A Ferrovia Centro-Atlãntica corta municípios do interior do Espírito Santo, enquanto o novo traçado passa pelo litoral.
A Ferrovia Centro-Atlãntica corta municípios do interior do Espírito Santo, enquanto o novo traçado passa pelo litoral. Crédito: Fernando Madeira

Ferrovia Vitória-Rio substituirá antiga estrada de ferro no Sul do ES?

O projeto para implementação de novo ramal ferroviário no ES ganhou força e deverá ligar Santa Leopoldina a Anchieta, com um traçado pelo litoral capixaba

Tempo de leitura: 4min
Vitória
Publicado em 28/09/2023 às 17h05

Ao mesmo tempo em que a VLI, concessionária que administra a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), indica falta de viabilidade econômica para manter as operações do ramal ferroviário no Espírito Santo, outro projeto ganha força: a implantação da EF 118, a chamada Ferrovia Vitória-Rio. Mas será que uma linha férrea substitui a outra?

Com investimento da Vale estimado em R$ 6 bilhões, a previsão é que o primeiro trecho da nova ferrovia, de Santa Leopoldina até Anchieta, comece a sair do papel em até dois anos. Embora passe também pela Grande Vitória e siga em direção ao Sul do Espírito Santo, o traçado da EF 118 está mais próximo do litoral. A linha centenária, por sua vez, sobe a Região Serrana e segue pelo interior antes de chegar à divisa com o Rio de Janeiro. 

Engenheiro de Transportes e professor da Ufes, Rodrigo de Alvarenga Rosa observa que a ferrovia Vitória-Rio deverá atender mais as necessidades da própria Vale e da Samarco, como o transporte de minério, apesar de haver também a previsão de carregamento de outras cargas. A FCA, além da diversidade de produtos transportados, conduzia passageiros, o que diferencia o perfil das duas linhas férreas.

Rodrigo Rosa reforça, no entanto, o entendimento da VLI de que a Centro-Atlântica não é mais viável, tanto pelo alto custo para recuperação e manutenção das linhas e equipamentos, quanto pelo traçado que corta municípios para os quais a demanda reduziu drasticamente. Assim, a EF 118 se apresenta como uma solução logística que não é mais observada no ramal centenário. 

Projeto

Na nova ferrovia, o trecho inicial terá 80 quilômetros de extensão, saindo de Santa Leopoldina, passando por VianaCariacicaVila Velha, Guarapari e Anchieta. Haverá ainda mais 20 quilômetros, com alças, até Ubu, totalizando 100 quilômetros de via construídos. Após estudos ambientais, de traçado, geofísicos, imobiliários da linha tronco já terem sido concluídos, a fase atual é de análise de risco ambiental para as alças de Ubu.

A expectativa é de que os licenciamentos e as desapropriações sejam finalizados em até 24 meses e que as obras tenham duração de outros 60 meses. Ao todo, segundo informações da Vale, será necessário realizar 739 desapropriações, que afetam entre 3.500 e 4.000 pessoas. Quando começar a operar, cujo prazo estimado é 2030, a ferrovia deve receber 10 milhões de toneladas de carga geral ao ano, podendo chegar a 15 milhões.

15 milhões de toneladas

É o máximo de carga que a nova ferrovia deve receber por ano

O projeto tem uma segundo etapa prevista em que a EF 118 ganhará mais 87 quilômetros até a divisa do Espírito Santo com o Rio de Janeiro, passando por Presidente Kennedy. A obra desse trecho contará com a doação do projeto básico pela Vale ao governo capixaba, mas as obras não serão feitas pela mineradora.

A ferrovia Vitória-Rio também apareceu no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado em agosto pelo governo federal, na categoria de "estudos". Mas o Ministério dos Transportes vai lançar o Plano Ferroviário Nacional, e a expectativa do Estado é avançar mais no desenvolvimento do projeto para a nova estrada de ferro ser executada. 

A implantação da EF 118 pela Vale é uma contrapartida pela renovação antecipada da Ferrovia Vitória-Minas, que vai ficar sob concessão da mineradora até 2057. É por essa estrada de ferro que passa todo o minério de ferro extraído em Minas Gerais e segue para Tubarão, onde é beneficiado ou exportado.

Conexões

Importante observar ainda que a produção agrícola do cerrado brasileiro também é escoada por ferrovia capixaba para seguir até os portos do Estado.  Essa logística é feita pelo Corredor Centro-Leste, que liga Goiás, Minas e Espírito Santo pela FCA, operada pela VLI também em outros Estados, e desembarca na região portuária pela Vitória-Minas, da Vale. 

"As operações da companhia com destino e origem no sistema portuário do Espírito Santo, por meio do corredor Centro-Leste da Ferrovia Centro-Atlântica, seguem regularmente, gerando movimentação de cargas de aproximadamente 25 milhões de toneladas ao ano, contribuindo com a economia do Estado e a pauta de exportações do país. Em virtude do aumento dos volumes transportados neste importante corredor logístico, a VLI anunciou neste ano a aquisição de nove locomotivas, em um negócio de aproximadamente R$ 200 milhões", ressalta a VLI, em nota, fazendo contraponto ao fato de considerar inviável manter a operação da FCA no Espírito Santo. 

A concessionária acrescenta que firmou, em fevereiro deste ano, memorando de entendimento com a Vports (antiga Codesa) para estudos de obras de expansão do novo Porto de Vitória. O documento assume que os estudos em conjunto podem concluir pela existência de uma oportunidade para investimentos em ferrovia, porto e terminais que atinjam até R$ 200 milhões. O estudo estima aumento de cerca de 5 milhões de toneladas de granéis sólidos minerais e vegetais à matriz de carga atual nos fluxos de importação e exportação do Espírito Santo.

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