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Publicado em 20 de outubro de 2023 às 20:33
O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) pediu à Justiça a concessão de medida cautelar para determinar o bloqueio de R$ 95 mil das contas da Prefeitura de Afonso Cláudio, referente ao pagamento previsto à Cia Brasil de Rodeios Ltda. A empresa de Guiricema, Minas Gerais, foi contratada sem licitação pelo município, pelo valor de R$ 350 mil, para organizar o rodeio da 30ª Exposição Agropecuária, realizada entre quinta (19) e domingo (22).>
O pedido foi protocolado no final da tarde da última quinta. O evento teve pelo menos R$ 1,4 milhão em despesas, conforme contratos verificados no site do Executivo municipal e no Diário Oficial. Até o início da noite desta sexta, ainda não havia decisão da 1ª Vara de Afonso Cláudio no processo.>
O MPES já havia recomendado o cancelamento do contrato ao prefeito do município, Luciano Pimenta (União), no último dia 11, nos seguintes termos: "Que promova o cancelamento do contrato com a empresa, efetivado por meio do procedimento de inexigibilidade 19046/2023, por frustrar a competitividade do procedimento concorrencial, em desatenção à obrigatoriedade de licitar”.>
Agora, no processo judicial, o Ministério Público ressalta que o pedido de bloqueio parcial do pagamento à empresa contratada sem licitação tem como objetivo "resguardar minimamente o patrimônio material da Administração Pública, diante da contratação direta ilegal, dúvidas sobre a idoneidade da empresa e indícios de sobrepreço".>
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O montante do bloqueio pedido pelo MPES foi calculado com base na diferença entre o valor do contrato firmado com a empresa mineira para organizar o rodeio — R$ 350 mil — e o valor de R$ 255 mil, ofertado à prefeitura pela empresa Produções TR ME, sediada em Afonso Cláudio, no último dia 3, conforme esclarecido pelo órgão ministerial.>
Essa empresa capixaba é a autora do mandado de segurança que pede a suspensão da contratação por considerar irregular a ausência de licitação. O pedido foi inicialmente negado pela Justiça em Afonso Cláudio e pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), mas o processo ainda vai ter o mérito analisado, conforme ressalta a advogada da Produções TR ME, Natalia Ohnesorge. O MPES deu parecer favorável ao pedido da empresa e solicitou ao juiz do município para rever a decisão.>
O MPES sustenta, no pedido cautelar, que "em tese, também se observa indício de sobrepreço praticado na contratação direta (mais uma razão pela qual houve lesão ao patrimônio público), pois se a empresa contratada (Cia Brasil de Rodeios Ltda) não é exclusiva e nem singular, e se existia proposta de empresa concorrente em valor muito aquém àquele conferido ao contrato de inexigibilidade, é claro houve prejuízo aos cofres públicos".>
Esse prejuízo, na avaliação do Ministério Público, se deu pela perda da oportunidade em inaugurar um regular procedimento licitatório para que outras empresas interessadas (e não só a empresa autora do mandado de segurança) pudessem participar e concorrer equitativamente para prestar o serviço de rodeio.>
Devido a esses pontos, o MPES afirma que vai ingressar com uma ação civil para ressarcimento de danos causados aos cofres públicos por ato de improbidade administrativa. No final do documento, pede ao juiz o prazo de 30 dias para apresentar o pedido principal, relativo à "reparação do patrimônio público em razão da contratação direta ilegal".>
A Prefeitura de Afonso Cláudio foi demandada na tarde desta sexta-feira (20) para se manifestar a respeito do pedido do Ministério Público, mas sua assessoria não deu retorno às mensagens enviadas por e-mail e WhatsApp até o momento. Havendo retorno, este texto será atualizado.>
Ao ser questionada sobre a contratação sem licitação, na última quarta-feira (18), a prefeitura alegou, em nota, que "todo o procedimento administrativo ocorreu dentro da legalidade, inclusive em consonância com pareceres do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo" e mencionou o fato de ter obtido decisão favorável nas duas instâncias da Justiça.>
Os representantes da empresa Cia Brasil de Rodeios Ltda não foram localizados. >
As despesas previstas com a 30ª Exposição Agropecuária somam mais de R$ 1,4 milhão, até agora. O valor inicial era quase o dobro do atual. Foram revogados pela prefeitura o edital que previa a contratação de Organização da Sociedade Civil para realizar o evento, montar as estruturas e os palcos, no valor de R$ 1,110 milhão, e outro para fornecimento de alimentação e outras demandas, no valor de R$ 233.852,67, após ser alvo de questionamento no âmbito administrativo.>
Os principais gastos confirmados são com shows (R$ 915 mil), organização do rodeio (R$ 350 mil) e prestação de serviços diversos, como a organização de concursos e exposição de animais (R$ 112,8 mil). Há ainda um contrato de R$ 16,5 mil para administração da venda de camarotes e um edital, cujo resultado não constava no site da prefeitura até quinta-feira (19), no valor de R$ 30 mil para premiar os campeões do "Torneio do Laço 2023". >
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