Publicado em 2 de fevereiro de 2021 às 10:08
- Atualizado Data inválida
Divergências na política de investimento nas redes 5G determinadas pelo Ministério das Comunicações levaram o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) a pedir, nesta segunda-feira (1º), o adiamento da votação que definiria as regras do leilão previsto para junho. >
Leonardo de Moraes paralisou o processo até o final de fevereiro com um pedido de vista. Ele considerou a existência de "pontos que ainda exigiam debate".>
Mesmo assim, três dos cinco conselheiros declararam voto favorável à proposta do relator, Carlos Baigorri -o que levantou suspeitas de um racha na Anatel em relação às regras do 5G. Os três votos sinalizam que existe maioria em torno da proposta do relator.>
Embora haja pontos divergentes entre os conselheiros, o que pesou foi um impasse surgido no final de semana entre o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD-RN), e as operadoras de telefonia, que disputarão o certame.>
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Pessoas no governo que participaram das discussões no final de semana afirmam que, no centro das controvérsias, está a portaria publicada na última sexta-feira (29) em edição extraordinária do Diário Oficial que definiu como parte das obrigações a cobertura de celular nas estradas federais e a construção de uma rede pública e fechada para o governo de Jair Bolsonaro.>
Inicialmente, as operadoras não se opuseram a esse investimento que entrou no edital como uma das contrapartidas.>
No arranjo acordado com o Palácio do Planalto, seria uma forma de viabilizar a participação da chinesa Huawei na construção das redes privadas de 5G.>
O governo ficaria com sua própria rede (fixa e móvel) sem equipamentos da gigante chinesa. Essa infraestrutura seria construída com dinheiro das teles para atender órgãos públicos federais em Brasília.>
No entanto, a portaria foi publicada incluindo outros órgãos de segurança e fiscalização nos estados, o que tornaria essa rede muito mais abrangente.>
Além disso, as teles reclamaram ao ministro que, apesar de aceitarem a cobertura de celular em estradas federais, não esperavam que tantas rodovias fossem incluídas como contrapartida. A portaria contempla quase 50 mil quilômetros de estradas, mais que o dobro do combinado anteriormente.>
A portaria também incomodou o ministro da Economia, Paulo Guedes, que viu nas contrapartidas exigidas das teles uma tentativa do governo de impedir a privatização da Telebras.>
Isso porque, assim que ficar pronta, essa rede passará para o controle da União e a Telebras surgiria naturalmente como operadora.>
As controvérsias levaram o ministro das Comunicações, Fábio Faria, a rever a portaria, o que deve ocorrer até terça-feira (2).>
Também pesaram para o pedido de vista na Anatel outros aspectos técnicos que o relator colocou no texto sem uma discussão mais ampla com os demais integrantes do conselho.>
Pelas regras do leilão, o que a agência considerar contrapartida será abatido do valor do lance de cada faixa de frequência. Ou seja, o leilão do 5G não deve ser um leilão arrecadatório.>
Serão quatro faixas de frequências e na faixa de 3,5 GHz, mais comumente usada para o 5G, uma das obrigações será a construção da rede privativa para o governo Bolsonaro. Frequências são como avenidas no ar por onde as teles fazem trafegar seus sinais. Fora delas há interferências.>
As teles esperavam abater do lance mínimo dessa faixa de frequência os investimentos realizados nas redes existentes por onde elas já prestam o serviço 5G.>
No entanto, para o relator, seria como permitir que a União contratasse uma "Ferrari" (rede 5G puro-sangue, conhecida como Stand-Alone) e, ao final, tivesse que aceitar a entrega de "um Fusca".>
Baigorri decidiu então amarrar no edital a exigência de que elas construam redes novas 5G (Stand-Alone) começando do zero -ou seja, sem abater investimentos realizados nas redes 4G para a oferta do serviço conhecido popularmente como "tipo 5G".>
Para ele, seria a única forma de garantir que o país terá acesso a uma rede que abrirá caminho para a conversa entre máquinas, a telemedicina avançada, cidades inteligentes, dentre outras infinitas funcionalidades que, para ele, trarão "uma nova revolução industrial".>
Algumas operadoras esperavam oferecer o serviço 5G pelas redes atuais por meio da exploração de softwares -que liberam faixas exclusivas do 4G para os clientes 5G- até que consigam ter fôlego para fazer investimentos em uma nova rede 5G.>
Isso porque as empresas ainda não conseguiram amortizar os investimentos da rede 4G.>
O conselheiro Baigorri discordou desse pedido porque considera que, por se tratar de uma contrapartida (a ser descontada do lance mínimo de cada faixa de frequência), cabe à União decidir os padrões de investimento e tecnológicos dessa rede.>
Outra divergência com as operadoras se deve à proposta de migração das empresas de satélites para outra faixa de frequência. Hoje elas operam em 3,5GHz, que será destinada para o 5G.>
Antenas parabólicas captam sinais de TVs abertas nessa frequência principalmente em locais onde não chegam os sinais das antenas convencionais de TV.>
Inicialmente, as teles queriam pagar pela distribuição de filtros que mitigassem essa interferência, uma operação que, segunda as teles, custaria cerca de R$ 500 milhões.>
As emissoras preferiam a migração dos satélites para uma outra faixa, conhecida como banda ku -essa foi a solução adotada por Baigorri na proposta de edital.>
Para essa operação, seria preciso que cada proprietário de antena parabólica recebesse um novo aparelho decodificador. As teles dizem que isso custará cerca de R$ 2 bilhões -R$ 1,5 bilhão a mais.>
Apesar de esse valor ser abatido (incluído como contrapartida) do lance mínimo, elas questionam essa decisão. Dizem que é ilegal sem que haja uma mudança do arcabouço jurídico - o que ainda não ocorreu.>
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