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Três anos após acidente que matou 11 no ES, julgamento dos réus segue sem data

Três anos após acidente que matou 11 no ES, julgamento dos réus segue sem data

Em setembro de 2017, onze pessoas morreram – nove delas de um grupo folclórico de Domingos Martins – e outras nove ficaram feridas em um acidente na BR 101 em Mimoso do Sul, no Sul do Estado. Dois réus vão a júri popular, mas julgamento não tem data

Publicado em 9 de setembro de 2020 às 09:51

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O acidente aconteceu na altura de Mimoso do Sul
O acidente aconteceu na altura de Mimoso do Sul. (Arquivo/AG)
Três anos após acidente que matou 11 no ES, julgamento dos réus segue sem data

“É uma dor inexplicável. Não tem como explicar o tamanho dela porque junta a dor da perda com a dor da falta de justiça. Foi tão claro que o caminhão tava irregular”. O desabafo é da cozinheira Lenilda Wetter, mãe da Karini Santana Wetter, que morreu aos 16 anos em um dos maiores acidentes do Espírito Santo, na BR 101, em setembro de 2017. Lenilda e outras mães e pais seguem sem resposta sobre quando os acusados de causar a colisão serão julgados.

Há três anos, Domingos Martins era tomada por um sentimento absoluto de tristeza e luto, com o desespero de familiares como Lenilda, amigos e colegas dos moradores que perderam a vida em um dos mais trágicos acidentes do Estado: onze pessoas, entre elas nove integrantes do tradicional grupo de dança alemã Bergfreunde, morreram enquanto voltavam de uma apresentação em Minas Gerais.

O micro-ônibus que levava o grupo de volta para o Estado pegou fogo após uma colisão na altura de Mimoso do Sul que envolveu também dois caminhões. O motorista e o dono de uma dessas carretas, que transportava rochas, são apontados pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) como os responsáveis pelo acidente já que o veículo não estava apropriado para esse tipo de carga.

Em setembro de 2017, onze pessoas morreram e nove ficaram feridas em um acidente em Mimoso do Sul. O motorista e o dono de uma das carretas envolvidas vão a júri popular, mas julgamento não tem data prevista
Arquivo: velório coletivo das vítimas do acidente marcou moradores de Domingos Martins. (Julio Huber)

A investigação apontou que o motorista Wesley Rainha Cardoso agiu com imprudência ao volante. Ele não tinha permissão para transportar rochas ornamentais e nem o caminhão era preparado para esse tipo de transporte, além de, possivelmente, estar com uma carga com o peso acima do permitido.

O motorista dirigia com a velocidade acima do permitido – com uma média de 87 km/h em um trecho que tem como limite máximo 80 km/h. Já o dono da carreta, Marcelo José de Souza, foi responsabilizado, de acordo com o Ministério Público, porque sabia das condições do veículo e por ter contratado um motorista que não tinha preparo para fazer esse tipo de transporte.

O Ministério Público do Espírito Santo, a Polícia Civil – que conduziu as investigações – e os familiares das vítimas não têm dúvidas sobre a autoria dos crimes. Mesmo assim, três anos depois, ainda não há uma previsão de quando os réus, que estão em liberdade, serão julgados em primeira instância.

No final de maio, a juíza Lara Carrera Arrabal Klein, da 2ª Vara de Mimoso do Sul, proferiu a chamada sentença de pronúncia, definindo que o motorista e o dono da carreta vão a júri popular, mas ainda sem data.

Essa sentença não é condenatória – a magistrada, como é habitual em crimes contra a vida, apenas encaminhou o caso para ser julgado por um júri popular. Isso ocorreu porque a juíza constatou indícios de autoria dos réus e materialidade do crime.

"SENSAÇÃO DE IMPUNIDADE"

Assistente de acusação, o advogado Lucas Kaiser, que representa as famílias das vítimas no processo criminal, diz que a ausência de uma data marcada para o júri popular gera um sensação de impunidade entre os parentes dos mortos no acidente.

“Já é um processo antigo. As famílias ficam angustiadas por falta de respostas. Os elementos do processo demonstram de maneira muito clara o envolvimento dos acusados. Afinal foram 20 vítimas, onze morreram e nove ficaram feridas. Essa demora gera uma sensação de impunidade para os familiares”, comenta Kaiser, que acredita que o júri não será marcado para 2020.

O ajudante de pedreiro Erinaldo Sebastião Pereira é um exemplo disso que foi dito pelo assistente de acusação: ele não acredita que a justiça será feita. Erinaldo é pai de uma das vítimas, o menino Luis Fabiano, que perdeu a vida no acidente quando tinha apenas 10 anos. Luís Fabiano e a mãe, Fabiana de Carvalho, ex-mulher de Erinaldo e uma das integrantes do grupo de dança alemã, morreram no local da colisão.

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Eu acho que ela (justiça) não vai ser feita, entendeu? Ninguém fala mais nada, já vai pra três anos e ficamos nessa agonia

Erinaldo Sebastião
Pai de Luis Fabiano
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O QUE DIZ A JUSTIÇA

Procurado para comentar sobre a reclamação das famílias da falta de data do júri popular dos réus, o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) informou apenas que o processo está com tramitação normal, que os réus foram pronunciados e vão responder perante o tribunal do júri.

O QUE DIZ A DEFESA

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A reportagem de A Gazeta procurou a defesa dos réus, que informou que vai se pronunciar até a tarde desta quarta-feira (09). Assim que a resposta for enviada, a matéria será atualizada.

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