Repórter / [email protected]
Publicado em 24 de junho de 2022 às 20:01
- Atualizado há 3 anos
O presidente da Câmara de Vitória, Davi Esmael (PSD), foi condenado a pagar R$ 5 mil em indenização por danos morais a uma funcionária pública estadual, no último dia 20. A condenação se refere a um vídeo postado pelo vereador em suas redes sociais debochando do uso de linguagem neutra pela servidora durante evento realizado na Câmara de Vila Velha, em outubro de 2021. >
Conforme narrado na sentença do 6º Juizado Especial Cível de Vitória, homologada pela juíza Fabrícia Bernardi Gonçalves, no dia 15 de outubro de 2021 a servidora participou de um evento realizado na Câmara de Vila Velha. Ao cumprimentar os presentes, ela falou: “boa noite a todos, a todas e a todes”.>
Três dias depois, Davi Esmael, que estava presente no evento como vereador de Vitória, postou um vídeo no Instagram citando a fala da servidora “de forma jocosa e com o intuito de ridicularizá-la”, segundo a defesa da servidora que consta da sentença. >
Nesse vídeo, o presidente da Câmara posicionou-se de forma contrária à utilização do pronome “todes” para dirigir-se às pessoas que não se identificam com nenhum gênero. Mas, para isso, utilizou o nome e a imagem da servidora sem o consentimento dela, além de incluir imagem do achocolatado Toddynho para se referir ao termo "todes".>
>
Segundo a defesa da servidora, o vídeo foi editado por Davi Esmael "oportunizando eventuais comentários ofensivos" por parte dos seguidores dele. Por se sentir ofendida com a postagem, além de considerar que houve o uso indevido da sua imagem, a servidora entrou com uma ação na Justiça contra o vereador pedindo indenização por danos morais.>
Em dezembro de 2021, ela obteve decisão favorável para que o presidente da Câmara de Vitória retirasse imediatamente o vídeo de suas redes sociais, sob pena de multa diária no valor de R$ 500. O objetivo da decisão foi evitar a propagação do vídeo e dos dados expostos. >
A defesa de Davi Esmael alegou que “a postagem não teve cunho ofensivo” e que ele teria imunidade parlamentar por ser vereador. Além disso, defendeu que tal imunidade “se estende às declarações proferidas em redes sociais, considerando o atual contexto de comunicação”.>
A decisão da Justiça destaca, no entanto, que “é preciso diferenciar a crítica ríspida da ofensa punível”. A sentença acrescenta que o direito à livre manifestação do pensamento garantido pela Constituição Federal deve ser compatibilizado com outros direitos, entre os quais a imagem e honra.>
Ainda conforme a sentença, não foi discutido no processo a extensão ou não da imunidade parlamentar nas redes sociais, nem a existência ou não da linguagem neutra. >
A decisão rejeitou a aplicação de multa ao vereador, pois entendeu que não houve grande divulgação dos vídeos, e apesar de o vereador ter apagado o vídeo apenas de uma plataforma inicialmente, removeu o restante depois. A postagem foi publicada no Instagram e Facebook. Foram registradas 1.310 visualizações para quase 13 mil seguidores. >
Independentemente da pequena exposição, complementa a sentença, a manifestação de Davi Esmael “não está protegida pela imunidade material parlamentar, visto que fora divulgada de forma a fazer chacota com a palavra utilizada pela autora”. >
Trecho da sentença
Juíza Fabrícia Bernardi GonçalvesA servidora foi procurada pela reportagem de A Gazeta, mas não quis se manifestar sobre a sentença. >
Por meio de nota, a assessoria do presidente da Câmara de Vitória informou que "a defesa do vereador Davi Esmael (PSD) recebeu a decisão judicial e vai recorrer da mesma por entender que a responsável pela ação é uma agente política estadual e o fato aconteceu em um espaço político quando a servidora comissionada fez um uso para expressar suas opiniões e, logo, se expõe assim a críticas e discordâncias em relação ao que diz". >
A nota acrescenta ainda que "o vereador não fez críticas baseadas em ataques pessoais à honra de qualquer pessoa".>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta