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Etnoempreendedorismo: a estratégia que mantém viva a tradição dos indígenas do ES

Diante do desmatamento e da poluição, indígenas de Aracruz encontraram uma forma de gerar renda, preservar cultura e fortalecer raízes

Publicado em 31 de agosto de 2025 às 07:00

Diante do desmatamento e da poluição, indígenas de Aracruz encontraram uma forma de gerar renda, preservar cultura e fortalecer raízes

Reconhecer tradições, valorizar saberes ancestrais e, ao mesmo tempo, garantir meios de subsistência. Esse é o caminho encontrado pelas comunidades indígenas do Espírito Santo por meio do etnoempreendedorismo, prática que une geração de renda, autonomia e preservação cultural.

De acordo com o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), o Estado abriga 16 localidades indígenas, com 13 delas situadas em terras indígenas oficialmente demarcadas. A maior concentração está em Aracruz, que reúne mais da metade da população indígena capixaba.

Diante do crescimento do desmatamento e da poluição, fatores que impossibilitam os povos originários de viverem apenas dos recursos da floresta, o empreendedorismo tornou-se essencial para a sobrevivência e fortalecimento cultural desses povos.

Aldeia Boa Esperança
Aldeia Boa Esperança Crédito: Ricardo Medeiros

Na Aldeia Boa Esperança, do povo Guarani, em Santa Cruz, Aracruz, o artesanato é hoje a principal fonte de renda. Mais do que peças, cada trabalho carrega simbolismos, técnicas tradicionais e histórias transmitidas entre gerações.

“Hoje, com a visibilidade que os povos indígenas vêm ganhando, nós estamos conseguindo vender mais o nosso artesanato. E não somente vender, mas também transmitir a importância do empreendedorismo indígena para todos, que vai além de uma ajuda. É uma forma de incentivar as pessoas a produzirem cada vez mais a sua arte sem precisar sair da aldeia para buscar um trabalho fora daqui, principalmente as mulheres, que têm mais dificuldades para encontrar emprego por conta da maternidade”, explica Ará Martins, representante Guarani.

Além da produção de artesanato, o turismo de experiência vem ganhando espaço como atividade complementar. Visitantes têm a chance de conhecer a história do povo Guarani, participar de atividades tradicionais e degustar a culinária indígena. Essa abertura fortalece a economia local e cria um espaço de troca cultural.

Aldeia Boa Esperança
Aldeia Boa Esperança Crédito: Ricardo Medeiros

Ará também coordena o projeto Nhãdeva Ekuéry, criado ainda na adolescência, que leva os saberes indígenas para além das fronteiras da aldeia. Sua atuação ganhou destaque em eventos como o ESX – Innovation Experience Espírito Santo, que reuniu milhares de pessoas em julho.

Foi muito importante ter aquele lugar de fala e poder mostrar um pouco sobre a nossa história e sobre como tudo funciona de fato. Por mais que hoje em dia nós tenhamos mais espaço, ainda é muito difícil das pessoas respeitarem a nossa cultura. É do conhecimento que nasce o respeito

Com o objetivo de fortalecer a inserção das comunidades indígenas do Espírito Santo no universo do empreendedorismo e, ao mesmo tempo, valorizar suas tradições, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae/ES) desenvolve ações em conjunto com a Prefeitura de Aracruz, por meio da Sala do Empreendedor. A iniciativa oferece palestras e diferentes atividades de capacitação.

“Entre os apoios direcionados às comunidades indígenas, promovemos recentemente uma palestra sobre empreendedorismo feminino voltada às mulheres indígenas e também o evento Empodera Mais, que no último ano aconteceu na aldeia Caieiras Velha. A escolha do local buscou ressaltar a importância da cultura desses povos e ampliar o acesso da sociedade ao conhecimento sobre sua história”, explica Roberta Vieira Stoco, analista técnica do Sebrae/ES em Aracruz.

Para além do artesanato

Além do artesanato, os indígenas de Aracruz também empreendem na produção de mel. Da junção dos nomes das etnias Tupiniquim e Guarani nasceu, em 2012, a Tupyguá, iniciativa que marcou a retomada da produção de mel nas aldeias de Aracruz.

A criação de abelhas sem ferrão tornou-se uma alternativa sustentável para gerar renda e, ao mesmo tempo, recuperar práticas tradicionais ligadas ao manejo da natureza. Hoje, a atividade não apenas contribui para a subsistência das comunidades, mas também fortalece a preservação ambiental e a valorização cultural dos povos originários da região.

O etnoempreendedorismo, portanto, surge como estratégia de sobrevivência diante dos desafios ambientais e sociais, mas também como ferramenta de afirmação cultural. Ao mesmo tempo em que garante renda, preserva a identidade e amplia o diálogo entre indígenas e a sociedade em geral, mostrando que tradição e inovação podem caminhar juntas.

Aldeia Nova Esperança, Aracruz por Ricardo Medeiros

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