• Aquiles Reis

    Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

Vinícius Cantuária e Zeca Baleiro compartilham melodias em "Naus"

Publicado em 03/08/2022 às 14h20
Vinícius Cantuária e Zeca Baleiro

Vinícius Cantuária e Zeca Baleiro. Crédito: Simone Kontraluz / Divulgação

Hoje trataremos de "Naus" (selo Sonastério + Saravá Discos), álbum recém-chegado às plataformas digitais, reunindo sugestivamente os compositores Vinícius Cantuária e Zeca Baleiro. No disco, estão registradas onze parcerias da dupla, onde, com cumplicidade e delicadeza, eles compartilham melodias, versos, vocais e instrumentos diversos com convidados especiais.

A tampa abre com “Relento”. Cantuária inicia o canto com o violão: “Viajante solitário na curva do tempo/ Vago na noite ao relento e caminho a esmo/ Sem destino, sem projeto e sem documento (...)”.

Logo Baleiro assume o solo. A solidão impregna o canto. Um assobio soa como num filme de bangue-bangue, no qual o mocinho cavalga na campina, enquanto a levada clarifica a intenção dos versos. (VC: violão, guitarra, percussão e palmas; ZB: baixo, acordeom, piano wurlitzer, assovio e palmas.)

“Sol da Beleza” vem com percussão. ZB sola. Na sequência da puxada, VC se achega para 3as. As palmas pontuam os versos. (VC: violão, piano, percussão e palmas; ZB: percussão e palmas; mais as participações de Dadi: baixo e Rogério Delayon: guitarras e violão pizzicato.)

“Naus” é uma canção iniciada por VC demonstrando belos graves: “Não sei de onde vem/ O amor que tem no meu sonho (...)”. A delicadeza prossegue na voz de ZB. Juntos, caminham como se por sobre nuvens brotadas da sonoridade do piano. Também com belos graves, ZB sola, e VC vem e se ajunta ao som para acalentá-lo e adormecê-lo e fazê-lo sonhar. As vozes puxam o final. (VC: violão, guitarra e percussão; ZB: guitarra; participação de Ryuichi Sakamoto: piano.)

Em “Carona”, ZB inicia o causo: “Ganhei coragem/ Perdi dinheiro/ Peguei carona/ Com um boiadeiro (...)”. VC se aproxima em 3as, logo sola para logo voltar ao duo vocal. A moda flui que é uma beleza. A percussão suinga. Alternando o canto em duo com solos, a prosa rola.

A intenção do canto dos menestréis do presente é manter a delicadeza explicita em suas vozes – o que fazem com mestria. As 3as.voltam em aflitivo lamento. Fim. (VC: violão, percussão de boca e percussão; ZB: requinto e violão. participação de Cosme Vieira: acordeom.)

“Flores de Invierno” es una bela canción con versos en español. (VC: violão e percussão; ZB: violão solo; participação de Walter Costa: sampler.)

Em “O Dia em que Jeremias Vaqueiro Viu o Mar pela Primeira Vez”, o violão traz a nordestinidade. (VC: violão e percussão; ZB: baixo; participação de Flavio Venturini: órgão).

Fechando a tampa, “Retirada” tem linda melodia. A simplicidade vocal aguça a delicadeza do que sai da garganta dos menestréis. Enquanto sobe a luz que ilumina a imagem, ouvem-se efeitos das vozes à distância: “(...) Noite virá/ Luzes se apagarão/ Anjos do céu/ Nunca virão”. (VC: violão, guitarra e percussão; ZB: percussão de boca.)

Fato: Naus revela a liberdade do canto que vem da mente de Vinícius Cantuária e Zeca Baleiro. Traz o que lhes diz à alma. O que os emociona. E a certeza de que a música os redimirá.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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