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Publicado em 10 de agosto de 2025 às 05:00
Durante muitos anos, o barulho das panelas e a correria de trabalhar na noite eram a marca registrada do dia a dia de Gustavo Correa. Chef premiado, ele se destacava por sua liberdade criativa na cozinha profissional e pelo talento em misturar sabores. Mas por trás do sucesso nos eventos e nas cozinhas sofisticadas, um turbilhão silencioso crescia na sua vida pessoal. >
A virada em sua vida começou em 2015, quando o filho mais velho, João Paulo, teve sua primeira crise epiléptica. O que até então eram apenas suspeitas neurológicas, se transformou em uma dura realidade: epilepsia refratária, um tipo de epilepsia resistente a medicamentos.>
Foi em uma consulta médica que Gustavo ouviu, entre lágrimas, a notícia de que o único caminho possível seria uma cirurgia no cérebro, sem garantias de sucesso. “Naquele momento eu desabei. Mas também decidi que faria tudo que estivesse ao meu alcance”, diz.>
Enquanto João Paulo passava por crises intensas e chegou a ser internado na UTI, Gustavo encontrou uma nova missão. “Durante uma oração, tive uma espécie de revelação: Deus me soprou que eu deveria juntar meus conhecimentos de cozinha com os desafios do meu filho”, conta, emocionado.>
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A partir dali, começou uma jornada de estudos e descobertas. Gustavo voltou à universidade para cursar Nutrição, abriu mão do trabalho como cozinheiro, mergulhou nos estudos em Neuronutrição, fez pós-graduação em Neurociências e iniciou um mestrado em Nutrição e Saúde. >
Essa transformação pessoal se tornou também um novo propósito profissional. Gustavo passou a atender pacientes, unindo ciência, escuta e afeto. “Uso ferramentas da nutrição, manejo intestinal e neuro-suplementação, mas, principalmente, me dedico a ouvir e entender cada história. Às vezes sofro junto. Mas sigo buscando as perguntas certas, porque são elas que nos levam às respostas.”>
Enquanto isso, João Paulo, hoje com 29 anos, também encontrou sua forma de expressão. Diagnosticado com dislexia ainda na infância, sempre estudou em escolas inclusivas e foi na faculdade de Publicidade e Propaganda, aos 18 anos, que teve a primeira grande crise epiléptica. >
Para ele, a comunicação sempre foi um desafio, mas a fotografia surgiu como uma ponte. “Eu fiz um curso na adolescência e comecei a usar a câmera para me expressar. Fotografava arames, correntes, cordas... objetos que nem sempre são vistos como belos, mas que, na época, representavam a dor que eu sentia”, conta João Paulo. Uma dessas imagens, inclusive, lhe rendeu um prêmio.>
Em um gesto de afeto e admiração, Gustavo decidiu transformar esse olhar em livro. O pai, que sempre gostou de escrever poesias e crônicas, juntou seus textos com as fotos do filho, e assim nasceu o projeto “Olhares”, uma obra que reúne o amor entre eles.>
A vida seguiu, e a pandemia trouxe mais uma oportunidade de conexão entre os dois. João, com dificuldades de se inserir no mercado formal de trabalho, sugeriu ao pai que começassem a produzir algo para vender. Gustavo topou na hora. >
A dupla então passou a cozinhar unida por uma nova paixão: alimentos orgânicos. “Começamos de forma simples, em casa mesmo. Hoje, temos uma loja virtual e o João é quem toca quase tudo sozinho”, conta Gustavo, orgulhoso. O cardápio, que no início contava apenas com molho pesto e conserva de tomate, hoje inclui variedades como bolinhos saudáveis, pão sem glúten e muffin de chocolate.>
Mais do que vencer a epilepsia, Gustavo e João reinventaram a forma de viver, com acolhimento, afeto e colaboração. Uma história que mostra que o amor de um pai é capaz de salvar a vida do filho.>
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