Publicado em 1 de julho de 2020 às 10:13
A Embraer, terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo, entrou no mercado de segurança cibernética. >
A empresa paulista passou a controlar a Tempest Serviços de Informática, líder do setor no país, em um negócio com valores não revelados.>
Além disso, a Embraer comprou uma participação de R$ 20 milhões na Kryptus, empresa que fornece soluções de criptografia para as Forças Armadas brasileiras, entre outros.>
A Atech, subsidiária de sistemas tecnológicos da Embraer, deverá coordenar os esforços das três empresas no mercado, que em 2019 movimentou US$ 1,5 bilhão (R$ 8,1 bilhões nesta terça, 30) no país.>
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"São empresas complementares", afirmou o presidente da Embraer Defesa e Segurança, Jackson Schneider. >
O movimento vem na esteira da derrocada do acordo para a venda da área de aviação comercial da Embraer para a Boeing e o impacto da pandemia nos negócios do setor.>
Schneider diz que o investimento na área de cibersegurança, o maior do gênero na América Latina, já estava previsto.>
"Isso está no nosso DNA de inovação", afirmou, ressaltando contudo que a pandemia Covid-19 "vem acelerando tendências" no mundo todo.>
"O trabalho será mais virtual, assim como os processos e ferramentas. É preciso atender a necessidade de segurança no tráfego de dados", diz.>
Isso é bastante óbvio na área civil. Crimes cibernéticos contra instituições bancárias somam US$ 10 bilhões (R$ 54 bilhões) anuais no Brasil, segundo mercado para bandidos digitais depois da Rússia.>
As aplicações em defesa são ainda mais amplas.>
As demandas vão da criptografia de dados do sistema de fronteiras do Exército, já atendido pela Kryptus, a discussões sobre o uso de inteligência artificial e proteção de usinas elétricas e nucleares.>
A Embraer também vê potencial de sinergia com o mercado que anda de mãos dadas ao de cibersegurança, o espacial. Afinal de contas, tudo passa por satélites.>
A empresa tem uma subsidiária, a Visiona, que deverá lançar o primeiro nanossatélite de uma constelação nacional em 2021.>
A Tempest foi aberta no Recife em 2001, tem 300 funcionários e 250 clientes no Brasil e no exterior -o grupo que edita a revista The Economist é um deles.>
Ela já era apoiada pela Embraer por meio do Fundo de Participações Aeroespacial, que conta com o BNDES e a DesenvolveSP, entre outros.>
"A robustez da Embraer vai nos ajudar a expandir essa missão para novos mercados", diz seu presidente, Lincoln Mattos, que manterá cargo e equipe.>
Já o aporte na Kryptus, que além da área militar atende diversos setores, mira uma expansão internacional e será feito por meio do Fundo de Participações.>
"Esse aporte chega em um momento de consolidação", diz o fundador da empresa, Roberto Gallo. A empresa já tem contratos com a Marinha do Peru e o Exército da Colômbia.>
Schneider vê o mercado cibernético com estratégico. "Há incríveis movimentos geopolíticos, reestruturação de cadeias produtivas ocorrendo.">
O fim do negócio da Embraer com a Boeing levou a especulações acerca do futuro -sua sobrevivência fora do duopólio produtivo global, dos americanos e dos europeus da Airbus, é questionada.>
O presidente da empresa, Francisco Gomes Neto, confirmou no mês passado que há interesse na busca de novos parceiros no mercado mundial.>
As opções não são muitas, naturalmente, e analistas apostam na Comac, a estatal chinesa de aviação comercial que busca se posicionar no mercado.>
A questão é que hoje uma parceria com a China coloca qualquer empresa de um lado da Guerra Fria 2.0 estabelecida entre Washington e Pequim.>
Isso teria implicações importantes para os produtos de defesa da Embraer, o novo cargueiro C-390 Millennium à frente.>
A reportagem questionou Schneider sobre isso. Diplomaticamente, ele disse que a Embraer está "absolutamente aberta para conversar" com parceiros externos.>
"Mas nós respeitamos todos as limitações impostas por nossos fornecedores europeus e americanos na área de defesa", disse.>
Assim, especificamente para a Embraer Defesa, "há países 'off-limits' [fora do limite de operação]".>
Ele ressalta, contudo, que pela natureza dos negócios da empresa, "nada será diferente do que o Estado brasileiro" preconizar.>
A Embraer, lembra, nasceu como uma estatal em 1969, e sua linha de defesa foi desenvolvida de acordo com necessidades da Força Aérea mesmo após a privatização de 1994.>
O C-390 é um exemplo. Tendo recebido investimentos de desenvolvimento de R$ 5 bilhões do governo, o avião agora é uma realidade.>
O terceiro de 28 encomendados, por R$ 7,2 bilhões, foi entregue à FAB nesta semana. As aeronaves estão ativas na operação de transporte de material e pessoal para o combate à Covid-19.>
A primeira unidade a ser exportada, de cinco compradas por Portugal, teve produção inicial começada e deve ser entregue até 2023.>
"Mesmo nessa crise, recebemos duas consultas bastante firmes de países interessados", disse, sem revelar os clientes potenciais.>
A venda do C-390 e de sua versão com capacidade de reabastecer outras aeronaves, o KC-390, seria feita a partir de uma joint-venture com a Boeing.>
Ela morreu com o negócio da área comercial, alvo de dura disputa em arbitragem entre as empresas -a Embraer acusa a Boeing de ter rompido o contrato devido à sua própria crise, enquanto americanos falam genericamente em cláusula não cumpridas pelos brasileiros.>
O futuro de um acordo anterior, de campanhas de marketing no exterior do cargueiro, ainda não foi definido, mas parece improvável que ele siga em frente.>
A área de defesa respondeu em 2019 por 14,2% da receita da Embraer, ante 40,8% da comercial, 25,6% da executiva e 19,4%, de serviços e outros.>
Sob impacto da Covid-19 e da dissolução do acordo com a Boeing, a empresa registrou prejuízo de R$ 1,3 bilhão no primeiro trimestre deste ano.>
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