Publicado em 28 de julho de 2020 às 07:48
A pandemia do novo coronavírus impactou a agricultura familiar e pode afetar a distribuição de alimentos na América Latina, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). >
O estudo mostrou que 93% dos agricultores familiares já percebem os efeitos da crise gerada pelo vírus à região.>
Entre os aspectos que afetam a atividade produtiva, 53% dos entrevistados apontaram a falta de equipamentos e protocolos de proteção. Segundo 50%, a pandemia também afetou o transporte e a distribuição de alimentos.>
Dificuldades como acesso a crédito (49%) e capacidade de armazenamento (43%) também foram citadas.>
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Para 70% dos entrevistados, a renda dos agricultores familiares diminuiu durante a pandemia. A redução da demanda derrubou os preços dos produtos e o volume de vendas.>
A pandemia ainda reduziu a mobilidade e o acesso aos mercados devido às medidas de distanciamento social adotadas.>
A maioria dos entrevistados (47%) afirma que, em geral, os preços durante a pandemia permaneceram estáveis. Para 37%, há uma tendência de queda nos valores de produtos vendidos pelos agricultores familiares.>
A pesquisa foi feita entre 11 e 22 de maio com 118 pessoas de 29 países da América Latina e Caribe. Entre os entrevistados, estão profissionais ligados a instituições públicas, organizações agrícolas, da academia e do setor privado.>
O agricultor José Raimundo de Souza, 63, viu sua renda encolher 70% durante a pandemia. Ele produz hortaliças e mandioca no Distrito Federal e contou que, com o fechamento dos restaurantes, as vendas despencaram.>
"Com o delivery, os restaurantes seguram somente cerca de 40% do faturamento. No inverno, sempre temos baixa, mas com a pandemia foi pior", disse Souza.>
O agricultor afirmou que a pandemia não afetou a produção, mas inviabilizou a comercialização. "De 300 caixas produzidas [por colheita], se conseguimos vender 100 é muito".>
Souza tem quatro hectares de terra plantados e conta com a ajuda dos quatro filhos e noras para a colheita. "As contas continuam chegando, e temos que nos virar.">
O fechamento de pontos de venda tradicionais foi indicado por 66% dos entrevistados como o aspecto que mais afeta o suprimento de alimentos em meio à pandemia, seguido pela falta de transporte para os pontos de venda (52%) e pelas condições de manuseio pós-colheita (51%).>
De acordo com os consultados, os produtos mais impactados pela Covid-19 (88%) se dividem em cinco grupos: grãos e cereais, vegetais, frutas, tubérculos e carnes.>
A pesquisa constatou que os mais afetados são tomate, cebola, repolho e produtos da aquicultura (tratamento de água para criação de peixe e crustáceos para consumo), o que pode reduzir o volume de produção desses alimentos.>
Já milho, feijão, cereais, batata e mandioca, na percepção dos agricultores, devem ter o volume de produção mantido ou aumentado.>
O estudo tem o objetivo de monitorar a produção agrícola familiar na região e busca identificar se, na opinião dos entrevistados, a pandemia já gera repercussões negativas e quais itens teriam seus volumes de produção reduzidos nos próximos seis meses.>
Para cerca de dois terços dos consultados, ainda não há problemas de fornecimento de alimentos importados.>
No entanto, alguns itens já começam a faltar dentro de certos países, como máquinas agrícolas e peças de reposição, sementes, grãos e cereais - especialmente milho e arroz -, além de algumas frutas e vegetais.>
"Diante de um cenário pós-pandêmico, surge a necessidade de considerar a agricultura como um setor estratégico para a reativação da economia, sendo essencial fortalecer o desempenho dos agricultores familiares e os circuitos curtos de comercialização de alimentos", afirmou o diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura, Manuel Otero.>
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