Brasil fica de fora do Oscar 2023. Por que ele nunca entra na disputa?

A última vez em que esteve entre os semifinalistas na categoria foi na 80ª edição, que aconteceu em 2008

Cena do filme Marte Um, de Gabriel Martins

Cena do filme Marte Um, de Gabriel Martins. Crédito: Filmes de Plástico

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou suas listas de semifinalistas para algumas categorias da sua 95ª edição, incluindo produção internacional, e o Brasil – de novo – ficou de fora. Mas por que isso acontece?

O Brasil nunca ganhou um Oscar de produção internacional – nem qualquer outro. A última vez em que esteve entre os semifinalistas na categoria foi na 80ª edição, que aconteceu em 2008, com O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger. Antes disso, concorreu com O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, na 35ª edição, com cerimônia realizada em 1963, e O Quatrilho, de Fábio Barreto, na 68ª, em 1996, O Que É Isso, Companheiro?, de Bruno Barreto, na 70ª, em 1998, e Central do Brasil, de Walter Salles, na 71ª, em 1999.

Nosso candidato para a 95ª edição, cuja cerimônia acontece em 12 de março de 2023, era Marte Um, de Gabriel Martins. Algumas mudanças foram feitas na escolha do nosso representante desta vez. O comitê de seleção foi ampliado, foi criada uma lista de semifinalistas, ou pré-lista, e o processo todo foi antecipado, para dar mais tempo de campanha para o candidato brasileiro.

Um dos problemas na escolha brasileira era um apego a ideias ultrapassadas na categoria, como um certo tipo de filme ou temática que seriam privilegiados pela Academia, quando, na verdade, o critério principal tem sido a participação do longa-metragem em um dos festivais internacionais de maior prestígio, como Cannes, Veneza e Berlim.

O sistema de votação para a pré-lista era assim: um comitê assistia aos filmes indicados pelos países, que são cerca de 90, para escolher os 15 semifinalistas. Só que não havia obrigatoriedade de ver todos. Ou seja, a chance de longas-metragens que já vinham chancelados por festivais de prestígio, especialmente em competições, era muito maior. Depois disso, um outro comitê assistia aos 15 semifinalistas para escolher os cinco indicados. E daí só os membros da Academia que tinham visto todos podiam votar no Oscar de filme estrangeiro.

Mas, para a edição do ano que vem, segundo o site The Wrap, houve mudanças na divisão de trabalho do comitê preliminar, agora separado em 11 grupos, com cada um deles exigindo que seus integrantes assistam a todos os 8 ou 9 filmes de seu grupo. Antes, havia um número mínimo de filmes, mas não era obrigatório ver todos do seu grupo. E agora, em vez de dar notas para cada um dos filmes vistos, os votantes na categoria podem simplesmente colocar seus 15 favoritos. Havia temores de que isso poderia prejudicar ainda mais as produções menores, de países com menos recursos ou menos investimentos, como é o caso do Brasil. Mas não mudou muita coisa: a grande maioria continua sendo de filmes exibidos em Cannes, Veneza e Berlim.

DIFICULDADES

Marte Um também tinha outras coisas contra. O filme passou em Sundance e foi bem recebido, mas, para produções internacionais, o festival não tem tanta força quanto Cannes ou Veneza. Para piorar, o longa-metragem só conseguiu distribuição americana, da Array de Ava DuVernay, no último dia 2. Enquanto isso, Decisão de Partir, de Park Chan-wook, por exemplo, foi lançado em outubro nos Estados Unidos, isso depois de ganhar o prêmio de direção em Cannes. E Chan-wook é um cineasta bem conhecido em Hollywood, tendo filmado, inclusive, com Nicole Kidman. Também ganhou diversos prêmios de associações de críticos.

Para piorar, dos 74 prêmios oferecidos pela Academia especificamente a filmes estrangeiros desde 1947, 57 foram para europeus, nove para asiáticos, cinco para americanos (incluindo o Canadá) e três para africanos. Nos festivais de mais prestígio, os latino-americanos também costumam ter pouco espaço, especialmente na competição. Em 2022, nenhum latino-americano concorreu à Palma de Ouro em Cannes. Em Berlim, muito mais aberto à América Latina, foi apenas um, a coprodução México-Argentina-EUA Manto de Joias, de Natalia López Gallardo. Em Veneza, foram dois: o mexicano Bardo, de Alejandro González Iñárritu, e Argentina, 1985, de Santiago Mitre. Não por acaso, os dois são os únicos das Américas a entrar na pré-lista, que tem oito europeus, quatro asiáticos e um africano.

A crise no audiovisual brasileiro, que chegou a produzir mais de cem filmes anualmente, mas que foi quase paralisado nos últimos anos, também deixa o Brasil cada vez mais longe de um Oscar na categoria. A verdade é que o Brasil precisa de muitas coisas para chegar lá: mais produções, com mais dinheiro, um trabalho sério de divulgação do cinema brasileiro fora do país, inclusive nos festivais, ajuda para a campanha, como têm os candidatos de outros países.

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