Publicado em 3 de janeiro de 2021 às 09:53
- Atualizado há 5 anos
Na reta final para o acerto das regras do leilão do 5G, previsto para junho de 2021, as operadoras ainda aguardam uma posição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o possível banimento da Huawei.>
A gigante chinesa lidera a tecnologia de equipamentos de quinta geração no mundo.>
Para as teles, a derrota de Donald Trump para o democrata Joe Biden promete arrefecer o clima hostil da ala ideológica do governo que resiste à fabricante chinesa.>
Lideram o grupo o Ministério das Relações Exteriores e o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência da República.>
>
Assessores do Planalto avaliam a necessidade de substituição do chanceler Ernesto Araújo, que ficou muito marcado por sua defesa ferrenha da parceria estratégica com Trump e da política que levou, por exemplo, ambos os países a descuidar das boas práticas de proteção ambiental.>
Um dos nomes cogitados para sua substituição é o da embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo.>
Conhecida como Lelé, ela é casada com Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), que foi contratado para ser um dos principais executivos da Pepsi nos EUA.>
Assessores presidenciais consideram que Lelé conseguiria refazer as pontes com Biden. Até hoje Bolsonaro não enviou uma mensagem pela vitória nas eleições presidenciais. Ele reconheceu a vitória em redes sociais.>
Auxiliares de Bolsonaro consideram ainda que, embora a disputa comercial entre EUA e China continue, ela deverá mudar de formato, especialmente em relação à Huawei.>
O alinhamento de Bolsonaro com Trump permitiu, por exemplo, que o embaixador dos EUA, Todd Chapman, pressionasse o governo brasileiro e até as operadoras pelo banimento da fabricante chinesa.>
Em carta, Chapman chegou a convocar uma reunião para saber dos planos das teles para a construção das redes 5G.>
Em conjunto, as empresas se recusaram a comparecer. Viram no convite uma afronta à soberania nacional, uma mistura indevida entre o interesse público dos EUA com o interesse privado nacional.>
No entanto, na avaliação de assessores do Planalto, a amizade de Chapman com a família Bolsonaro cacifa o embaixador a continuar no cargo.>
Embora tenham experimentado um ambiente mais refratário no Palácio, os chineses da Huawei conseguiram convencer deputados e senadores a criar comissões para buscar saídas legislativas caso Bolsonaro decida pelo banimento.>
No Congresso, a posição de líderes partidários é a de que o Brasil não deveria comprar uma "briga de cachorros grandes". Estão preocupados com o cenário apresentado pelas teles de que um banimento, nas redes 5G, ou em toda a rede (3G e 4G), não só tornará o 5G mais caro como atrasará sua implementação.>
Isso porque seria preciso trocar todos os equipamentos da Huawei em uso nas redes das operadoras, umas vez que eles não conversam com o aparato 5G das concorrentes.>
No fim de novembro, executivos da Huawei estiveram com técnicos e assessores do general Augusto Heleno. O ministro do GSI não participou do encontro e mandou um técnico conhecido por sua experiência em cibersegurança.>
Na conversa, os representantes da Huawei disseram que seguem todas os padrões internacionais de segurança e que têm centros de pesquisa em cibersegurança em parceria com os mais diferentes países.>
A empresa convidou os integrantes do GSI a conhecer e usar qualquer desses laboratórios para testes ou avaliação.>
Também fizeram questão de reforçar que a Huawei é a única fornecedora de equipamentos para as redes do Serpro, empresa que processa toda a folha de pagamento da Previdência, por exemplo.>
Eles disseram que dados da Receita Federal também são armazenados em equipamentos da Huawei e que, até hoje, nunca houve um caso de roubo ou vazamento de dados devido a supostas fragilidades dos aparelhos.>
Os sistemas da Caixa, do Banco do Brasil e até do Banco Central são equipados com Huawei.>
No Ministério da Economia, no entanto, houve uma ligeira mudança de tom na conversa com os chineses desde que a Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, comandada por Carlos da Costa, passou a preparar um estudo sobre as práticas de empresas chinesas no país.>
Na última reunião com o ministro Paulo Guedes (Economia) e alguns de seus secretários, os representantes da Huawei tiveram de responder a perguntas de Costa sobre procedimentos da empresa no Brasil e no mundo. Ele queria saber, por exemplo, se a Huawei era auditada, quem era o controlador.>
A ideia, segundo pessoas que acompanham esse assunto no ministério, é descobrir se empresas chinesas ferem, de alguma forma, padrões do livre mercado.>
Ainda que o estudo chegue a alguma conclusão, não se sabe de que forma isso poderia gerar uma retaliação à Huawei no fornecimento de equipamentos para as operadoras.>
Na reunião com o ministro Fábio Faria (Comunicações), ocorrida no início de dezembro, as teles afirmaram ter fechado acordo de que a solução para o 5G será dada "pelo viés técnico e econômico, considerando tanto os requisitos de segurança associados às soluções quanto todos os aspectos de custos relativos à implantação da tecnologia e sua conexão com a infraestrutura já existente nas redes das operadoras".>
A declaração foi divulgada pela Conéxis, associação que representa o setor.>
As teles defendem a participação da Huawei porque precisam proteger o legado de suas redes, construídas ao longo de duas décadas.>
A fabricante chinesa domina as redes da Nextel (adquirida pela Claro) e da Sercomtel; está presente em 65% da rede da Vivo; 60% na Oi; 55% na Claro; e 45% na TIM.>
Elas querem usar essa rede e as frequências que já têm para oferecer o 5G por meio de atualização de softwares enquanto constroem novas redes.>
Com o banimento, isso não só não será possível como elas teriam de trocar os equipamentos da Huawei já instalados por outros dos concorrentes. Essa operação levaria ao menos quatro anos e elevaria os custos do 5G para os consumidores.>
A única saída seria uma indenização a ser paga pela União, que, estima-se, seria da ordem de R$ 80 bilhões.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta