Publicado em 24 de junho de 2020 às 14:43
O ministro da Economia, Paulo Guedes, "turbinou" um plano de ação desenhado no ano passado para apresentar ao Palácio do Planalto como fórmula para uma retomada acelerada da economia.>
Na tentativa de vencer a disputa travada com as alas militar e política do governo, o ministro vai defender que o país priorize recomendações feitas pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), organismo visto com bons olhos no Palácio do Planalto.>
Como a entrada do Brasil no chamado clube dos países ricos é cobiçada pelo presidente Jair Bolsonaro e outros ministros, Guedes quer usar a seu favor as diretrizes de ajuste fiscal e adesão a práticas de economia de mercado feitas pelo bloco.>
A estrutura principal do pacote é semelhante ao plano desenhado pela pasta no ano passado, mas agora em versão tratada por Guedes como "turbinada" por conter medidas mais amplas, efeitos maiores e implementação mais rápida.>
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O objetivo principal, afirmam interlocutores do ministro, é persuadir o presidente a tocar uma agenda liberal que gere crescimento e emprego por meio do setor privado. Com isso, seriam deixadas de lado propostas focadas em investimento público e ampliação do tamanho do Estado, defendidas por alas militares e parlamentares.>
O pacote será levado para debate dentro do Pró-Brasil, programa de retomada coordenado pela Casa Civil e que gerou embate no governo por prever investimentos públicos entre as âncoras para a recuperação da atividade e do emprego.>
A ação foi pensada como uma forma de mostrar abertura da pasta ao diálogo, coibindo críticas de outras alas do governo, ao mesmo tempo em que Guedes tenta blindar o ministério e sua agenda liberal.>
Nos últimos meses, ele deu sinais públicos sobre as condições de permanência no governo ao criticar iniciativas que ampliam gastos do governo, como investimentos em obras públicas e reajustes salariais de servidores.>
Na construção da narrativa, Guedes quer que as recomendações da OCDE sirvam como instrumento de pressão para que sua agenda seja levada adiante.>
A candidatura do Brasil à OCDE vinha sendo trabalhada desde o governo do ex-presidente Michel Temer e se tornou uma prioridade da atual administração.>
De acordo com Casa Civil, que centraliza o processo de adesão do Brasil ao grupo, há uma "ampla mobilização do governo federal no cumprimento dessa agenda prioritária".>
As principais diretrizes da OCDE, segundo lista da própria Casa Civil, coincidem com a agenda sobre a qual Guedes quer insistir com Bolsonaro.>
Entre as recomendações estão reforma tributária, simplificação administrativa, liberdade econômica, maior eficiência orçamentária e do gasto público e maior integração à economia mundial, com redução de entraves ao investimento e barreiras ao comércio.>
A avaliação no Ministério da Economia é que membros do Planalto ainda não entenderam a estratégia de ação de Guedes. Uma apresentação do programa econômico chegou a ser organizada para o início deste ano, mas a chegada da pandemia do novo coronavírus colocou tudo em compasso de espera. Agora, o plano será reativado.>
Os eixos centrais do programa preparado por Guedes são velhos conhecidos da equipe do ministro, com defesa de propostas como reforma tributária, novos marcos legais para estimular investimentos privados e pacto federativo. A diferença agora seria a velocidade e a intensidade das ações.>
O ponto mais importante do plano, para o ministro, será uma ampla desoneração da folha de salários. O programa de emprego teria de ser maior do que a Carteira Verde e Amarela, implementada para reduzir encargos sobre as contratações de jovens em primeiro emprego, mas que acabou revogada por não ter recebido aval do Congresso.>
O modelo da desoneração ainda não está fechado. Entre as propostas em estudo, está um sistema emergencial de redução de encargos no qual o governo arca temporariamente com a perda de arrecadação para dar sobrevida às empresas. Guedes também voltou a estudar um imposto sobre transações para compensar essas perdas.>
A pasta quer aproveitar a discussão para acelerar a reforma tributária, fazendo ao menos uma rodada inicial de negociações que incluiriam a simplificação de tributos como Pis/Pasep e Cofins.>
Também faz parte das recomendações da OCDE o aumento da eficácia das ações sociais.>
Gestada pelo ministro desde o início do governo, a reformulação de programas sociais entrará no plano como medida a ser adotada ainda neste ano. O argumento é que essa seria uma forma de promover uma transição após o fim do auxílio emergencial de R$ 600 --programa com três meses de duração e que não conta com apoio do Ministério da Economia para eventual prorrogação em valor integral. A pasta insiste na extensão da assistência por no máximo dois meses, em valor menor.>
Diante do diagnóstico de que o país sairá da pandemia em ruína fiscal e sem condição de ampliar gastos, a ordem é remodelar ou extinguir programas sociais considerados ineficientes. Em troca, seria ampliado o Bolsa Família, tratado pelo ministro como um caso de sucesso e eficiência na transferência de renda aos mais pobres. O novo programa vai se chamar Renda Brasil.>
Entre os alvos da pasta, estão o programa Farmácia Popular, sob diagnóstico de que beneficia pessoas de classes média e alta, e o seguro defeso, pago a pescadores e que é avaliado como uma fonte de fraudes.>
O ministro também quer a revisão do abono salarial, que já foi alvo de tentativa de restrição pelo governo no ano passado, mas o Congresso impôs derrota ao Palácio do Planalto e manteve o benefício inalterado. Em outra medida, seriam reavaliados as desonerações tributárias à cesta básica, já que há itens na lista como queijos e carnes nobres.>
A alteração desses programas depende de avaliação do Congresso, que tem resistido a aprovar restrições a ações sociais já existentes.>
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