Redes Sociais

Projeto em unidade socioeducativa do ES transforma vidas por meio da leitura

Visita da escritora Djamila Ribeiro inspira socioeducandas a refletirem sobre feminismo, coragem e empoderamento

Publicado em 22 de setembro de 2025 às 12:00

O projeto da roda literária foi criado em 2023, desde então é o laço de união entre as meninas e o corpo docente da instituição

Danilo Muniz

Do lado de dentro dos muros da Unidade Feminina de Internação (UFI), do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (IASES), em Cariacica, a leitura tem sido mais que um hábito: tornou-se espaço de encontro, reflexão e transformação.

Criada em 2023, a roda literária nasceu como ponte entre as socioeducandas e o corpo docente. Os livros escolhidos são norteados por temas que provocam reflexão crítica e incentivam a construção de novos olhares sobre si e sobre o mundo. No início de setembro, o projeto ganhou um capítulo especial com a presença da filósofa e escritora Djamila Ribeiro, cujas obras já vinham sendo debatidas pelas meninas.

Representatividade e transformação

Durante a roda, as jovens compartilharam como os textos de Djamila — entre eles "Quem tem medo do feminismo negro?" e "Cartas para minha avó" — abriram portas para reflexões sobre feminismo, ativismo negro, empoderamento e representatividade.

Escritora Djamila Ribeiro em projeto de leitura na Unidade Feminina de Internação (UFI), em Cariacica
Escritora Djamila Ribeiro em projeto de leitura na Unidade Feminina de Internação (UFI), em Cariacica Crédito: Vitor Jubini

Para uma das socioeducandas, foi um momento de inspiração. 

Ela me inspirou a tomar o meu lugar de fala. Me ensinou a não ter medo do que as pessoas vão pensar e a ter vontade de me expressar

Para muitas, a experiência de ver a autora de perto foi como se as páginas ganhassem vida. “A oportunidade de olhar nos olhos de quem elas tanto liam e se viam refletidas foi um marco”, observa Frantieska Monteiro, diretora socioeducativa da unidade. Segundo ela, o projeto tem promovido uma mudança de mentalidade e ajudado as meninas a se enxergarem como protagonistas de suas próprias histórias.

O nascimento da roda literária

A iniciativa partiu de Mayra Barcelos, gerente da UFI. Ela percebeu que, apesar do acesso aos livros, as jovens liam de forma isolada, nos alojamentos. “Senti que faltava o momento coletivo, de partilha. Foi aí que escolhemos começar pela Djamila, por ser mulher, por ser negra, e por dialogar diretamente com a realidade delas”, lembra.

Projeto de leitura na Unidade Feminina de Internação (UFI), em Cariacica
Projeto de leitura na Unidade Feminina de Internação (UFI), em Cariacica Crédito: Vitor Jubini

O espaço físico também precisou mudar: a biblioteca, antes escura e sem ventilação, passou por reforma. Mas, para Mayra, o verdadeiro salto foi a criação de um ambiente de diálogo.

O olhar da autora

A presença de Djamila foi fruto de insistência e de conexão pelas redes sociais. Ao perceber a repercussão de suas obras dentro da UFI, a escritora decidiu vir pessoalmente conhecer o projeto.

“Quando a gente escreve a partir do lugar social de onde viemos, o que esperamos é isso: não falar para as pessoas, mas com elas”, disse a filósofa. Para ela, conhecimento e coragem são pilares que, juntos, abrem caminhos para a transformação.

Projeto de leitura na Unidade Feminina de Internação (UFI), em Cariacica por Vitor Jubini

Ao final do encontro, ficou o legado de que os livros podem ser chaves para novos horizontes. Como destacou Frantieska Monteiro, o impacto vai além da roda de conversa:

“Entre tantas possibilidades, está a de que essas meninas se tornem escritoras — e, acima de tudo, autoras da própria história.”

Este vídeo pode te interessar

  • Viu algum erro?
  • Fale com a redação