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Como duas cadeiras do álbum de Bad Bunny simbolizam a união latino-americana

Bad Bunny, premiado por "Melhor Capa de Álbum" no Grammy Latino, gera debate nas redes com a arte de seu último disco

Publicado em 14 de novembro de 2025 às 15:00

Bad Bunny levou cinco estatuetas no Grammy Latino
Bad Bunny levou cinco estatuetas no Grammy Latino Crédito: Eric Rojas

Sara Ohnesorge

Com o anúncio no dia 7 de novembro dos indicados ao Grammy Awards 2026, a rede social “X” foi palco de uma discussão na semana passada entre norte-americanos e usuários da plataforma da América do Sul, em especial brasileiros. Isso porque algumas pessoas questionaram a escolha da capa de “Debí Tirar Más Fotos”, do cantor Bad Bunny, como uma das promessas para levar a estatueta de gramofone na categoria Melhor Capa de Álbum. 

Fazendo história com sua produção disputando 12 categorias, Bad Bunny conquistou 5 estatuetas na noite de ontem (13) no Grammy Latino, incluindo na categoria Álbum do Ano, uma das mais importantes da premiação.

Muitos latinos, incluindo brasileiros, responderam aos norte-americanos com fotos de celebrações, festas e encontros familiares de parentes e amigos sentados nas cadeiras de plástico, com dizeres como “vocês nunca entenderiam”.

Uma carta de amor a Porto Rico

Capa do álbum
Capa do álbum "Debí Tirar Más Fotos" Crédito: Reprodução Instagram/@badbunnypr

Lançado em 5 de janeiro de 2025, o álbum Debí Tirar Más Fotos dedica-se a refletir sobre a memória, a cultura, os ritmos e os invasores de Porto Rico, um território não-anexado dos Estados Unidos onde Benito Antonio Martinez Ocasio, o Bad Bunny, nasceu e explora suas raízes em cada uma das 17 faixas do disco.

Mergulhando em ritmos porto-riquenhos como a bomba, plena e o reggaeton e utilizando aspectos locais, como o sapo concho, palmeiras e a bandeira do território, Bad Bunny canta sobre sua terra natal com muito carinho pelos habitantes e pela sua família. Não apenas trazendo um enfoque emocional nas canções, as letras também reafirmam a identidade da ilha e a resistência política aos Estados Unidos, como em “Lo Que Le Pasó en Hawaii”, que critica as restrições impostas pela potência mundial ao território, onde a língua local foi proibida no século 19.

A música que dá nome ao álbum foi utilizada em muitas trends das redes sociais no começo do ano para relembrar entes queridos que estão longe ou que faleceram. Traduzido para o portugês, “Devia ter tirado mais fotos”, os instrumentos e corais são totalmente de Porto Rico e convidam quem escuta a uma aproximação à cultura da ilha caribenha e à sua própria história, independente do país onde estão ouvindo.

Duas cadeiras de plástico e milhões de histórias

Tirada pelo fotógrafo Eric Rojas, a capa do sexto álbum de estúdio de Bad Bunny mostra uma plantação de bananeiras com duas cadeiras de plástico - daquelas que são quase onipresentes em todos os bares e churrascos de família em países como Brasil, Argentina, México e Porto Rico, a ilha onde o cantor nasceu e exalta em “Debía Tirar Más Fotos”.

Em entrevista ao Spotify no início deste ano, o cantor contou que a escolha da imagem remete à sua infância, com significados mais profundos: “Tudo que está ali [no álbum] representa muito para mim e eu entendo que também representa para muitas pessoas de Porto Rico e da América Latina”.

Com o design simples e variando do branco até o amarelo e azul, as cadeiras monobloco, como são conhecidas por serem fabricadas por apenas um material, representam muito mais que apenas dois objetos com utilidade simplória: são símbolos da economia emergente.

Famosas cadeiras de plástico presentes em festas, churrascos e bares
Famosas cadeiras de plástico presentes em festas, churrascos e bares Crédito: MabelAmber/Pixabay

O professor Antonio Carlos Moraes, professor da Universidade Federal do Espírito Santo e pesquisador de Cultura Popular e Folclore, explica que as cadeiras revelam a praticidade demandada por uma classe social que prioriza algo em detrimento de outra coisa por questões econômicas. 

“O mundo inteiro possui tais cadeiras de plástico em casa, em eventos, na praia e em outras áreas de lazer. Se eu planejo uma festa, a prioridade é o gasto com bebidas, comidas, decoração, música, etc."

Os assentos, que não existem em grandes quantidades em uma casa ou apartamento cada vez menores na vida contemporânea, passam a ser objetos de locação, de uso rápido, provisório

No imaginário social e na realidade dos espaços ocupados por uma elite econômica muito restrita, os móveis e os talheres são as marcas da distinção de classe. Em países colonizados, em sua maioria subdesenvolvidos, a baixa condição financeira de parte da população não é mero detalhe; envolve uma discussão de extrema relevância e que influencia cada aspecto da vida cotidiana, desde a aquisição de um carro até o material da mobília de uma casa.

Um objeto comum e que une vários países por simbolizar encontros, alegria, música e, em certos casos, saudades. A proposta das cadeiras de Bad Bunny é relembrar as pessoas, em especial aos latinoamericanos, que momentos de celebração com familiares e amigos conseguem tornar o dinheiro algo secundário quando a alegria de se estar com os seus é a prioridade.

Cadeiras de plástico reúnem amigos, familiares e desconhecidos por Júlia Felberg

Conquistando o pioneirismo no Grammy

Bad Bunny no Grammy 2026
Bad Bunny no Grammy 2026 Crédito: Kevin Winter

Bad Bunny conquistou 5 estatuetas no Grammy Latino e aumenta as expectativas para o Grammy 2026, onde o cantor se consolida como o primeiro artista que canta em espanhol a concorrer ao prêmio nas 3 categorias principais (álbum, gravação e canção).

O sucesso de Benito na premiação não é de hoje: em 2022, o álbum “Un Verano Sin Ti” do cantor porto-riquenho se tornou o primeiro álbum em língua espanhola indicado para Álbum do Ano na história.

*Este texto foi escrito por Sara Ohnesorge, aluna do 28º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Este conteúdo foi editado e publicado por Marcella Scaramella.

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