Publicado em 30 de junho de 2020 às 19:41
Depois de registrar o pior trimestre na história no começo do ano, a recuperação da Bolsa brasileira nos últimos três meses levou o Ibovespa a acumular uma valorização de 30%, a maior alta trimestral desde o fim de 2003, no primeiro governo Lula, quando a Bolsa subiu 38,9%.>
Ambos os períodos seguiram uma forte queda do índice e foram marcados por cortes na Selic e a volta de investimento estrangeiro.>
"Em 2003, o pessoal estava com medo do Lula, então a Bolsa caiu muito e depois subiu muito. Foi um ano completamente atípico. Agora, não é um fenômeno brasileiro, é mundial. Bolsas tiveram recuperação em V", diz Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo.>
A letra V representa uma recuperação rápida após o fundo do poço. Em 23 de março, o Ibovespa foi a mínima de 63 mil pontos com a paralisação das economias em decorrência da pandemia de Covid-19. Em 8 de junho, foi a 97 mil pontos.>
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Nesta terça-feira (30), a Bolsa brasileira recuou 0,7%, a 95 mil pontos. Em junho, acumulou uma alta de 8,76%, no terceiro mês positivo do ano.>
Com a Bolsa em baixa após a queda de quase 30% em março, o real desvalorizado e excesso de liquidez nos mercados, junho foi o primeiro mês com saldo positivo de aporte estrangeiro em ações brasileiras desde setembro de 2019, com entrada de R$ 335 milhões. E 2020, o saldo é negativo em R$ 76,5 bilhões, recorde histórico.>
Também há uma maior participação da pessoa física no mercado, o que acelerou a retomada dos papéis. Em maio, 2,48 milhões de CPFs detinham ações. Em dezembro de 2019, eram 1,68 milhão.>
O cortes na Selic contribuíram para o aumento do investimento em renda variável. A taxa básica de juros caiu de 3,75% ao ano em abril para 2,25% ao ano em junho, levando muitos investimentos em renda fixa a terem um rendimento real (descontado da inflação) negativo ou próximo de zero. O Banco Central indicou que há espaço para um novo corte este ano,e o mercado precifica o juro a 2% até janeiro de 2021.>
Em busca de retorno neste cenário de juros baixo, o pequeno investidor apostou em ações.>
"No Brasil, essa foi a primeira crise em que os juros não subiram. A alta da Bolsa é muito mais o pessoa física comprando, mesmo do lado dos estrangeiros", diz Knudsen.>
O mesmo aconteceu nos Estados Unidos. O Fed, banco central americano, sinalizou que o juros devem ficar próximo de zero até 2022, ao passo que injeta liquidez recorde no mercado, com recompra de títulos do Tesouro e de títulos de hipotecas. Com dinheiro em mãos e sem retorno na renda fixa, fundos de investimento aplicam em ativos de risco, levando Bolsas globais a se recuperarem das quedas com a pandemia.>
Em Nova York, os índices S&P 500 e Dow Jones tiveram o melhor trimestre desde 1998, com altas de 20% e 18% respectivamente. A Bolsa de tecnologia Nasdaq teve o melhor trimestre desde 2001, com valorização de 31%, bateu o recorde histórico de 10.131 pontos.>
"O Brasil entrou na pandemia com a economia pior que outros países e em situação política pior. Nos EUA, a rápida recuperação faz mais sentido. No Brasil, é uma surpresa", afirma Knudsen.>
"No Brasil, você perder tantas vagas com um desemprego tão alto não é bom. Mas, olhando os cortes de maio em relação a abril, você pensa que talvez o pior já tenha passado", diz llan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.>
Em abril, 898 mil brasileiros ficaram desocupados, segundo dados do IBGE. Em maio, foram mais 368 mil pessoas. Ao todo, a pandemia destruiu 7,8 milhões de postos de trabalho no Brasil, a maioria deles, informais.>
Os juros baixos, por outro lado, elevam a cotação do dólar por meio do carry trade -prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior. Com a Selic a 2,25%, investir no Brasil fica menos vantajoso, o que contribui com uma fuga de dólares do país, elevando assim sua cotação.>
No ano, o real é a moeda no mundo que mais perde valor ante o dólar, que acumula uma alta de 35%, chegando ao recorde nominal (sem contar a inflação) de R$ 5,90 em maio, após a saída de Sergio Moro (ex-ministro da Justiça) e Luiz Henrique Mandetta (ex-ministro da Saúde) do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).>
Analistas apontam que a turbulência política brasileira se reflete na depreciação do real.>
"O dólar está demonstrando mais todo o risco no Brasil do que a Bolsa. O real já estava se desvalorizando antes da pandemia e, agora, o movimento só foi exacerbado", diz Knudsen.>
Nesta terça, a moeda americana subiu 0,2%, a R$ 5,4360. No mês, a moeda subiu 1,85% e no trimestre, 4,5%.>
"A alta do dólar mostra o estresse político no Brasil, depois de trocas de ministros e prisão do Fabrício Queiroz", diz Arbetman.>
O segundo trimestre também foi marcado por conflitos entres os três Poderes e atos a favor e contra o governo Bolsonaro.>
Nesta sessão, o destaque da Bolsa brasileira foi o IRB Brasil, cujas ações caíram 11,7%, após a companhia de resseguros reportar resultado do primeiro trimestre e republicar balanço de 2019 com redução do lucro em R$ 550 milhões em razão de fraude contábil. O IRB responde pela maior queda do Ibovespa em 2020, com declínio de mais de 70%.>
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