Publicado em 12 de março de 2020 às 15:39
Autor do projeto do Cais das Artes, o arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha está em Vitória para participar do evento A Partir do Centro, que acontece nesta quinta-feira (12), no Teatro Sônia Cabral, no Centro, a partir das 19h. >
Em palestra de abertura, Paulo apresentará sua extensa obra arquitetônica estabelecida em vários pontos do planeta. Seu trabalho tem contribuído para a requalificação de áreas centrais das cidades e será um dos pontos de debate do evento capixaba, que se estende até o final de março. >
Em conversa com o Divirta-se, Paulo Mendes afirmou que vê os atrasos nas obras no Cais das Artes - que já duram cerca de dez anos - como normais. Seu otimismo contrasta com a frase dita por ele mesmo no lançamento do projeto, em 2008: "Eu só espero que se construa", disse na época ao jornal A Gazeta.>
O projeto começou a ser tocado em 2010, ainda sob o gerenciamento do governador Paulo Hartung. Orçado inicialmente em R$ 115 milhões, especula-se que os gastos - entre paralisações e disputas judiciais - devam passar os R$ 230 milhões. >
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Há toda uma estrutura diferente em cada gestão governamental. As grandes obras públicas sempre passam por esses entraves e têm os seus prazos ampliados, afirma, dizendo que projetos ambiciosos como o Cais das Artes quase sempre dependem de um tempo de trabalho maior do que a prazo de uma administração pública, que, normalmente, é de quatro a oito anos. >
Há toda uma questão burocrática que demanda tempo, como licitações de empreiteiras e de material. O que importa é que vejo na atual gestão (sob o comando de Renato Casagrande) uma força de vontade para seguir com o projeto, o que é louvável.">
Paulo Mendes da Rocha tem uma reunião marcada com Casagrande para a tarde desta quinta-feira (12). Em pauta, os rumos da empreitada e as adequações do projeto para a sua nova realidade. É importante continuar com a construção e tirar dela o incômodo rótulo de inacabada, defende o arquiteto, de 91 anos.>
Nascido no Centro de Vitória, em 1928, Paulo Mendes da Rocha recebeu prêmios como o Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura; o Leão de Ouro, em Veneza; e o Imperiale, no Japão. Ele assina obras emblemáticas, como o Museu dos Coches, em Portugal; a Pinacoteca de São Paulo; o Museu da Língua Portuguesa, também na capital paulistana; e o estádio do Serra Dourada, em Goiânia (GO), inaugurado em 1975 e considerado por muitos anos o mais moderno do país. >
Paulo fala com muito carinho do Cais das Artes que, segundo ele, veio para atender as necessidades da classe artística capixaba. >
Foi uma iniciativa encampada pelo ex-governador Paulo Hartung. Tínhamos a ideia de investir em um teatro capaz de receber espetáculos de grande porte, como óperas, com todos os quesitos técnicos e físicos exigidos, como um fosso de orquestra, por exemplo. Se for feito de acordo com a ideia inicial, teremos uma estrutura capaz de acolher montagens sofisticadas, explica. O teatro deve contar com cerca de 1,3 mil lugares.>
O local também abrigará um moderno museu de arte. Meu objetivo é pensar sempre no estímulo à educação. Não é necessário inaugurá-lo para abrigar acervos especiais ou grandes exposições. Temos o exemplo do MOMA, de Nova York, que está sendo reestruturado e investindo-se cada vez mais em projetos educativos, exemplifica.>
De acordo com o arquiteto, os benefícios culturais que o Cais das Artes vai trazer à população dependem exclusivamente da gestão pública. É um trabalho que vai além da arquitetura. São necessários bons gestores culturais e administrativos, criando uma programação voltada para educar a sociedade de maneira mais ampla.>
Durante a passagem pelo Estado, Paulo Mendes da Rocha também foi homenageado pela Universidade Federal do Espírito Santo, onde recebeu o título de Doutor Honoris Causa, na última quarta (11).>
Foi comovente estar e ser reconhecido em uma escola onde a arquitetura é forte, um lugar de aprendizado. Vejo isso como um estímulo para continuar trabalhando. Passar por isso em minha terra natal é sempre uma emoção a mais, avalia.>
Desconversando, Paulo prefere não falar sobre projetos futuros. A minha rotina é não saber o que vou fazer amanhã. É preciso ter coragem para enfrentar a vida, que é sempre uma surpresa", brinca, garantindo que não pensa em aposentadoria.>
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