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Editoras capixabas contam como estão se reinventando na pandemia

Editoras capixabas contam como estão se reinventando na pandemia

Profissionais da área relatam quais foram as soluções encontradas para manter as empresas funcionando

Publicado em 25 de julho de 2020 às 13:00

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Editoras capixabas se reinventam durante a pandemia.
Editoras capixabas se reinventam durante a pandemia. . (Montagem/ Canva)

O isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus se tornou uma fator limitante para as editoras capixabas. Com a impossibilidade de haver aglomerações ao redor de autores para bate-papos e lançamentos, o fomento da literatura teve que ganhar novas facetas.

O ano de 2020 começava bem para as editoras brasileiras com o aumento de 6,1% registrado em 2019, como revelado na pesquisa da Nielsen Book, “Produção e Venda do Setor Editorial”. Porém, a chegada da pandemia se tornou um fator agravante econômico.

Dados da Liga Brasileira de editoras revelados em abril mostram que 78% das editoras independentes esperam uma queda de mais de 25% em seu faturamento neste ano. Um dos motivos foi o adiamento de lançamentos, atitude tomada pela maioria delas. Como saída, 37,4% das editoras decidiram antecipar o lançamento de títulos no formato digital e 39% passaram a fazer edições em e-books que não eram planejadas.

EDITORAS DO ES

O editor da Maré, Gustavo Binda, conta que a falta dos eventos físicos, em que havia um “tete a tete” entre escritores e o público tem sido o maior desafio durante a quarentena. Quem também encara esta falta de eventos presenciais como o grande limitador é o editor e responsável pela Editora Cândida, Alfredo Andrade.

Ele afirma que, a princípio, tentou segurar as publicações, visando poder fazê-las de forma presencial em um momento próximo, mas o tempo de reclusão se estendeu. A Cândida passou então a fazer lançamentos virtuais. “Mas não se compara a um evento presencial”, comenta Andrade.

A editora Cousa, com sede na Rua Gama Rosa, está com seus locais físicos fechados e também tem se dedicado a fazer eventos on-line. O proprietário e editor Saulo Ribeiro relata que tem conseguido aumentar a presença da empresa na área digital. No entanto, é outro profissional da área que vê a falta de eventos como grande dificultador. “Sempre digo que a literatura é uma luta  de solo. O outro tem que estar perto”, explica.

“A pandemia veio em um momento em que já tínhamos uma programação toda organizada”, é o que conta a editora da Pedregulho, Marília Fernandes, a respeito dos sarais e lançamentos desenvolvidos pela editora, que foram cancelados pela quarentena. O fato dificultou a difusão das obras, que tinham o seu maior momento de vendas durante eventos, garante Fernandes. 

Alfredo Andrade, editor da Cândida(Arquivo Pessoal/ Alfredo Andrade)

SOLUÇÕES E NOVAS POSSIBILIDADES

Além dos lançamentos de obras on-line, fomento das redes sociais e de serviço de delivery de livros, outras soluções para a sobrevivência no período de isolamento têm sido buscadas.

A editora Maré focou em se especializar em livros digitais, abrindo novas possibilidades de mercado. “Mesmo os livros físicos sendo entregues por correio ou delivery, eles ainda podem ser um vetor do vírus. Então a procura por e-books aumentou”, pontuou Binda. A Maré firmou inclusive uma parceria com a Amazon, para venda de suas produções digitais na plataforma.

Na Pedregulho, os e-books também tem ganhado destaque. Fernandes conta que a partir de março a demanda por eles aumentou e, desde então, foram publicados seis títulos. A editora também conta que eventos on-line estão sendo programados e que está organizando a publicação de uma obra para distribuição gratuita.

Já na Cousa, a estratégia econômica tem sido vender kits que juntam culinária e literatura, contendo café, um doce e uma obra. “As pessoas recebem o kit e já ligam querendo mandar para familiares e amigos. Muitas delas não tinham o hábito da leitura”, conta Saulo, que vê o produto como uma possibilidade de difusão literária que não existia antes na editora.

Aspas de citação

O primeiro momento foi desesperador, a gente nem sabia se iríamos ficar vivos. Depois, naturalmente, fomos achando um caminho, testando, tendo novas ideias. 

Saulo Ribeiro 
Editor e dono da Editora Cousa
Aspas de citação

AS PESSOAS ESTÃO BUSCANDO MAIS LIVROS?

Alfredo Andrade, da Cândida, conta que tem visto um aumento na procura por livros e enxerga esse cenário como uma oportunidade de aumentar a editora digital, que atualmente ainda tem um público restrito.

Na Editora Cândida a visão é de que as pessoas tem comprado mais livros e essa também é a análise feita por Saulo Ribeiro. “Algumas pessoas do nosso público perderam poder aquisitivo, mas como não estão saindo, talvez tenha sobrado para comprar obras”, é o que explica o editor da Cousa, que também viu um crescimento no consumo dos livros.

Na Pedregulho, menos livros físicos tem sido procurados, mas houve um aumento da demanda por exemplares digitais, é o que garante Marília Fernandes. Além disso, a editora conta que se surpreendeu com a busca por livros por parte de um público de outras regiões, como o Sul e o Nordeste.

AUTORES QUERENDO SER PUBLICADOS

Voltando o olhar para os autores, de acordo com Binda e Ribeiro, eles têm procurado mais as editoras. “Acho que o isolamento fez com que muitos projetos saíssem da gaveta”, comenta Saulo. Na Maré, o serviço de auxílio a autores que estão no processo de escrita tem sido muito requisitado, foi o que contou Binda. 

O relato da sobre a Pedregulho não é diferente: “Do começo do ano para cá, tem aparecido mais pessoas interessadas em conversar sobre a produção, se cabe fazer livro ou não”, explica Fernandes. 

ESPAÇO FÍSICO

As editoras Cândida e Maré funcionam apenas virtualmente, o que acaba sendo menos um gasto na pandemia. Já a Cousa, que atualmente está com três ambientes físicos fechados, tem sofrido os impactos da falta de caixa provido pela cafeteria que funciona na sede e pelos custos de manter os locais.

Apesar da possibilidade de a sede estar funcionando, Saulo conta que a escolha por se manterem fechados se deve ao tempo  de funcionamento liberado pelo governo estadual não atender as necessidades da loja, sendo ele de 10h às 16h, de segunda a sexta. “O nosso público é muito consciente, ele sabe que o momento é delicado. Se a gente mantivesse a loja aberta, seria muito incoerente", acrescenta.

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Na Maré, Binda conta que existem planos para uma loja física, mas que eles ficaram para depois da pandemia.

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