Publicado em 15 de dezembro de 2023 às 13:12
Sexta-feira, 13 de outubro de 1972. Um avião da força aérea uruguaia, fretado para levar 45 pessoas, entre passageiros e tripulação, de Montevidéu, no Uruguai, para Santiago, no Chile, desapareceu na cordilheira dos Andes —a cadeia de montanhas de 8.000 quilômetros, que se estende da Venezuela até a Patagônia. >
A bordo estava o time de rúgbi uruguaio Old Christians, selecionado para disputar uma partida contra um time chileno. O Old Christians é, até hoje, o time de rúgbi mais vencedor no país, e o esporte, criado na Inglaterra em meados do século 19, é um dos que mais atraem a atenção dos uruguaios.>
Formado por atletas muito jovens, de 18 a 24 anos, o time de 1972 viajou acompanhado de amigos, familiares e o técnico, o treinador, um médico, um enfermeiro. Além do piloto, do copiloto e de três comissários de bordo.>
Era primavera, mas como as duas cidades estão bem ao sul do nosso continente, separadas apenas pela Argentina, e Santiago fica em um vale circundado de montanhas cobertas de neve o ano inteiro, os Andes não tinham como ser evitados.>
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E a aviação era bem mais precária 50 anos atrás. O fato é que o Força Aérea Uruguaia 571 se despedaçou quando estava quase chegando ao seu destino e caiu entre duas montanhas na Argentina. O avião, todo branco, foi coberto de neve antes mesmo que o sumiço dos passageiros fosse notado e ficou praticamente invisível naquela imensidão branca.>
Doze pessoas morreram na hora. Outros cinco não sobreviveram à primeira noite. E uma vítima morreu depois de oito dias. Dos 45 que embarcaram, 27 lutaram pela sobrevivência. Mas apenas 16 foram encontrados vivos depois de mais de dois meses perdidos na neve.>
As buscas pelo avião desaparecido, feitas pelas forças aéreas uruguaias, chilenas e argentinas, foram canceladas depois de oito dias por causa das más condições meteorológicas e porque, até então, nenhum avião que havia caído nos Andes teve sobreviventes.>
Essa notícia foi uma das poucas que os passageiros ainda vivos do voo de 1972 conseguiram ouvir por um rádio transmissor. A partir de então, além do medo, do frio e da fome, a falta de esperança adicionou uma camada extra de desespero nos 27 uruguaios perdidos no meio do nada.>
Essa história dramática, triste, cheia de aventura e daquela coisa que anda na moda chamada resiliência, ou seja, o contrário de se deixar levar pelas circunstâncias, o que, nesse caso, significaria morrer, já foi contada muitas vezes antes.>
Há filmes, livros, documentários e inúmeras reportagens sobre o caso. Recentemente, a série americana "Yellowjackets", que estreou em 2021 e tem Juliette Lewis e Christina Ricci no elenco, fez uma adaptação da história, com um time de futebol feminino e americano no lugar do time de rúgbi uruguaio.>
O que torna este longa-metragem de agora, produzido pela Netflix e dirigido pelo espanhol Juan Antonio Bayona, especial são as cenas de ação realistas e espetaculares, além da tensão mantida por todos os longos 144 minutos de duração. Não é para os de estômago fraco, fica o aviso.>
Fora isso, o foco da história não é mantido apenas nos personagens que conseguiram superar todos os infinitos obstáculos para sair vivos daquele horror. A trama tem trechos narrados por um personagem interessante, Numa, um garoto introvertido que é convencido por um amigo daqueles gregários, que insistem na companhia dos mais tímidos, a embarcar nessa aventura.>
Numa é dos que mais resistem à pior decisão dessa história, e a mais conhecida, de comer a carne dos companheiros mortos, preservada pela neve. Quando já tinham apelado para ingerir cigarros e cadarços e ficou evidente que a única chance de sair dali vivos seria cometer canibalismo, alguns parecem preferir a morte, uma entre eles.>
O espanhol Juan Antonio Bayona, de 48 anos, está se firmando como um dos diretores de sequências de ação e tensão mais consistentes do cinema atual. Revelado no longa-metragem "O Impossível", de 2012, que dramatizava o tsunami que arrasou a costa da Tailândia no Réveillon de 2004, com Naomi Watts e Ewan McGregor no elenco, tem mostrado que alterna momentos de terror e delicadeza com mão leve.>
Foi ele quem dirigiu o último filme da franquia "Jurassic World", de 2018, além de dois episódios da série "Os Anéis de Poder", spin-off da franquia "O Senhor dos Anéis". Os fãs de terror também vão reconhecer o nome de Bayona nos créditos de "O Orfanato", de 2007.>
Mas nenhum outro nome é conhecido, os atores são todos uruguaios e argentinos e nenhum ainda é famoso, o que é um alívio em filmes dessa natureza. Se, no meio de um elenco desconhecido aparece uma pessoa famosa, é um spoiler imediato. Mesmo neste filme, que tem um desfecho mil vezes mais notório do que o resto da trama.>
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