Publicado em 2 de dezembro de 2020 às 08:43
A adolescente Victorya Estevão, de 18 anos, foi diagnosticada com ceratocone, uma doença rara que afeta a córnea dos olhos. A jovem, que mora com os pais no bairro Vale Encantado, em Vila Velha, tem dificuldade de enxergar e, se não for tratada logo, pode ficar cega. No momento, a solução seria usar uma lente que custa R$ 5 mil. No entanto, a família não tem condições de arcar com o valor. >
Victorya já usava óculos desde os 15 anos por ter miopia e astigmatismo. Em meados de 2018, ela sentiu que a visão estava ruim. Mas pensei que poderia ser só o grau que aumentou, que era algo normal, recorda. Em 2019, a jovem percebeu que a visão voltou a piorar e ela adquiriu óculos novos, porém, dois meses depois a dificuldade para enxergar voltou. Eu ficava com o celular muito perto, espremia bem os olhos, pois não estava conseguindo ver. Na escola eu tinha que fotografar o quadro para fazer as anotações, relata. >
A mãe de jovem, Luciana Estevão, só tomou conhecimento da doença após a adolescente reclamar da dificuldade de enxergar e após ser feito um exame de rotina em maio deste ano. O médico informou que não adiantava mais usar óculos, que ela não enxergava nada e que estava com uma doença incurável chamada ceratocone. Eu só sabia chorar. Fiquei completamente desesperada, conta a mãe de Victorya. >
De acordo com o oftalmologista Sebastião Leonardo da Silveira, a ceratocone é uma doença genética da córnea que é a lente natural do olho. Além da córnea, mais internamente, há outra lente chamada cristalina. São, portanto, duas lentes que o olho utiliza para passar a luz e chegar ao fundo, na retina, onde é possível enxergar. A córnea é a primeira lente e há um defeito que ocorre que a deixa mais curva. Naturalmente, a córnea tem uma certa curvatura. Ela não é reta, é meio abaulada. Então fica mais abaulada, mais curva e um pouco mais fina também em algumas pessoas. É um processo progressivo, esclarece. >
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Desse modo, pelo fato da córnea ser mais curva e fina, atrapalha a passagem da luz e, consequentemente, impede a pessoa de enxergar bem. Sabendo que a prevalência da doença varia de 4 a 600 casos por 100 mil indivíduos, segundo dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), o médico, então, destaca os sintomas. Coçar muito os olhos, a visão fica embaçada, mesmo com óculos não melhora, troca os óculos e não fica bom, aponta. >
Victorya lembra que no início ficou muito assustada, já que não conhecia a doença, mas tentava não demonstrar o sentimento. Eu fiquei desesperada. Pensei: 'Meu Deus, eu vou ficar cega! Como conseguirei fazer o que gosto?'". A jovem de 18 anos sempre gostou muito de ler, assistir séries, filmes, navegar pela internet e desenhar. Contudo, teme que essas atividades de tanto prazer não possam mais acontecer. >
Segundo Silveira, existem tratamentos diferentes para cada nível da doença. Em um estágio pequeno, até os óculos podem ajudar. Já se for médio, utiliza-se a lente de contato rígida. E quando é muito avançado, é necessário fazer um transplante de córnea. Hoje o melhor resultado que tem de transplante de córnea é quando a pessoa tem ceratocone, menciona. >
Entretanto, o médico destaca que antes da realização do transplante, quando a doença está evoluindo, é importante fazer um tratamento chamado riboflavina, em que há a aplicação do laser. Usa-se também o laser, mas é um medicamento que coloca na córnea e que ajuda a estabilizar a curvatura, informa. Silveira diz, ainda, que não são em todos os casos, mas para as pessoas que precisam, esse tratamento corrige a ceratocone. Existe solução, seja qual for o grau da evolução do problema. É possível tratar, completa.>
No Sistema Único de Saúde (SUS) foram feitos alguns exames em Victorya e no olho esquerdo, onde a doença mais teve avanço, foi realizada uma cirurgia de crosslinking, que teve o objetivo de minimizar a progressão da ceratocone e evitar um futuro transplante de córnea. >
Apesar da cirurgia, o olho ainda precisa de lentes específicas. No entanto, não são custeadas pelo SUS, de acordo com a família. Além disso, não foi possível realizar a cirurgia no olho direito. Falaram que o hospital não tinha o procedimento e que era preciso esperar. A orientação foi para que retornássemos em março de 2021, avisa Luciana Estevão.>
A mãe da jovem questionou ao médico o que faria até lá, dado que a filha corre risco de perder a visão. Ele disse que não tem o que fazer. No outro olho que não foi operado, a doença pode avançar e ela pode perder a visão, expõe. Se prosseguir, o último estágio é o transplante de córnea, que, segundo a mãe, é uma fila grande a enfrentar. É muito demorada, comunica.>
Luciana explica que a lente, chamada de rígida ou escleral, não fará com que Victorya enxergue totalmente, pois o grau de astigmatismo e miopia da filha é muito alto. A lente, digamos assim, impede a córnea de formar um cone novamente, e de se fechar. Então coloca-se a lente para que ela tenha uma maior amplitude da visão, explica.>
Segundo o médico Sebastião Leonardo da Silveira, o tratamento com a lente de contato rígida, que difere da lente gelatinosa, é usado para modelar e corrigir o formato da córnea. A lente rígida para ceratocone altera a curvatura da córnea e resolve bem, diz. >
A mãe ressalta que a lente, no valor de R$ 5 mil, é muito cara. Além disso, há também colírios com preços altos. Devido à pandemia do novo coronavírus, ela e o marido, Oziel Inacio, ficaram desempregados. Para ajudar com a renda familiar, Luciana passou a fazer um trabalho artesanal e vender havaianas decoradas pelas redes sociais. Entretanto, a situação financeira ainda é muito complicada e a família sofre com a dificuldade de conseguir dinheiro para pagar o tratamento de Victorya.>
De acordo com o oftalmologista Sebastião Leonardo, o que agrava o problema é coçar muito os olhos. Pessoas que coçam muitos olhos têm mais riscos de desenvolver o ceratocone, especialmente as que são alérgicas, fala. Logo, o médico ressalta que não é saudável ficar esfregando o olho de maneira excessiva. Quem coça muito os olhos, deve procurar um oftalmologista para recomendar um colírio e isso não acontecer, comunica. >
Para descobrir a doença, é necessário consultar um oftalmologista e fazer os exames de topografia ou tomografia da córnea. No caso de Victorya, o diagnóstico da doença foi detectado por meio da topografia. >
É importante, portanto, prevenir, cuidar precocemente, para não deixar a doença evoluir. Normalmente, aparece na segunda e terceira década de vida. Quer dizer, na adolescência até os 30 anos. Depois disso, é muito raro esse problema aparecer, pronuncia. >
Embora Victorya tenha tomado conhecimento da doença, ela diz que ainda sente muito medo, por isso, tem dificuldades em pensar no futuro que gostaria de ter. Dessa forma, o sonho de fazer um intercâmbio, terminar o terceiro ano do ensino médio, prestar o vestibular para fazer uma faculdade e conseguir uma vida melhor tanto para ela quanto para a família, ficaram em segundo plano. >
Por causa dessa doença, eu não penso muito lá na frente porque eu não sei o que vai acontecer. Eu quero fazer a cirurgia, quero conseguir ter a possibilidade de comprar essas lentes para que eu possa pensar no meu futuro, finaliza sem conter as lágrimas. >
A Gazeta demandou a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para saber sobre a cirurgia que a jovem precisa fazer e sobre a lente de contato que a adolescente precisa utilizar, que não seria disponibilizada pelo SUS, segundo a família de Victorya. Após a publicação da reportagem, a Sesa respondeu. >
"A Secretaria da Saúde (Sesa) esclarece que trata-se de doença rara de alta complexidade e com poucos especialistas que prestam serviço, mas esclarece que a contratação do serviço está em andamento e deve ser concluída em até 30 dias", finalizou a nota.>
Caso queira ajudar, entre em contato com Luciana pelo número (27) 9 9794-8494.>
Também é possível contribuir fazendo uma doação pela vaquinha on-line #Todos pela Victorya ou pelo PicPay @victorya.estevao.>
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