"As Marvels" diverte entre ação intergaláctica e humor escrachado, mas estúdio repete erros

Filme entretém e ganha pontos pelas boas cenas de aventura, mas volta a martelar em problemas dos quais o estúdio não sabe mais como fugir e expõe inconsistências do universo compartilhado

Cena do filme

Cena do filme "As Marvels", em cartaz nos cinemas do Estado. Crédito: Marvel/Disney

"As Marvels" é um filme que chega cheio de desconfianças aos cinemas nesta quinta, 9. Não só a Marvel Studios está passando por um momento turbulento em seu voo pelo universo compartilhado, como também o filme em si é alvo da descrença de parte dos espectadores. Alguns destilam apenas machismo, enquanto outros só dizem não gostar da personagem da Capitã Marvel e de sua intérprete, a oscarizada Brie Larson.

O fato é que a diretora Nia DaCosta (do excelente remake A Lenda de Candyman) comanda um roteiro que escapa de vários problemas do filme anterior, Capitã Marvel, de 2019. Para começar, dilui a presença de Larson (alvo de ataques sobre sua atuação desde que foi escalada) com um grupo. Agora, ela não está mais sozinha, mas dividindo espaço e cenas com a simpática Ms. Marvel (Iman Vellani) e Monica Rambeau (Teyonah Parris).

Elas, juntas e sem muita explicação sobre como se uniram, precisam combater mais uma ameaça Kree. Desta vez, Dar-Benn (Zawe Ashton), essa alienígena que quer sugar a energia vital de outros mundos para fazer com que seu planeta consiga enfim sobreviver.

ERROS E ACERTOS

É uma trama batida, um tanto sem graça, que volta a falar de uma vilã que quer destruir tudo que vê pela frente. É o típico problema da Marvel que se arrasta desde Homem de Ferro, de 2009: quase nenhum vilão das histórias do estúdio se salva. A maioria não tem a humanidade necessária para comprarmos a ideia. Escapa só Thanos e Killmonger, este último de Pantera Negra. As Marvels, assim, não escapa dessa maldição coletiva.

Mas é absolutamente injusto, por outro lado, falar que esse novo filme é um exemplo de como o Universo Cinematográfico Marvel vai mal – geralmente citando, junto, Thor: Amor e Trovão e Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania. Enquanto esses outros dois longas nadam em um mar de bobeira, As Marvels — ciente da má vontade de boa parte do público já acostumado com os filmes do estúdio — segue por um caminho mais leve e descontraído.

Assim, no conjunto final, várias coisas deixam o filme agradável. Para começar, a química entre Larson, Vellani e Parris é o grande atrativo da produção. Elas funcionam bem em conjunto e quase nunca saem de sintonia. Você pode até não torcer individualmente para cada uma delas, mas torce pelo coletivo, com cada uma delas mostrando personalidades bem distintas, mas que trazem coesão para o todo quando juntas. Dá vontade de ver mais.

Além disso, DaCosta filma as cenas de ação maravilhosamente bem. Ainda que tenha problemas evidentes de efeitos especiais, algo com que a Marvel Studios já está penando desde Viúva Negra, a diretora conta com uma fluidez de câmera que deixa essas sequências mais empolgantes — salvas também pelas boas coreografias. Uma sacada de fazer com que as personagens se alterem no espaço-tempo faz, também, com que o filme fique mais leve.

A MÃO DO PRODUTOR

Há uma sensação generalizada de que a Marvel Studios mexeu muito na história — o filme não se decide tão bem entre a aventura intergaláctica e o humor escrachado, beirando, às vezes, ao que Taika Waititi fez com Thor. Além disso, há boas cenas de drama soterradas aqui, principalmente falando sobre luto, solidão e perdas. Parece que alguém quis seguir com um filme mais maduro, mas outra pessoa insistiu em seguir a manada. E ficou assim.

Isso mostra, mais uma vez, como o futuro do estúdio da Disney está cada vez mais sombrio. As Marvels é bom, entre erros e acertos, mas poderia ser melhor. Poderia ser muito bom. A ousadia surge escondida aqui e acolá, mas é interrompida por piadinhas, tiradas e caretas, além de cenas envolvendo aliens cantores que causam constrangimento.

É como se uma Dar-Benn estivesse rondando as mesas de roteiristas, tirando tudo que há de bom e levando para outro lugar — não sei onde, já que a concorrente DC também não vai tão bem. As histórias se repetem, são cada vez mais excessivas e, para piorar, quase não há mais ligação entre os eventos que assistimos nas telonas e, principalmente, nas telinhas.

Fica a sensação de que cada pessoa envolvida na produção quis seguir por um caminho, puxando o filme para várias possibilidades diferentes. O final é uma colagem disso tudo, arriscando abraçar um público mais jovem, principalmente pela presença de Ms. Marvel.

A trama aponta para dois caminhos no futuro da saga: um olhando para frente, com personagens e atores mais jovens; e outros olhando para o passado, tentando ressuscitar a empolgação do público com aparições de personagens que já causam nostalgia. Infelizmente, conforme as coisas vão mal com essas novas escalações, fica a sensação de que esse segundo caminho será trilhado com cada vez mais certeza.

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