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Condomínio na Guaibura: Iema pede análise de vegetação antes de obra

Condomínio na Guaibura: Iema pede análise de vegetação antes de obra

Instituto vê riscos para o solo, a fauna e a flora da região; comissão da Câmara de Guarapari pede à prefeitura suspensão dos licenciamentos para a obra

Publicado em 15 de novembro de 2023 às 18:41- Atualizado há 6 meses

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Lagoa do manguinho em Guaibura
Lagoa do mangue na península da Guaibura, em Guarapari. (Willian Vailant)

Após um movimento feito pela comunidade para barrar a construção de uma condomínio de luxo anunciado para a península de Guaibura, em Guarapari, o Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema) realizou uma vistoria no local e pediu que seja feita uma nova análise da vegetação na região antes que as obras do Condomínio Manami tenham início. 

A informação está em ofícios enviados pelo Iema à Prefeitura de Guarapari e ao Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) – órgãos responsáveis pelas licenças para as obras – na última segunda-feira (13), após vistoria realizada pelo instituto. O documento também foi enviado ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES).

Na análise do Iema, a obra causa impactos diretos sobre o solo, a fauna e a flora da região. O documento do instituto detalha que a vistoria realizada no local verificou que há vegetação que apresenta aspectos de estágio avançado de regeneração, considerando o ambiente específico de restinga em costão rochoso. Diante disso, o órgão apresentou à prefeitura e ao Idaf a legislação que deve ser seguida pelos órgãos para que a autorização para as obras possa ser emitida.

Além da manifestação do Iema, a Comissão de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca da Câmara de Guarapari também fez um movimento contrário à construção do condomínio de luxo sobre a península. Na terça-feira (14), a comissão, formada pelos vereadores Oldair Rossi (União), Léo Dantas (Patriota) e Sabrina Astori (DC), disse ter enviado uma notificação para a prefeitura solicitando a imediata suspensão dos licenciamentos para as obras do empreendimento. 

Representantes da liderança comunitária da Guaibura, da Associação de Moradores da Enseada Azul (Ameazul) e da ONG ambiental Gaya Religare vêm contestando a realização do empreendimento, que fica entre as praias de Guaibura e de Peracanga, uma das regiões mais famosas do município. Eles alegam que o condomínio será construído em uma área com animais e espécies da flora ameaçados de extinção, além de haver um manguezal nas proximidades.

Por sua vez, o empreendimento Manami afirma que as obras para construção do condomínio estão fora de qualquer área de preservação ambiental permanente. Confira a nota completa ao fim do texto.

Devido à verificação da vegetação de restinga no local, o Iema recomenda que a possível retirada de vegetação deverá ser precedida de uma avaliação mais acurada, com estudos da flora e fauna, para identificar se há espécies ameaçadas de extinção.

"A autorização da supressão de vegetação de restinga deve ser precedida de um estudo para identificar as espécies da flora e da fauna silvestres, para verificar se há espécies ameaçadas de extinção. A legislação urbana a ser obedecida deverá ser anterior à edição da Lei da Mata Atlântica. Portanto, não poderá ser utilizado o último Plano Diretor do município, pois foi editado após a data", diz o relatório do Iema.

Aspas de citação

Analisando as imagens de satélite disponíveis, vemos que em 2003 já havia uma área com extensão aproximada de 0,4 hectare sem cobertura vegetal no topo do Morro de Guaibura. No entorno dessa área de 'terra batida', o solo estava coberto com vegetação. Portanto, a cobertura vegetal do morro possui no mínimo 20 anos

Iema
Em relatório sobre o morro da Guaibura
Aspas de citação

Já a Comissão de Meio Ambiente da Câmara de Guarapari considerou a vistoria do Iema para efetuar o pedido de suspensão dos licenciamentos à prefeitura. "Inegável que as dúvidas que surgem acerca da forma como se deu o licenciamento apontam para que venha a ocorrer um esgarçamento de parte a parte, sem contudo esclarecer se efetivamente é possível a sua realização", diz o texto.

Para a servidora pública Juliana Souza, que faz parte da comunidade que defende a preservação da península de Guaibura, as entidades precisam explicar como foram feitas as liberações até agora. "O morro da Guaibura é uma área de proteção permanente por ao menos 11 motivos até então mapeados. É também um bem natural tombado. Em Guaibura, levaremos essa luta até o fim. Queremos unidade de conservação e reflorestamento", defende. 

Componente de Arquivos & Anexos Arquivos & Anexos

Relatório de vistoria do Iema

Documento foi encaminhado à prefeitura de Guarapari, Idaf e Ministério Público do Espírito Santo

Tamanho de arquivo: 18mb

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Protocolo enviado para a Prefeitura

Iema enviou relatório com suas análises para prefeitura tomar medidas cabíveis

Tamanho de arquivo: 190kb

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Documento enviado ao Idaf

Iema enviou relatório com suas análises para órgão responsável por autorizar supressão vegetal

Tamanho de arquivo: 191kb

Componente de Arquivos & Anexos Arquivos & Anexos

Pedido de suspensão da Câmara

Comissão de Meio Ambiente da Câmara pede para prefeitura suspender licença até apuração do que levou a sua aprovação

Tamanho de arquivo: 271kb

O que dizem os órgãos

O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) informa que vistoriou o local, por meio de equipe de fiscalização desvinculada ao licenciamento, após receber denúncias.

"As constatações observadas pela vistoria do Iema foram encaminhadas, por meio de ofício à prefeitura, visto que é a responsável pelo licenciamento, e ao Idaf, em razão da competência do órgão para análise referente à supressão de vegetação. Por fim, o Iema esclarece que o licenciamento permanece sendo de competência da prefeitura", destacou o órgão.

 Manami Ocean Living
Manami Ocean Living: condomínio previsto para a península da Guaibura. (Invite Inc./Divulgação)

A Prefeitura de Guarapari, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e Agricultura (Semag), informa que ainda não recebeu nenhum ofício referente ao assunto, nem do Iema, tampouco da Câmara. 

Questionadas sobre as licenças que o empreendimento possui, a administração municipal informa que são as municipais prévia e de instalação.

"A Secretaria de Análise e Aprovação de Projetos (Semap) informa que o projeto foi aprovado. Os responsáveis estão com licença para instalação de estandes, canteiro de obras e fechamento com tapumes. Ainda não foi dado entrada no pedido da licença de obras", complementou a prefeitura, por nota.

O Idaf foi procurado para comentar a situação atual das autorizações para a obra, mas não deu retorno até a publicação da matéria.

O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça de Guarapari, informa que aguarda o recebimento do referido relatório para a analise os fatos e a posterior adoção das medidas cabíveis.

Espécies Ameaçadas em Guaibura: sabia sobre jacquinia(Willian Vailant)

Empreendimento diz que obra fica fora da área de preservação

"O empreendimento Manami foi aprovado e licenciado em todos os órgãos competentes. Além disso, já obteve a Licença de Instalação (LI), após atender a todas as condicionantes exigidas pela Secretaria de Meio Ambiente. 

É importante esclarecer que o empreendimento está fora de qualquer área de preservação ambiental permanente (APP). Pelo contrário: a área de APP encontra-se se completamente isolada e terá sua manutenção custeada pelo empreendimento antes, durante e após a execução do projeto. Está previsto ainda um trabalho de recuperação de restinga e ações inéditas de preservação da fauna e da flora da região, com espécies sendo catalogadas, em uma área que, até então, encontrava-se abandonada. 

A construção deixa livre todo o costão rochoso, que terá livre acesso público, com passarelas para as praias da Península de Guaibura - que atualmente possui acesso precário. As plantas do empreendimento são baixas, de até dois andares, com uma ocupação ordenada da região, conectando bem-estar e o cuidado ambiental como um dos diferenciais do projeto. 

O Manami vai realizar também melhorias em toda a via de acesso, estacionamento e deck na região dos bares e restaurantes do entorno. O projeto traz segurança ambiental e jurídica, além de gerar empregos para a comunidade local. Portanto, qualquer informação divergente é resultado de desconhecimento, calúnia ou má fé."

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