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Militares entram em cena para manter general na presidência da Petrobras

Militares entram em cena para manter general na presidência da Petrobras

Liderados pelo vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, militares se articularam para convencer Bolsonaro de que não há nada de errado na política de preços

Publicado em 15 de março de 2022 às 09:58

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JULIO WIZIACK, JULIA CHAIB E NICOLA PAMPLONA

Militares das mais altas patentes se juntaram para conter as articulações políticas pela retirada do general Joaquim Silva e Luna da presidência da Petrobras. A movimentação defensiva surgiu no final de semana após filhos do presidente Jair Bolsonaro (PL) publicarem críticas contra a gestão do general em suas redes sociais.

Edifício sede da Petrobras
Edifício sede da Petrobras. ( Fernando Frazão/Agência Brasil)

Liderados pelo vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, os militares se articularam para convencer Bolsonaro de que não há nada de errado na política de preços da Petrobras. O grupo argumenta que, a partir de agora, as medidas aprovadas no Congresso serão suficientes para aparar as arestas entre a empresa, que defende os acionistas, e o governo, que detém o controle acionário.

A tendência, na avaliação dessa ala, é que os preços caiam não só com a redução do ICMS como pela baixa na cotação do petróleo devido a um possível arrefecimento na guerra entre Rússia e Ucrânia. Após quase dois meses sem fazer reajustes e às vésperas de mudanças drásticas na tributação de combustíveis, a Petrobras anunciou um reajuste de 19% sobre a gasolina nas refinarias e de 25% no diesel. Em postos de locais mais afastados do país, como no Acre, o litro da gasolina chegou a R$ 11.

Na semana passada, em reuniões privadas, Bolsonaro demonstrou contrariedade com a atitude da Petrobras. O presidente queria ter o projeto de redução e uniformização do ICMS aprovado pelo Congresso antes do reajuste nas bombas. Se tivesse sido dessa forma, Bolsonaro teria apresentado uma solução imediata ao problema. Assim, o presidente, que pretende disputar a reeleição, reduziria os danos em sua popularidade com o eleitorado.

Na Economia, assessores do ministro Paulo Guedes confirmaram o "jogo combinado". A estratégia, no entanto, saiu do controle porque a Petrobras anunciou o reajuste antes do resultado final da votação do projeto de lei do ICMS no Congresso.

O general Silva e Luna, por sua vez, não demonstra constrangimento e afirmou à Reuters nesta segunda (14) que não deixará o cargo. "Sou soldado. O campo de batalha é a minha zona de conforto. Não fujo do campo de batalha, abandonando a minha tropa. Não há crise", disse. Mesmo reservadamente o general tem indicado que não pedirá demissão.

Luna foi escolhido como presidente da Petrobras no ano passado, depois de uma operação similar à atual e que levou à saída do economista Roberto Castello Branco, nome ligado a Guedes. Naquele momento, o desgaste também foi causado por reajustes de preços de combustíveis seguindo a política de repasse praticamente integral da cotação do petróleo. Desta vez, a Petrobras vinha contingenciando os repasses, o que gerou uma defasagem de cerca de 30% na gasolina e 40% no diesel.

Essa diferença levou a uma redução temporária de receita com impacto sobre o resultado da companhia. Acionistas da empresa fizeram chegar ao Planalto alertas de que poderiam recorrer à Justiça para que essas perdas fossem cobertas pela União -algo previsto no estatuto da empresa.

A pandemia e a guerra na Ucrânia fizeram os preços do barril de petróleo disparar, atingindo R$ 140 o barril, pressionando a Petrobras para fazer mais reajustes - que vinham sendo segurados. Os combustíveis são um dos itens que mais pesam no cálculo da inflação. Economistas já calculam que o teto da meta (5%) deve ser estourado novamente neste ano.

Após o reajuste anunciado pela Petrobras na semana passada, analistas de mercado ouvidos pelo Banco Central elevaram suas estimativas de inflação para acima dos 6%. 

Com a alta do petróleo, muitos importadores deixaram de abastecer centros importantes do país, especialmente Norte e Nordeste, forçando a Petrobras a importar mais para atender essas regiões. Silva e Luna chegou a afirmar que, sem o reajuste, para tornar essas operações locais rentáveis, haveria risco de desabastecimento.

No entanto, no fim de semana, políticos ligados ao ministro Ciro Nogueira (PP-PI), viram uma brecha para pressionar o Planalto pela troca do general como forma de ganhar mais espaço de controle no setor de energia, petróleo e gás. Essa ala trava uma disputa com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, por indicações em empresas e agências reguladoras do setor.

Líder nas pesquisas, o ex-presidente Lula aproveitou o tema para atacar Bolsonaro nas redes sociais, o que deu mais força para o movimento no Planalto contra Silva e Luna. Atento a esses movimentos, Mourão começou a se articular com outros generais para conter essa artilharia. Liderados pelo vice-presidente, militares se mobilizaram para convencer a ala mais próxima de Bolsonaro a não colocar Rodolfo Landim no lugar de Silva e Luna.

Landim, presidente do Flamengo, vai assumir uma cadeira no conselho da estatal. Nos bastidores, assessores do presidente comentam que Landim renunciaria à presidência do conselho caso fosse escolhido para ocupar o comando da companhia. Sua nomeação para o colegiado é vista dentro da empresa como um passo para facilitar eventual troca no comando da estatal, já que o presidente da companhia deve ser primeiro eleito para o conselho.

Assim, o governo evitaria a necessidade de manter um interino enquanto os prazos legais para a eleição de um novo conselheiro de administração são respeitados.

Nesta segunda, Mourão afirmou que o general Silva e Luna aguenta a pressão, "como bom nordestino". "Silva e Luna é resiliente, sempre foi. Como bom nordestino, aguenta pressão." O general é pernambucano. Consultado, no entanto, Mourão negou integrar esse movimento de apoio ao presidente da Petrobras.

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