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Publicado em 10 de novembro de 2022 às 18:54
Seis dias após as prisões de dez advogados — apontados pelo Ministério Público do Espírito Santo como suspeitos de atuarem como “pombos-correio” de traficantes do Primeiro Comando de Vitória, o PCV — a Ordem dos Advogados do Brasil no Estado ainda não se manifestou sobre as acusações contra os profissionais. Apesar disso, na tentativa de conseguir a soltura dos envolvidos em audiência de custódia, uma comissão da Ordem preparou um relatório elencando o que seriam “irregularidades” nas condições das celas de um dos presídios no qual está parte do grupo.>
A OAB-ES tem sido demandada pela reportagem desde o dia 4 de novembro, quando ocorreram as prisões na operação deflagrada pelo MPES por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), mas nenhum posicionamento foi dado pela instituição.>
O único foragido é Marco Aurelio de Souza Rodrigues, que, até esta quinta-feira (10), segundo a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), ainda não tinha dado entrada em nenhum presídio.>
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As investigações do MPES apontaram que os advogados investigados aproveitavam as visitas para fazer troca de mensagens entre os clientes presos e os integrantes do Primeiro Comando de Vitória (PCV) que ainda estão soltos.>
Importante salientar que o PCV, com sede no Bairro da Penha, na Capital, é considerada a maior facção criminosa do Espírito Santo, com ramificações não só na Grande Vitória como no interior.>
Com essa troca de mensagens, ainda segundo as investigações, os advogados viabilizavam a gestão de lideranças sobre os grupos, mesmo depois de presas. Outras ordens ainda eram repassadas, como aquisição e porte de armamentos e munições, execução e planejamento de crimes de homicídio.>
A denúncia foi recebida pela Justiça, que decretou a prisão preventiva dos réus e determinou a suspensão do exercício da advocacia. Dentre os crimes imputados estão os de integrar organização criminosa e tráfico de drogas. Os autos tramitam perante a 1ª Vara Criminal de Viana.>
Mesmo não se posicionando sobre as acusações, antes da audiência de custódia, a Comissão de Direitos e Prerrogativas da OAB-ES fez uma visita técnica ao Centro Prisional Feminino de Cariacica (CPFC), onde estão presas as advogadas, para avaliar o local e produzir um relatório. No documento, o grupo apontou os seguintes problemas na unidade:>
1. As advogadas estão em galeria que era destinada a visitas íntimas, com três celas, uma cela de convivência e uma sala de atendimento; >
2. Área destinada ao banho e necessidades fisiológicas não possui lixeira, e o lixo é descartado em saco plástico pendurado em grade;>
3. Cela com baixa iluminação e ventilação;>
4. Cama e vaso sanitário instalados próximos um do outro;>
5. Não há janelas, apenas ventanas, inclusive por essas frestas passam insetos — larvas e rãs também já ingressaram nas celas;>
6. O banheiro da cela exala forte odor de esgoto, sendo impossível ficar muito tempo naquele espaço, tampouco se alimentar em razão do cheiro de fossa;>
7. Caneca e colher de plástico possuem cheiro estranho, levando as acusadas a comer com as mãos;>
8. A água para beber é da pia, ou seja, não potável;>
9. Há infiltrações nas paredes.>
Sobre o relatório feito pela comissão da OAB-ES que mostrava as condições nas celas, a Sejus, responsável pelos presídios no Espírito Santo, informou que mantém protocolos de higiene e conservação em todas as unidades prisionais com o objetivo de prevenir a presença de pragas e vetores e promover um ambiente saudável no sistema prisional.>
"A limpeza é realizada diariamente, bem como ações de dedetização em períodos determinados. A Sejus ressalta também que inspeções mensais são realizadas pelo Poder Judiciário nas unidades citadas e que, até o momento, nenhuma não conformidade foi identificada. O mesmo ocorre com a alimentação servida nas unidades, que passam por rígido controle de qualidade e fiscalização.">
Sobre o tratamento recebido pelos advogados, que se queixaram da conduta de agentes penitenciários, a Sejus destacou, ainda em nota, que cumpre o previsto na Lei de Execução Penal, tendo como base o respeito à dignidade humana. "As denúncias e/ou reclamações envolvendo a conduta de servidores são devidamente investigadas pela Corregedoria, sempre que necessário", acrescentou, mas sem informar se o caso específico dos advogados seria apurado. >
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