Publicado em 2 de novembro de 2021 às 14:46
O agronegócio é apontado como um dos maiores beneficiados com a chegada do 5G em eventos e cerimônias com a participação de Fábio Faria, ministro das Comunicações, Tereza Cristina, da Agricultura, e outros representantes do governo. >
A expectativa do setor também é grande, mas num degrau abaixo: o leilão deve estimular, na verdade, a implementação do 4G nas áreas rurais. >
Expandir a conectividade por meio do 4G é meta do próprio Ministério da Agricultura. A pasta publicou em maio um estudo da Esalq USP afirmando que é preciso instalar antenas em 4.400 torres já existentes e implementar outras 15.182 para cobrir o sinal no campo. Projeções com 5G, cujo leilão está marcado para esta quinta-feira (4), não são citadas no diagnóstico. >
Para Gregory Riordam, presidente da ConectarAgro, associação que estimula a conectividade no campo, a estimativa é que a expansão do 4G em áreas remotas ocorra diante das exigências impostas às operadoras que adquirirem frequências no leilão. Segundo ele, a situação hoje é de "ZeroG" em muitas localidades. >
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"O 4G atende plenamente as aplicações do campo. O leilão traz um mecanismo para estender ou expandir essa conectividade mais adequada, que é o 4G, subindo a cobertura para além do número baixíssimo que temos hoje", afirma. >
O Ministério da Agricultura diz que 23% do espaço agrícola, o que considera mais que domicílios, conta com alguma cobertura de internet. Dados do Cetic.br mostram que 26% das pessoas em zonas rurais nunca acessaram a internet, índice que é de 12% nas áreas urbanas. A Pnad TIC 2019, do IBGE, revela que, pela primeira vez, mais da metade dos domicílios em zonas rurais estão conectados à internet. >
O sinal residencial, no entanto, não garante que todo o espaço de cultivo das áreas agrícolas esteja coberto, o que seria essencial para atividades ligadas à chamada agricultura de precisão, com maquinário e lavouras conectadas por meio de sensores. >
O agro é um alvo do governo nas ações de marketing do 5G, com vários testes públicos da tecnologia em propriedades rurais. Trata-se de uma estratégia que faz sentido mesmo ao setor privado. Conectar um setor de peso ao PIB nacional seria garantir mais competitividade no comércio global. >
Além disso, o leilão de 5G tornou-se uma das bandeiras do governo Bolsonaro, que fez esforços para realizar o leilão em 2021, antes do ano eleitoral. Apesar do tombo de popularidade do presidente, parte do apoio ainda vem do setor ruralista. >
O apoio da Frente Parlamentar Agropecuária à liberação do Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) para expansão do acesso à internet também foi fundamental para aprovar a pauta, que estava paralisada no Congresso há mais de dez anos. >
O fundo arrecadou mais de R$ 20 bilhões desde 2001, mas não foi destinado ao setor, e sim para manter o superávit primário da União. No fim do ano passado, Bolsonaro liberou o fundo para ampliar acesso à internet, que impactará zonas rurais. >
Colheitadeiras trabalhando na lavoura de algodão em Mato Grosso Marcus Mesquita/Folhapress **** A implantação do 5G no agronegócio é usualmente associada a tratores autônomos e a imagens captadas por drones em alta resolução e exibidas em tempo real em um tablet, mas esse cenário é distante para a maioria das fazendas no Brasil. Necessidades como a identificação da situação sanitária das lavouras por sensores e a irrigação eficiente são mais palpáveis e urgentes. >
"Lá na frente, quando tivermos todo território dominado, o 5G vai permitir aplicações mais específicas e de alta capacidade de transmissão. Mas o primeiro problema do produtor não é conectar a máquina dele, é fazer com que o cara que dirige a colheitadeira consiga conversar pelo celular com quem está na oficina", acrescenta Riordam. >
Na base de necessidades, os produtores, em especial os pequenos, precisam de sinal de celular estável para conseguir se comunicar. >
"Com a quantidade de estabelecimentos offline, até 2G no campo já ajudaria. É preciso diminuir com urgência o percentual de propriedades offline porque esse vazio de internet afeta a segurança, o ensino à distância, o trabalho do agricultor", diz Joaci Medeiros, coordenador técnico do Instituto CNA. >
A cobertura total de internet no campo depende políticas públicas, ainda mais para os agricultores familiares, responsáveis por cerca de 20% do valor bruto da agropecuária nacional e que carecem de educação digital básica para serem inseridos na economia. >
Para o setor privado, o agro também é tido como propulsor de receita tanto no curto como no longo prazo. >
Pietro Labriola, presidente da TIM no Brasil e da Conexis, que reúne as grandes operadoras, diz que o Brasil só conseguirá suprir a demanda por alimentos se apostar em expansão tecnológica. Ele pontua que o país será responsável por 40% da produção global de comida em 2050, segundo a FAO. >
"Trabalhamos com o agro sendo o negócio que mais vai crescer na economia do Brasil nos próximos 20 anos. Não seria particularmente inteligente não trabalhar com esse setor", diz Labriola. >
Segundo ele, o agro não figura entre as principais áreas de desenvolvimento do 5G em outros países e isso pode ser vantajoso ao Brasil. "Por que o agro não aparece? Porque esse benchamark [ponto de referência] não existe. O Brasil é líder", afirma. >
A demanda por 5G no campo é inevitável no longo prazo, de acordo com outro executivo do setor. Ele afirma que, à medida que as tecnologias se disseminarem com a cobertura 4G, produtores tendem a instalar novos dipositivos para garantir mais produtividade, o que exigirá conexão mais rápida. >
Para curto prazo, as operadoras já trabalham em um nicho de mercado que vende soluções fechadas para fazendas, como redes privativas de 5G e plataformas que conectam máquinas e sensores de acordo com a necessidade do contratante.>
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