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Publicado em 1 de agosto de 2025 às 12:06
Será? Na era dos romances mediados por telas, uma curtida ganhou o poder de levantar dúvidas, provocar sorrisos ou gerar DRs. A questão é: curtir um story é sinal de interesse amoroso? A resposta, como quase tudo nas relações humanas, não é simples. >
“O símbolo do amor não é mais apenas de amor, mas de ‘gostei da postagem’”, explica o psicólogo Carlos Boechat. Para ele, o gesto carrega camadas de significados que evoluíram com o tempo e a forma como passamos a nos relacionar online.>
Ele alerta que a curtida, ainda que nascida da intenção mais neutra possível, pode ser percebida como algo mais – especialmente quando repetida, insistente ou direcionada a conteúdos mais pessoais. "Significa que você está disponível para esta pessoa. Está sendo construída uma emoção por conta de uma frequência", completa.>
É aí que o jogo muda. De simples reação, o like vira ponte: para um papo, um flerte, uma aproximação.>
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Não à toa, entre jovens principalmente, a curtida virou linguagem. Um jeito sutil de dizer “estou de olho”, sem necessariamente dizer. Mas se há mensagem, há também interpretação - e ela é muitas vezes coletiva, como brinca a estudante Ágata Brum, de 21 anos.>
Ágata conta que grande parte das conexões amorosas que viveu começaram ali, com uma reação aparentemente inofensiva. O atual ficante, por exemplo, surgiu após responder a uma música postada por ela.>
O estagiário de Psicologia Gabriel Tavares Pereira, de 22 anos, compartilha uma visão mais direta sobre o uso do Instagram como ferramenta de flerte. Para ele, curtida pode até ser um indício de interesse, mas para ele, é só o começo. >
“Quando chega o momento de flertar com alguém, não gosto de ficar só curtindo story, porque isso cria um clima de espera, como se todo mundo estivesse aguardando o outro tomar uma atitude - e ninguém toma. Por isso, prefiro mandar uma mensagem logo ou responder o story com algo. E quando alguém curte algo meu, já fico de olho e espero um bom momento para responder. Frequentemente dá certo.”>
O estudante também prefere investir em interações com pessoas que conhece, e valoriza o contato presencial. “Já usei o Tinder antes e percebo como o Instagram mudou esse processo. É como se hoje existissem várias camadas até o momento de, de fato, conversar ou conhecer alguém. Quanto menos as pessoas se conhecem, mais filtros vão sendo criados. Mas eu também sei que preciso ‘vender meu peixe’ nesse novo normal.”>
Se por um lado esse novo código amplia possibilidades e diminui a timidez, por outro pode se tornar um problema em relações já estabelecidas. Como lidar, por exemplo, com o parceiro ou parceira que curte stories alheios com frequência?>
“Tem havido muitos conflitos com o uso das plataformas. Qual é o combinado que o casal tem? Se a curtida para um dos dois é flerte, isso precisa estar claro”, esclarece o psicólogo Carlos Boechat.>
Cada casal vai precisar combinar suas próprias regras. Afinal, o que para um é flerte, para o outro pode ser só cortesia digital - ou nem isso. O problema é que as redes sociais não entregam contexto, nem entonação. Entregam apenas gestos simbólicos que, de tão simples, viram labirintos.>
No fim das contas, curtir um story é flerte? Pode ser. Mas pode ser elogio, pode ser atenção, pode ser só educação. Só que além disso, também pode ser o começo de uma história. Depende de quem curte, de quem vê, e do que se constrói a partir dali. >
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