonner não sai completamente de cena -ele vai apresentar o Globo Repórter com Sandra Annenberg às sextas-feiras.>
É tempo de renovação, mas nem tanto, diz Kovalick. "Tenho 35 anos de jornalismo. Quando comecei, me diziam que estávamos vivendo um momento de transformação. Mas a gente ainda vive isso. O jornalismo profissional ainda é, e deve continuar sendo, um farol no meio da neblina.">
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta