Publicado em 29 de junho de 2022 às 11:32
A guerra e o clima estão colocando em risco a oferta global de alimentos, de acordo com autoridades e executivos do setor agrícola. O conflito na Ucrânia interrompeu as exportações do país, um dos maiores produtores agrícolas do mundo, e a seca e o mau tempo afligem importantes regiões de cultivo. "Na verdade, temos duas crises", disse na terça-feira, 28, o CEO da Syngenta, Erik Fyrwald, durante o Fórum Global de Alimentos, organizado pelo The Wall Street Journal. "As crises de segurança alimentar e as crises climáticas.">
Fyrwald disse que climas extremos estão crescendo, com calor, seca ou inundações desafiando agricultores nos EUA, Europa, Austrália e Índia. Isso foi exacerbado, segundo ele, pela guerra na Ucrânia, que afetou os mercados mundiais de grãos e elevou os preços dos alimentos em todo o mundo.>
O aumento dos preços dos alimentos está provocando inquietação, já que as interrupções no fluxo da produção ucraniana agravam o estresse existente na oferta global de grãos e outros bens. O chefe do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas alertou que uma escassez absoluta de alimentos é possível em 2023 se a Rússia continuar bloqueando as exportações de produtos agrícolas da Ucrânia.>
Mesmo entre os países mais ricos do mundo, os preços mais altos de alimentos estão sendo sentidos. Os preços nos supermercados dos EUA subiram quase 12% nos 12 meses até maio, o maior aumento anual desde abril de 1979, segundo o Departamento do Trabalho. Os preços aumentaram 7,4% em restaurantes e outros locais de alimentação fora de casa, também marcando o maior nível em mais de quatro décadas.>
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"É muito sério", disse Fyrwald. Os preços dos alimentos "continuarão subindo até que consigamos levar os produtos pelo Mar Negro, no sul da Ucrânia".>
As exportações de trigo da Ucrânia, que junto com as da Rússia representaram quase um terço do total global, devem ser cortadas pela metade neste ano, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A invasão russa ajudou a elevar os preços do trigo a níveis recordes em março e, embora os futuros tenham caído 27% desde então, ainda acumulam alta de cerca de 20% em 2022.>
"Não haverá oferta suficiente de certos ingredientes", disse o diretor de tecnologia da trading Cargill, Florian Schattenmann, durante o evento. A guerra na Ucrânia prejudicou a disponibilidade de ingredientes como óleo de girassol usado em fórmula infantil, levando empresas a reformular seus produtos, acrescentou.>
Na segunda-feira, o secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, pediu que os portos ucranianos no Mar Negro sejam abertos para enviar grãos para fora do país e ajudar a aliviar a crise global de alimentos. "O comércio precisa ser retomado a partir dos portos do Mar Negro que foram danificados ou interrompidos pela invasão russa", disse durante o evento.>
O mau tempo, inclusive na América do Sul, está colocando mais pressão sobre as regiões agrícolas que se tornaram mais importantes para manter a oferta mundial de alimentos devido ao conflito na Ucrânia.>
Nos EUA, chuvas e ventos em áreas do Meio-Oeste desaceleraram o plantio de muitos produtores de milho e soja no mês passado. As condições úmidas foram seguidas por uma perigosa onda de calor no início deste mês. Enquanto isso, a seca está afetando mais de 78% do oeste americano, de acordo com o Monitor de Secas dos EUA.>
Fyrwald disse que a Syngenta está trabalhando com agricultores na Ucrânia, mas também continuando a fornecer sementes e produtos químicos aos agricultores russos. Algumas empresas agrícolas, incluindo Syngenta e Bayer, e tradings de grãos como a Cargill, continuaram vendendo sementes e movimentando grãos na Rússia, apesar da pressão para romper laços após a invasão da Ucrânia. As empresas citam motivos humanitários para suas decisões de continuar operando certas partes de seus negócios na Rússia. "A Snygenta olhou para isso e decidiu que serve agricultores em todo o mundo", disse Fyrwald. "Nós não somos políticos.">
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