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Justiça suspende decisão que barrou apoio a festival de jazz 'antifascista'

Justiça suspende decisão que barrou apoio a festival de jazz 'antifascista'

Funarte precisará reavaliar imediatamente pedido de captação de verba via Lei Rouanet pelo Festival de Jazz do Capão

Publicado em 18 de agosto de 2021 às 16:32

Postagem do Festival de Jazz do Capão no Facebook em 1º de junho
Postagem do Festival de Jazz do Capão no Facebook em 1º de junho Crédito: Facebook/Reprodução

A Justiça Federal da Bahia determinou na manhã desta quarta-feira (18) a suspensão de uma decisão do governo Bolsonaro que barrou a captação de verba pública pelo Festival de Jazz do Capão com um parecer técnico que cita Deus e outras referências religiosas.

O parecer, elaborado pela Funarte, a Fundação Nacional de Artes, apontou uma publicação no Facebook do festival que o descrevia como "antifascista e pela democracia" como um dos motivos para impedi-lo de captar recursos via Lei Rouanet.

"O objetivo e finalidade maior de toda música não deveria ser nenhum outro além da glória de Deus e a renovação da alma", dizia o início do parecer técnico, parafraseando o compositor Johann Sebastian Bach.

Com isso, a Funarte precisará reanalisar o pedido de captação imediatamente. O juiz Eduardo Gomes Carqueija, que assina a decisão, afirma que o primeiro parecer, elaborado por um assessor técnico que foi exonerado, violou o princípio da impessoalidade.

"Cabe à arte uma função disruptiva, o que eventualmente causa incômodo, repulsa e revolta", escreveu o magistrado. "[Mas] há de se respeitar a impessoalidade que é própria das manifestações de Estado, sem se confundir com os anseios do governo instalado."

A ação foi ajuizada por deputados de oposição que acompanham a gestão cultural de Bolsonaro, entregue ao ator Mario Frias, ex-galã teen de "Malhação", e a um ex-policial militar que, mesmo sem experiência com cultura, comanda quase que exclusivamente a captação de recursos via Lei Rouanet.

Em paralelo, o Ministério Público Federal instaurou um inquérito civil para apurar o parecer que barrou o festival. O órgão já investiga, desde o ano retrasado, suspeitas de impessoalidade em decisões da Funarte.

O festival, que ocorre desde 2010 na Chapada Diamantina, na Bahia, recebeu apoio de Paulo Coelho após ter sido barrado pela Funarte. O escritor ofereceu uma doação de R$ 145 mil para manter a realização do evento, que será virtual devido à pandemia de Covid-19.

A Funarte foi procurada pela reportagem, mas não retornou até a publicação da reportagem.

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