Publicado em 3 de novembro de 2020 às 21:06
Grande número de suscetíveis, aglomerações durante o verão e mudanças climáticas. Esses são alguns dos fatores apontados por especialistas para a segunda onda do novo coronavírus que atingiu a Europa nas últimas semanas, o que já provocou a retomada de medidas restritivas em locais como Alemanha, Espanha, França e Portugal. E, como da primeira vez, será que o Brasil e o Espírito Santo vão enfrentar o novo ciclo de casos de Covid-19 na sequência de países europeus? A expectativa é que, se a vacina chegar, a população brasileira não passe pela segunda onda. >
O infectologista e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Crispim Cerutti Junior, aponta a grande relação de suscetíveis (pessoas vulneráveis à contaminação) e infectados como um dos fatores para o retorno da segunda onda na Europa. Ele diz que as aglomerações causadas pela mobilização do verão no continente aumentaram a transmissão e, consequentemente, o número de casos. Cerutti afirma que esse é um movimento esperado de pandemias de gripe, como aconteceu com a Espanhola, no século XX.>
Nesse tipo de transmissão direta de agente respiratório acontece isto: primeiro, a infecção maciça de pessoas suscetíveis, um equilíbrio temporário entre a situação de exposição e de infecção, e novamente ocorre um segundo momento de infecção maciça daqueles que estavam suscetíveis ao primeiro momento, pontua. >
De acordo com o também infectologista Lauro Ferreira Pinto, as muitas aglomerações registradas no verão europeu e a chegada do inverno potencializaram a segunda onda em vários países. O médico observa, no entanto, que a contaminação afeta pessoas de faixa etária mais baixa que, associada ao maior conhecimento do manejo da doença, tem resultado no registro menor de mortes. Houve muita aglomeração no verão europeu, e agora está seguindo uma nova onda no inverno. Uma onda com menos mortes, de uma faixa etária mais nova, e que já se aprendeu de certa forma a lidar com vírus em paciente grave", constata. >
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Os médicos afirmam que uma segunda onda será difícil de ser vista no Brasil e no Espírito Santo, uma vez que a primeira ainda não foi controlada, o que já ocorreu em grande parte da Europa que, agora, passa pelo segundo ciclo. >
Estamos tendo um declínio lento da onda epidêmica, e isso pode se estender por alguns meses. Se considerarmos o que está acontecendo na Europa como um prenúncio do que pode acontecer aqui, muito provavelmente não vamos chegar a ter uma segunda onda, mas sim um recrudescimento (agravamento) da onda em andamento, destaca Crispim. >
Lauro Ferreira Pinto acrescenta: o vírus está circulando desde sempre, e não fizemos um controle eficaz. Então, ainda estamos na primeira (onda), que desce e sobe. São marolas da mesma onda. Nunca saímos da primeira onda porque nunca controlamos o vírus aqui.">
No entanto, o ponto positivo da lentidão da onda de casos no Brasil é a possibilidade de impedi-la com a vacinação, prevista para 2021. Pode acontecer de a gente, ao longo desse processo mais lento, chegar até níveis próximos de zero na frequência de casos e ter uma segunda onda mais tardiamente, ao decorrer do ano que vem. Se isso vai acontecer ou não, vai depender de um outro fator, que é a introdução das vacinas, que a gente espera que ocorra no ano que vem, analisa Crispim.>
A mesma constatação foi feita pela doutora em epidemiologia e professora da Ufes, Ethel Maciel, que ressalta ainda a necessidade de as pessoas entenderem a gravidade do vírus ao redor do mundo, e cenários que se repetiram no Brasil, como a primeira onda. >
Quanto mais pudermos evitar de entrar numa segunda, é melhor. As pessoas precisam entender que ainda estamos no meio de uma pandemia. Estamos vendo países, com muito mais recursos e menos dificuldades que nós, sem ter o que fazer. As pessoas precisam entender essa gravidade, adverte. >
Os especialistas citaram também uma nova cepa - a 20A.EU1 - com registro na Espanha. Trata-se de uma mutação do coronavírus, que se manifesta por uma nova assinatura, como explicam os médicos. No entanto, eles frisam que as informações ainda são preliminares e não há elementos que apontem sobre o grau de transmissão e agressividade do agente infeccioso. >
O fato do vírus mudar é uma coisa que se espera que aconteça. Agora, exatamente o quanto houve de modificação, em que sentido essas modificações afetaram a relação dele com o hospedeiro, são coisas que precisam ser melhor estabelecidas, a gente ainda tem pouca evidência a esse respeito, explica Crispim.>
Segundo Ethel, os primeiros indícios apontam para uma sorte, visto que as informações preliminares não sugerem uma maior transmissão ou agressividade da variação do vírus. >
Pelo que os pesquisadores publicaram até o momento, eles disseram três coisas importantes: que não apresentou uma transmissibilidade maior; não apresentou uma maior frequência de casos graves; e não modificou a estrutura, a ponto de prejudicar a produção da vacina. Isso foi uma sorte, mas a gente não pode ficar dependendo da sorte, sustenta.>
Outro ponto destacado pelos especialistas é a diferença do panorama europeu com o asiático. Enquanto países da Europa registram a segunda onda, na Ásia seguem com a doença controlada. A quantidade e agilidade na testagem, e a disciplina dos asiáticos, são os fatores determinantes para apresentarem melhores indicadores. >
A principal diferença é a quantidade de testes. Na Coreia do Sul, para cada caso positivo, eles fizeram 100 testes. Nem aqui, nem na Europa chegamos perto disso. A estrutura de testes é mais eficiente na Coreia do Sul, no Japão, em Taiwan, em Hong Kong. A segunda diferença é a disciplina, que o ocidental não tem. Usar máscara está na cultura deles. A explicação é a quantidade e agilidade de testes, rastreamento de casos e disciplina no uso de máscaras, conclui Lauro Ferreira Pinto.>
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