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Os detalhes da perícia sobre mortes após racha na Terceira Ponte

Os detalhes da perícia sobre mortes após racha na Terceira Ponte

Entre outros pontos, laudo mostra apenas o carro do advogado atingiu as as vítimas, enquanto o veículo do universitário bateu na moto do casal quando os dois já tinham sido lançados ao chão

Publicado em 8 de julho de 2019 às 21:34

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Carros envolvidos em acidente com mortes na Terceira Ponte. (Eduardo Dias)

O laudo pericial da Superintendência de Polícia Tecno-Científica, que examina local de acidente, refez o passo a passo do acidente que matou o casal Brunielly da Silva e Kelvin Gonçalves, no dia dia 22 de maio, durante um acidente em cima da Terceira Ponte.

Os detalhes da perícia sobre mortes após racha na Terceira Ponte

Segundo a Polícia Civil, as vítimas, que estavam em uma moto, foram atropeladas durante uma disputa de racha entre o advogado Ivomar Rodrigues Gomes Junior e o estudante de engenharia Oswaldo Venturini Neto. Os motoristas foram indiciados pela morte do casal e permanecem presos. 

Acidente entre carros e moto mata duas pessoas na Terceira Ponte. Kelvin Gonçalves dos Santos, de 23 anos e Brunielly Oliveira, de 17 anos, vítimas do acidente. (Reprodução)

DETALHES DA COLISÃO

Segundo os peritos, é possível observar pelas câmeras de videomonitoramento da região que o Audi, em alta velocidade, seguia no sentido Vitória pela faixa da direita. Ao perceber a moto, a luz de freio do carro do advogado foi acionada. Sem conseguir parar, o Audi acertou a moto, o casal foi projetado contra o carro e depois contra o solo.

A perícia aponta que o Etios, que trafegava na faixa da esquerda, não realizou manobra ou frenagem com o intuito de evitar a colisão e trafegou com o pedal de aceleração no seu máximo. Ele colidiu com o Audi a uma velocidade de 144 km/h, perdeu o controle e foi direcionado em sentido diagonal direito. Foi nesse momento que ele atingiu a moto, junto à mureta de proteção da ponte.

Após bater na moto, o Etios retornou ao sentido diagonal esquerdo, juntamente com a motocicleta, e bateu no Audi novamente. Foi quando o Etios atingiu a mureta de proteção interna, onde ficou parado.

MATERIAL BIOLÓGICO

O estudante de Engenharia Oswaldo Venturini Neto, de 22 anos, e o advogado Ivomar Rodrigues Gomes Junior, de 34 anos, envolvidos em acidente com morte na Terceira Ponte. (Montagem)

O laudo apontou que apenas o carro do advogado atingiu as vítimas, enquanto o veículo do universitário bateu na moto do casal quando os dois já estavam no chão. 

"A presença de material biológico na UT-02 (Audi) e a ausência de material biológico na UT03 (Etios) nos permite concluir que somente a UT-02 (Audi) teve contato com os cadáveres", afirma o relatório. 

LANTERNA APAGADA NÃO DETERMINOU ACIDENTE

O casal, que estava em um motocicleta, foi atingido na traseira, por um dos veículos. (Arabson)

Ainda de acordo com a perícia, a moto trafegava com a lanterna traseira apagada na faixa da direita. Isso, porém, não determinou a causa do acidente. O laudo aponta que, se o advogado estivesse dirigindo no limite permitido pela via, poderia ter evitado a colisão.

"Observa-se que a UT-02 (Audi) acionou os freios no momento em que atinge a UT-01 (moto). Levando em consideração o tempo de percepção de um segundo e a velocidade desenvolvida por UT-02 (149 km/h - 41,38 m/s) por ocasião da colisão, conclui-se que o condutor de UT-02 teve um espaço de 41,38 metros para acionar os freios. Considerando que o ponto de não escapada da via, caso a UT-02 trafegasse a 80 km/h, era 13,99 m. Conclui-se que caso a UT-02 trafegasse na velocidade da via, e a UT-01 com a lanterna traseira apagada, a UT-02 teria espaço para evitar o acidente, ou seja, o embate era fisicamente evitável. Logo, o não funcionamento da lanterna traseira de UT-01 não pode ser considerado como causa básica do acidente", concluiu o laudo.

CARROS CHEGARAM A 150 KM/H

Os acusados realizavam um racha em cima da ponte no momento do acidente. (Arabson)

Os motoristas acusados de causar o acidente na Terceira Ponte  estavam dirigindo a aproximadamente 150km/h, segundo o laudo. A perícia apontou que o excesso de velocidade foi determinante no resultado do acidente.

O laudo pericial, que foi feito nos carros do advogado Ivomar Rodrigues Gomes Junior e do estudante de engenharia Oswaldo Venturini Neto, indicou que eles estavam a aproximadamente 150 km/h no momento da batida. Eles dirigiam quase o dobro da velocidade máxima permitida na Terceira Ponte, que é de 80 km/h.

DEFESA NEGA RACHA

Procurado, o advogado Ludgero Liberato, que representa o universitário Oswaldo Neto, declarou por nota que o laudo pericial "foi um importante passo para o esclarecimento da verdade e para a correta individualização das condutas". Ele completou que seu cliente nunca havia sofrido qualquer autuação por infração de trânsito.

Já o advogado Fernando Admital, que defende o advogado Ivomar Rodrigues Gomes Junior, afirmou por nota que "as imagens disponibilizadas no laudo não demonstram que eles (advogado e universitário) estariam participando de uma corrida ou disputa. Inclusive, o Ivomar sustenta, desde o início, que não estava participando de um racha".

RELEMBRE O ACIDENTE

O acidente aconteceu na madrugada do dia 22 de maio deste ano. Brunielly e Kelvin seguiam para Vitória em uma moto quando foram atingidos pelo Audi. O casal morreu na hora. De acordo com a polícia, os motoristas dos carros, Oswaldo Venturini Neto e Ivomar Rodrigues Gomes Junior, praticavam um racha e teriam ingerido bebida alcoólica.

Em depoimento, testemunhas contaram que viram os dois motoristas trafegando em velocidade incompatível com a via e em situação que caracterizava um “racha”. Segundo duas testemunhas, os veículos estavam em "altíssima velocidade e não pararam no cruzamento de uma avenida".

Além disso, uma das testemunhas informou que "a velocidade do carro de Ivomar era tão alta que fez com que o veículo conduzido por ele balançasse no momento que o carro de Ivomar passou".

Acidente entre carros e moto mata duas pessoas na Terceira Ponte. (Reprodução)

A DENÚNCIA

No dia 31 de maio, Ivomar e Oswaldo foram indiciados pela Polícia Civil, cada um, por duplo homicídio com dolo eventual e por participar de corrida ou exibição em veículo automotor em via pública. As penas para os crimes, em caso de condenação, variam de seis meses a 20 anos de cadeia para cada um. A investigação da participação deles no atropelamento e morte de um casal de namorados na Terceira Ponte foi concluída pela delegada Fabiane Alves Coutinho.

"Há provas inequívocas nos autos de que Ivomar e Oswaldo negligenciaram o fato de que haviam ingerido bebida alcoólica e conduziram seus veículos. Há, ainda, provas testemunhais suficientes para afirmar que Ivomar e Oswaldo conduziam seus veículos em situação de competição entre amigos, com velocidades incompatíveis para a via, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada", afirmou a delegada em trecho do inquérito.

A moto trafegava na faixa da direta na Terceira Ponte, onde, de acordo com o relatório policial, circulam veículos que estão em baixa velocidade. "Logo, não faria sentido Ivomar passar em alta velocidade com seu veículo Audi pela faixa da esquerda e mudar para a faixa da direita, senão para dar continuidade à competição iniciada com seu amigo Oswaldo desde a saída da boate", pondera a delegada.

Acidente entre carros e moto mata duas pessoas na Terceira Ponte. Ivomar Rodrigues Gomes Junior, de 34 anos, dirigia o Audi A1. FOTO: LUCINEY ARAÚJO/TV GAZETA. (Luciney Araújo/TV Gazeta)

CONTA NA BOATE

Uma comanda da boate onde o estudante de engenharia Osvaldo Venturini Neto e o advogado Ivomar Rodrigues Gomes Júnior estiveram antes do acidente traz anotações de bebidas que foram solicitadas no balcão da boate. Na parte da frente da comanda há anotação de uma água de coco e duas doses de uísque. Na parte de trás da comanda aparece uma marcação no combo de long neck.

Um outra nota de simples conferência mostra que foram pedidas seis garrafas de cerveja. A nota também traz valores na frente de cada um dos produtos. O total, incluindo outros serviços da boate, foi de R$ 389,00.

Comandas da boate onde estiveram universitário e advogado antes de atropelarem casal na Terceira Ponte. (TV Gazeta)

VÍDEO REFORÇOU INVESTIGAÇÃO

Imagens obtidas pela Polícia Civil ajudaram na investigação do racha que terminou com a morte de um casal na Terceira Ponte. As imagens foram obtidas com exclusividade pela TV Gazeta. A filmagem foi feita na porta da boate, em Vila Velha, onde estavam Ivomar e Oswaldo antes do atropelamento do casal. 

CARTEIRA SUSPENSA

O advogado Ivomar Rodrigues Gomes Junior teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa três vezes entre setembro de 2011 e novembro de 2017. A reportagem do Gazeta Online teve acesso a documentos que mostram as infrações de Ivomar registradas no sistema do Departamento de Trânsito do Espírito Santo (Detran-ES). Consta que o advogado já foi multado por estacionar veículo em local irregular, avançar sinal vermelho, dirigir usando o celular, por excesso de velocidade e também por ter se recusado a fazer o teste do bafômetro.

As infrações atribuídas ao advogado ocorreram nos municípios de Vitória, Vila Velha e Muniz Freire. Ele está habilitado na categoria B - que permite a condução de carro - desde 24 de outubro de 2002.

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