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Publicado em 18 de outubro de 2024 às 13:45
Com o objetivo de cortar gastos nos cofres públicos, os ministérios do Planejamento e Orçamento e da Fazenda devem levar para a mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) uma série de medidas que aponta para mudanças nos sistemas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do seguro-desemprego. >
As propostas fazem parte de um planejamento voltado para cortes de R$ 30 a 50 bilhões em despesas. As revisões de gastos, que devem ser apresentadas a Lula após o encerramento do segundo turno das eleições municipais, mostram que a atual sobreposição de benefícios trabalhistas pode desestimular que empresas permaneçam com o funcionário e gerar custos excessivos aos cofres do país.>
Uma das opções avaliadas pelos ministérios, que ainda não detalharam todas as propostas, é utilizar parte da multa do FGTS para uma espécie de financiamento do seguro-desemprego. Entre as alternativas, há também a intenção de combate aos chamados “supersálarios” do serviço público.>
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No recorte de 2023, as despesas foram calculadas em R$ 47,6 bilhões, já até agosto de 2024, foram gastos R$ 52,4 bilhões. Para 2025, a previsão é que as cifras cheguem a R$ 56,8 bilhões.>
Na prática, para os trabalhadores, a redução da multa do FGTS pode significar um valor menor a ser recebido em caso de demisão. Já para as empresas, as mudanças podem representar menos encargos trabalhistas.>
Para a advogada Aline Simonelli Moreira, especialista em Direito Trabalhista, as medidas podem apresentar um retrocesso social. Segundo ela, o governo justifica que o seguro-desemprego e a multa de 40% do FGTS incentivam a rotatividade no emprego, entretanto, a demissão que gera direito ao FGTS é uma iniciativa do empregador, não do trabalhador.>
“A multa representa uma indenização paga ao trabalhador pelo serviço prestado. Em alguns países, a demissão só é permitida com justificativa, como crises financeiras ou faltas do trabalhador, sendo que o Brasil já adota uma postura de flexibilidade trabalhista em relação a esse aspecto”, pondera, sinalizando que as mudanças podem criar um ambiente de instabilidade aos trabalhadores.>
De acordo com a advogada, a diminuição de empregos com carteira assinada não reflete um mercado aquecido, mas, sim, uma redução das proteções trabalhistas elaboradas ao longo dos anos. >
“Outra proposta do governo é criar um imposto sobre demissões, com a justificativa de não ser dado a ele essa multa de 40% com o intuito de evitar que o trabalhador se demita. No entanto, se o empregado não cumpre o contrato, o empregador já pode aplicar penalidades, incluindo a demissão por justa causa. Esse argumento ignora o impacto negativo na indenização por anos de serviço prestado”, detalha.>
De acordo com o economista Felipe Storch Damasceno, as mudanças apresentadas não são recentes na mesa da ministra Simone Tebet, do Planejamento, e de Fernando Haddad, da Fazenda. Segundo Damasceno, desde o início do ano, o mercado já indicava que o governo iria alterar a meta fiscal para os próximos anos.>
“As medidas de agora têm se focado muito mais no aumento de arrecadação do que no corte de gastos, mas esse caminho tem um limite. Quando o governo enviou pautas ao Congresso, algumas foram aprovadas, outras não. Agora, Haddad e Tebet estão buscando reduzir gastos, que é outra forma de manter a sustentabilidade do orçamento federal”, frisa.>
De acordo com Felipe Storch, as ações do governo sinalizam um movimento de mostrar ao mercado que o arcabouço fiscal está sendo cumprido.>
Ainda em fase preliminar, as propostas também apontam para o combate aos supersalários no serviço público e aos adicionais conhecidos como ‘penduricalhos’, o que pode gerar uma economia de até R$ 4 bilhões por ano.>
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