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Publicado em 12 de junho de 2021 às 08:06
Um estudo feito por uma pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) com pacientes diagnosticados com o quadro clínico grave de Covid-19 no Estado apontou as principais sequelas observadas durante seis meses de acompanhamento.>
Os dados indicam que a doença causou ao menos 19 reflexos que impactaram negativamente nos sistemas neurológico, respiratório, motor e cognitivo do grupo formado por 44 voluntários. Nenhum deles apresentava comorbidade antes da infecção.>
A pesquisa foi feita pela pneumologista e professora da Ufes Jéssica Polese. Ela explicou que a triagem aconteceu no ano passado, quando foram selecionados os doentes internados na ala SUS, do Vitória Apart Hospital. >
Além de não ter comorbidade, foi escolhido quem recebeu algum suporte respiratório, como uso de oxigênio suplementar ou ventilação mecânica. O grupo formado por homens e mulheres tem idade média de 51 anos e ficou pelo menos oito dias internado.>
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Após a alta, o grupo começou a ser monitorado pela professora em outubro do ano passado com o apoio do Serviço de Pneumologia, do Departamento de Ciências Fisiológicas da Ufes. As avaliações aconteceram nos intervalos de 30, 90 e 180 dias após o fim dos sintomas. Todo o trabalho foi coordenado pelo professor José Geraldo Mill.>
Foram analisados fatores hematológicos, que dizem respeito à parte bioquímica do sangue; respiratórios, relacionados à função pulmonar; neuropsiquiátrica, que investigou os estágios comportamentais dos voluntários; além da questão imunológica, que acompanhou o nível de anticorpos dos indivíduos que apresentaram o quadro clínico grave. >
Jéssica revelou que um mês após o diagnóstico de cura, os exames realizados durante o monitoramento mostraram que 95% dos pacientes apresentavam um quadro de disfunção pulmonar.>
"De todos os pacientes, só um que conseguiu voltar ao trabalho, praticamente todos estavam muito debilitados. Em 95% dos casos, os pacientes tinham algum tipo de alteração pulmonar. Os níveis de ansiedade e depressão eram bem elevados. Eram pacientes que estavam do ponto de vista físico e emocional bastante abalados", lamentou a médica.>
Além das observações clínicas feitas ao longo do acompanhamento, a pneumologista apresentou questionários aos pacientes. Com a prática, os pesquisadores buscaram identificar a saúde mental do grupo de curados da doença causada pelo novo coronavírus.>
"Após seis meses da doença, 25% dos pacientes ainda tinham alguma queixa respiratória, como tosse ou algum grau de dispneia, e 15% ficaram com algum grau de lesão pulmonar funcional. Da parte neurológica, também foram identificadas alterações no quadro de pessoas com ansiedade, depressão, má qualidade de vida e distúrbio do sono", elencou.>
Enquanto os pacientes monitorados pelo estudo desenvolvido pelos pesquisadores da Ufes monitoram quem foi infectado com a Covid-19, essa não é a realidade da maioria dos curados pela doença. No Espírito Santo, o Painel Covid-19, ferramenta do governo do Estado, informa que mais de 466 mil capixabas se recuperaram. >
A doutora em Saúde Coletiva e Epidemiologia, Ethel Maciel, do Departamento de Enfermagem da Ufes, disse que o desafio dos gestores público é garantir atendimento aos curados no Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pela prestação de serviços de mais de 70% da população capixaba.>
O tratamento adequado exige consultas especializadas com pneumologistas e fisioterapeutas, para pessoas que apresentassem sequelas pulmonares, e nefrologistas e serviços especializados, com acesso a diálises, para pacientes com sequelas renais. Para isso, na avaliação de Ethel, o SUS demandaria aporte financeiro.>
Ethel Maciel
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