Publicado em 18 de maio de 2020 às 15:20
Desde que assumiu a presidência da Petrobras no início do governo Jair Bolsonaro, o economista Roberto Castello Branco passou a usar a expressão "cemitério da corrupção" para se referir ao maior projeto da estatal iniciado nas gestões petistas, que completará em junho 14 anos de obras inacabadas.>
Desenhado para ser um grande polo produtor de combustíveis e produtos químicos, o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) se tornou um sorvedouro de dinheiro e, mesmo quando concluído, não produzirá nem uma gota dos produtos para os quais foi concebido.>
Agora com foco no tratamento de gás natural, o projeto foi rebatizado Gaslub Itaboraí (nome da cidade onde está sediado, na região metropolitana do Rio). Em entrevista nesta sexta (15), Castello Branco repetiu a expressão do início do texto e explicou a mudança de nome.>
"Também conhecido como cemitério da corrupção, o Comperj está mudando de nome. O seu nome ficou manchado pela corrupção", disse o executivo. "O seu nome agora é Gaslub Itaboraí", reforçou.>
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As obras do projeto foram iniciadas em 2008, em cerimônia com a presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Naquele, os investimentos eram estimados em US$ 6,5 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões, ao câmbio da época) e o início das operações foi previsto para 2012.>
Era celebrado como o maior projeto individual da história da Petrobras. Na cerimônia de lançamento da pedra fundamental, Lula falou em "conquista tecnológica histórica" e comemorou os esperados impactos econômicos na cidade e na região.>
O terreno de 2,5 mil hectares -o equivalente a três vezes o bairro de Copacabana, na zona sul do Rio--teria, em uma primeira fase, uma refinaria com capacidade para processar 150 mil barris de petróleo, cercada por fábricas de produtos químicos.>
No entorno, a Petrobras previa plantar um cinturão verde, com o plantio de quatro milhões de árvores, conforme orgulhava-se o então diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa. Líder do projeto, ele foi preso pela Lava Jato em 2013, tornando-se o primeiro delator do esquema de corrupção na estatal.>
A construção da refinaria foi paralisada em 2015, após desentendimentos com o consórcio contratado nas gestões petistas para as obras. Desde o início da Lava Jato, a Petrobras já contabilizou em balanço perdas de R$ 28 bilhões com o negócio.>
No governo Michel Temer, a estatal chegou a tentar retomar o projeto original, em parceria com a chinesa CNPC, mas as conversas foram interrompidas no ano passado, sob o argumento de que o negócio não tem viabilidade econômica.>
A gestão Castello Branco iniciou estudos para converter parte das instalações onde seria refinado o petróleo em uma fábrica de lubrificantes. Com os efeitos da crise do coronavírus nos negócios da companhia, a empresa, porém, está reavaliando seus planos de investimento.>
Atualmente, a estatal mantém no local obras para uma unidade de processamento de gás natural, que receberá a produção do pré-sal para tratamento antes da injeção na malha brasileira de gasodutos. O projeto, porém, também deve sofrer atrasos diante da pandemia do novo coronavírus.>
No fim de março, parte das obras foi novamente paralisada, desta vez a pedido da prefeitura de Itaboraí, para reduzir o fluxo de trabalhadores e reduzir o risco de contaminação pelo novo coronavírus. Segundo a Petrobras, foi mantido apenas 30% do contingente, com o afastamento temporário de cerca de 4.000 trabalhadores.>
A Petrobras disse que o cronograma será reavaliado, mas ainda não informou novos prazos. O cronograma original prevê início das operações em 2021.>
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