BRASÍLIA, DF - A comitiva de empresários que acompanhará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na viagem à China, organizada pelo Ministério da Agricultura, envolve nomes e companhias que foram investigados em operações relacionadas a pagamentos ilegais a políticos durante as gestões petistas anteriores.
Os mais célebres são os irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS, que firmaram um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, validado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2017.
Em depoimento, Joesley disse ter depositado aproximadamente US$ 150 milhões em contas no exterior, a pedido do ex-ministro petista Guido Mantega. Essas contas teriam sido usadas em benefício de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff, ambos do PT, e cujo dinheiro foi gasto, segundo ele, "tudo em campanha".
Ele não afirma ter tratado desse assunto diretamente com Lula ou com Dilma, apenas com Mantega, e disse que inicialmente nem sabia que o dinheiro tinha alguma vinculação com os dois.
A defesa dos dois petistas sempre afirmou que eles jamais solicitaram pagamentos ilegais ou trataram do assunto, nem com o empresário nem com interlocutores.
"Teve duas fases, a do presidente Lula e teve a fase da presidente Dilma", disse Joesley. "Na fase do presidente Lula chegou a US$ 80 milhões de dólares, na fase da presidente Dilma chegou a uns US$ 70 (milhões). Ou ao contrário: US$ 70 (milhões) na do Lula e US$ 80 (milhões) na da Dilma."
"Eu perguntei (ao Guido): eles sabem disso? O Lula sabe disso, a Dilma sabe? (E ele respondeu) 'sabe sim, eu falo tudo para eles'", continuou o empresário no depoimento. Procurada, a J&F, controladora da JBS, não se manifestou.
Segundo Joesley, o dinheiro foi pago para que Mantega atuasse como intermediário de negócios realizados com BNDES, Petros (Fundação Petrobras de Seguridade Social) e Funcef (Fundação dos Economiários Federais) com a finalidade de beneficiar a JBS.
Também participará da comitiva de Lula na China o presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), Antônio Camardelli.
Segundo a delação da JBS, ele atuou como intermediário da empresa e fez uma doação de R$ 100 mil de caixa dois à campanha de Onyx Lorenzoni (então no DEM-RS, hoje no PL) à Câmara.
Onyx foi ministro da Casa Civil e de outras pastas no governo de Jair Bolsonaro (PL). Em entrevistas à imprensa em maio de 2017, Onyx argumentou que o dinheiro foi usado para quitar gastos de campanha de 2014, mas concordou que deveria "pagar pelo erro".
Em 2020, o ex-ministro firmou um acordo de não-persecução penal com a PGR e pagou uma multa para se livrar de ação sobre o caso. Procurado, Camardelli não se manifestou.
A Marfrig, processadora de proteína animal, também estará representada na viagem. A empresa foi investigada em duas operações da Polícia Federal, Sépsis e Cui Bono?.
O fundador da empresa, Marcos Molina, afirmou em depoimento aos delegados ter pago R$ 617 mil ao operador Lúcio Funaro para a liberação de empréstimos na Caixa Econômica Federal, quando o então deputado Geddel Vieira Lima (MDB) era vice-presidente do banco.
Molina formalizou um termo de compromisso de reparação de eventuais danos, que protege a Marfrig e seus executivos de quaisquer responsabilidades financeira e jurídica. O acordo, porém, não era uma colaboração e não havia admissão de culpa por parte do empresário. Ele não estará na viagem.
Procurada, a Marfrig afirmou que "em relação à Operação Cui Bono, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), em decisão unânime, arquivou a ação em face de Marcos Molina do Santos, concluindo não ter havido qualquer conduta ilegal por parte do empresário".
Representando o Instituto Brics, estará na viagem o advogado Mário Pagnozzi, que em 2017 foi preso sob suspeita de participar de um esquema para livrar empresas de autuações no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), no âmbito da Operação Zelotes. A reportagem não conseguiu localizar Pagnozzi.
Os custos de viagem e hospedagem à China serão pagos pelos empresários, segundo o Ministério da Agricultura. O papel da pasta e do governo, de acordo com assessores, é o de facilitar encontros e negócios que os executivos vão ter com chineses.
Além dos executivos do agro, pelo menos mais 50 industriais vão à China. Integram a lista empresas como Embraer, Vale e bancos. Este grupo também deve ir no início desta semana.
Lula tem embarque previsto para a sexta-feira (24) rumo ao país asiático. Na próxima terça-feira (28), o presidente terá uma série de reuniões políticas bilaterais com os chineses. Na quarta (29), haverá agenda com a participação dos cerca de 200 empresários que vão ao país e Lula. O presidente retornará ao Brasil na quinta (30).
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