Publicado em 5 de março de 2020 às 09:59
SÃO PAULO, SP, E BERLIM, ALEMANHA - O desempenho fraco da economia brasileira é considerado mais preocupante para a Maersk, maior empresa de contêineres do mundo, do que os efeitos da epidemia do coronavírus sobre o fluxo de comércio com a China.>
Em relatório divulgado na quarta-feira (4), a gigante dinamarquesa calcula um crescimento de 3,8% em 2020, menos do que os 4,5% estimados no ano passado.>
"A redução está mais ligada à recuperação econômica do que de fato à postergação do Ano-Novo chinês", diz o diretor comercial da empresa para Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, Gustavo Paschoa.>
Para Matias Concha, diretor de produto da Maersk para esses países, o comércio exterior no Brasil impõe desafios logísticos, devido à baixa densidade da malha ferroviária. Além disso, diz que o país precisa avançar em reformas de modo a dar confiança aos investidores. A tendência, afirma, é positiva.>
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Os efeitos da epidemia do coronavírus diante da dependência mundial da China podem ter sido mitigados pelo feriado do Ano-Novo chinês. Como a pausa já é esperada, a gigante do setor logístico diz que a duração mais longa não deve ter efeito no comércio exterior.>
Apesar de os portos chineses terem ficado congestionados, o fluxo de exportação a partir da China não teve interrupção e a Maersk considera que a situação vem se normalizando há uma semana.>
O diretor de produto Matias Concha, diz que, neste momento, não há perspectiva de faltar contêineres para escoar os produtos que deixam o Brasil, mas que a empresa não descarta esse risco. "A gente vê que poderia acontecer e estamos monitorando isso de perto, mas por enquanto não tem problema nenhum com disponibilidade de contêiner", afirma.>
Concha diz também o setor logístico é muito vulnerável a oscilações -um vírus ou uma guerra comercial entre países, por exemplo--, o que os obriga a ter uma margem, o que permitiria um planejamento que reduz o risco de disponibilidade.>
O cancelamento de algumas partidas, os chamados blank sailings, já eram esperados. "Temos esses cancelamentos tradicionalmente, mas devido ao Ano-Novo chinês e esse ano a gente postergou", diz Paschoa.>
Segundo o relatório da empresa, os principais terminais de contêineres em Xingang, Xangai, Tanjin e Ningbo ainda estão cheios. O diretor comercial diz que a situação afeta principalmente as cargas refrigeradas.>
Em algumas cidades, os terminais estão cobrando sobretaxas para clientes com esse tipo de carga, que pode ser proteína animal, saída do Brasil, peixes, do Uruguai, além de frutas brasileiras e argentinas, o que levou a Maersk a recomendar o uso de armazéns.>
De acordo com a companhia alemã Hapag-Llloyd, o congestionamento nos portos chineses agora está no tráfego de caminhões. Com tantos caminhoneiros tentando entrar e sair, a infraestrutura está travada.>
Nos terminais que recebem carga refrigerada, a situação começa a melhorar e deve ser normalizada em pelo menos dez dias. Nos piores dias, faltaram tomadas para os contêineres serem mantidos na temperatura.>
Atualmente, o nível de produção nas fábricas chinesas está em 80%, e no transporte de caminhões e trens ferroviários, em 60%. Essa redução, segundo Concha, tem efeito em toda a cadeia, no volume do que é produzido. "Mas quanto à carga do Brasil, do que sai daqui, estamos operando com normalidade", diz.>
A queda na produção chinesa, que resulta em menos contêineres embarcados e, portanto, menos disponibilidade para o envio de mercadorias brasileiras ainda não é considerada um problema, segundo os executivos da Maersk.>
O efeito pode aparecer, porém, no segundo trimestre do ano, quando aumenta a demanda por contêineres refrigerados na América do Sul, para o escoamento principalmente de frutas. Tradicionalmente, o período é considerado desafiador. "Quando tem uma situação anormal, há um risco, mas não estamos vendo nada disso no momento, mas estamos monitorando essa situação", diz Matias Concha.>
O Porto de Roterdã, na Holanda, informou estimar um impacto de 2 milhões de toneladas em produtividade a cada mês em que a epidemia continue e que "uma parte substancial desse volume é de contêineres". Segundo balanço do ano passado, a produtividade média mensal no porto holandês foi de 39 milhões de toneladas, considerando todos os tipos de cargas.>
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