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Rappers capixabas lançam segundo volume de faixa contra Bolsonaro

Rappers capixabas lançam segundo volume de faixa contra Bolsonaro

"Primavera Fascista 2", lançada no dia 23 de outubro, segue a mesma estética do volume 1 da faixa e já acumula mais de 500 mil visualizações no Youtube

Publicado em 17 de novembro de 2020 às 08:00

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Rappers e produtores que participaram de Primavera Fascista 2
Rappers capixabas se reuniram para lançar nova faixa contra Bolsonaro. (Daniel Pasti)

Lançada no dia 23 de outubro, "Primavera Fascista 2" segue a mesma estética do primeiro volume da faixa, intercalando frases polêmicas do presidente Jair Bolsonaro e de outros representantes do governo como Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro e a ministra Damares Alves com as respostas dos rappers capixabas Bocaum, Noventa, Axant, Akilla, Mary Jane, Vk Mac e Dudu, além de contar com as participações do carioca DK e da paulista Souto MC.

A produção do selo capixaba Setor Proibido possui inserções de frases ditas publicamente e faz um ataque direcionado aos políticos, principalmente a Bolsonaro, durante cerca de 10 minutos. Para Vk Mac, o teor de "Primavera Fascista 2" fez com que a faixa deixasse de ser apenas uma música, para se tornar um manifesto político. "Foi algo que furou a bolha de forma absurda. Virou um ato político, deixou de ser só uma música. Não é só um som, virou um manifesto mesmo", disse.

A faixa nasceu de uma necessidade de se posicionar em relação a uma política considerada desumana, para os rappers. E, para Dudu, isso foi feito de forma direta e objetiva em "Primavera Fascista 2". "Nós somos artistas que veem a necessidade de manifestar algo no trabalho que fazem. 'Primavera Fascista' surgiu dessa necessidade. Foi um trampo que a gente precisou lançar, é uma comunicação sem cortes e sem censura", exclamou.

Confira abaixo a entrevista completa com os rappers Dudu, Vk Mac, Axant e Bocaum, além dos produtores Matheus Potiguara e Filipe Artioli, que contaram sobre o processo de produção da faixa e a importância de uma música de protesto em um contexto no qual vários movimentos políticos e sociais eclodem no mundo todo.

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    Filipe Artioli: O volume 1 foi ideia do Tibery (beatmaker e um dos produtores das duas faixas). Ele começou um beat na época, e falou 'vamos fazer um beat pra rimar contra o governo, contra as eleições'. Nesse segundo, a gente pensou que fosse surgir da mesma forma, que a gente ia pensar: 'caramba, esse beat é 'Primavera Fascista 2'', ou 'isso que a gente tá fazendo aqui agora é 'Primavera fascista 2''. Só que nunca desembolou porque ia ser algo no momento certo. Com a virada do coronavírus, em março, e tudo que começou a acontecer a partir disso, a gente começou a se mobilizar. Foi quando começaram a falar que era o momento. Quando o Tibery começou a produzir um beat e falou 'é isso aqui'. Esse beat ficou parado um tempo, já com as falas, com tudo ali.

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    Dudu: 'Primavera Fascista' não é algo que a gente faz tipo 'agora vamos trabalhar nesse projeto, vamos lançar o 'Primavera Fascista'', acho que a galera vê muito assim. É incrível como em um período de menos de sete meses de 2020, o quanto de desastre de gestão aconteceu, algo absurdo, ninguém estava preparado. O sentimento de 'Primavera Fascista' precisar ser produzido vem disso, vem da revolta.

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    Matheus Potiguara: No volume 1, ficamos com medo da receptividade, se seria um tiro no pé, mas era algo que tínhamos que fazer. Tínhamos um medo de represálias se o Bolsonaro ganhasse, mas não aconteceu. Rolaram várias coisas como ameaças de morte para familiares nossos. Em relação ao governo, a gente não teve nenhuma represália direta. O vídeo foi derrubado do Youtube, mas, fora isso, não teve mais nada. No 'Primavera Fascista 2', a gente já não tinha tanto medo, porque já estamos em um patamar de ter uma distribuidora que é grande no cenário nacional que está por trás de nós. Não estamos sozinhos, temos mais segurança pra lançar.

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    Dudu: Não é uma conversa partidária e não é pra esse lado que a gente quer levar. Não estamos levantando bandeira de partido nenhum. Mas porque tudo isso é tão contra a direita? Quando você cria uma política de exclusão, você automaticamente cria excluídos. Não é uma briga partidária, não é uma briga de internet, não é uma briga com políticos. É uma briga por direitos humanos. A minha rima é isso, é contra essa política desumana que está no regime deste país e a opressão social que está rolando.

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    Matheus: A nossa intenção com essa faixa é furar a bolha. A maioria da população vive nessa bolha e não sai dela, não sabe o que acontece fora dela. Sabemos que essa faixa tem o poder de fazer com que as pessoas abram os olhos. Desde o primeiro volume, recebemos mensagens do tipo 'obrigado, eu nunca tinha parado pra pensar desse jeito', gente agradecendo por ter mudado o posicionamento através de uma música, a intenção é essa. E por mais que sejam 10 minutos de música, são 10 minutos que não deu pra falar um décimo do que a gente queria. Se pudesse ter uma faixa de uma hora, a gente faria. Eu ouvi algumas coisas que não acreditava. Tem uma fala do Witzel sobre a Cidade de Deus, falando que, se tivesse autorização da ONU, jogaria um míssil lá e explodiria aquelas pessoas. O porteiro do seu prédio mora lá, a pessoa que trabalha na sua casa mora lá, pessoas que você convive diariamente estão lá. Aí você tá aplaudindo ou sendo conivente com um governo que fala que pode jogar uma bomba e explodir aquelas pessoas.

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    Filipe: O som é tão didático, do tipo 'cara, senta aqui, ouve esse som e você vai tomar um tapa', sabe? Vi muita gente que ouviu o som e pensou que isso não atingia de forma alguma, ouvindo o que o Bolsonaro falava e votava nele pensando que o que ele dizia não o atingiria. Essas pessoas esquecem que tem um monte de gente que precisa da política lutando por eles, precisa se posicionar quanto a isso. Primavera Fascista 1 e 2 abriu os olhos da galera quanto a isso, pra mostrar que ainda tem muita coisa acontecendo fora dessa bolha.

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    Matheus: Por mais que, na música, a gente fale algumas coisas muito diretas, a gente sabe que não seria tão fatídico dessa forma. Mas eu não esperava que iria ser tanto absurdo sendo feito e falado. Por mais que a gente falasse coisas como que voltaria a ser 1964, a gente não estava falando ao pé da letra. A gente quis dizer que o Bolsonaro tem atitudes que remetem a esse tempo, que é muito sombrio para qualquer ser humano. Mas ficou pior do que a gente esperava.

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    Akilla: Nesse som, eu nem iria participar. Mas chegou um momento em que eu tinha que falar! Tem um monte de gente preta morrendo, muito mais do que morria antes, por causa do governo. Eu cheguei pro Tibery e falei 'cara, tem espaço pra mim no beat?'. Eu fiquei agoniado, não tinha como não me posicionar. A gente sabia que ia ser ruim, mas foi pior ainda! No governo do Bolsonaro, liberou muita coisa ruim que tinha dentro das pessoas. A pessoa que é racista, se revelou racista.

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    Bocaum: 'Primavera Fascista' é um som diferente de qualquer outro som que qualquer um de nós já fez, porque você atinge um público totalmente diferenciado. Ontem, a gente estava aqui extasiado porque a filha da Marielle Franco mandou mensagem para gente. Nós chegamos na filha da Marielle Franco! Acabou se transformando em um hino, é uma mensagem. O rap é quebra de paradigma. Estou há 10 anos na correria e peguei uma época que o rap era nada, era muito pequeno. Eu ia em evento que tinha 10 pessoas, sendo que um era MC, o outro era a namorada do MC e o outro era o DJ, nessa época era isso que rolava. Ver que várias pessoas aqui do ES estão engajadas nesse projeto e ver que a galera subiu junto é incrível. O 'Primavera Fascista', para mim, foi um divisor de águas.

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    Vk: Pra mim foi um dos principais projetos que me mostrou pro Brasil, não só eu como todo mundo aqui. Tiveram outros trabalhos que me mostraram pra fora do Espírito Santo, mas nada tão relevante como foi o 'Primavera Fascista'. É uma das coisas mais importantes que alguém poderia fazer na cena, e fomos nós que fizemos. Ninguém fez algo parecido, algumas outras pessoas lançaram trabalho similares mas não tão direcionados como a gente fez. Muita gente acha que nós não devemos ter opinião política, falar, se manifestar. Eu pude ver um lado ruim da internet também, vimos muito disso. Eu nunca tinha visto alguém comentar em um clipe que queria meter bala em mim. A principal evolução da 1 pra 2 foi que, no 2, a gente já tinha um norte. O objetivo era o mesmo, mas na 1 era um tiro no escuro, não sabíamos o que poderia acontecer. Na 2, já viemos com um olhar mais crítico sobre a situação, até por saber o impacto que a gente podia causar.

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    Filipe: Se a gente sentir que está precisando de novo, vai rolar. Você vê probabilidade de melhorar? Não. Então, provavelmente vai ter!

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    Bocaum: Temos como inspiração o Bolsonaro, então se for pra fazer um 'Primavera Fascista 3' agora, aposto que todos aqui já tem rimas, porque tem material pra isso. É engraçado que, no 'Primavera 1', a gente usou frases que ele tinha falado há muito tempo atrás, na época que ele era deputado, quando ele era novo ainda. Eu pensava que agora, como ele estava já como presidente, que ele seria mais moldado, mais consciente. Mas cara, com um mês de governo, o cara já tinha falado tanta doideira que eu pensei 'é, vai sair o 2'. Então, quem sabe, pode ser que tenha um volume 3, sim.

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