Publicado em 25 de novembro de 2020 às 12:35
O assassinato de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos conhecido como Beto Freitas, em um uma loja do Carrefour em Porto Alegre (RS) mostra a importância de as empresas levarem o ESG (melhores práticas ambientais, sociais e de governança) a sério, segundo os gestores Márcio Correia, sócio da JGP, e Florian Bartunek, sócio-fundador da Constellation. >
Em evento do InfoMoney, portal de notícias do grupo XP, nesta terça-feira (24), eles participaram do painel "ESG: marketing x ação", que também contou com Marta Pinheiro, diretora de ESG da XP.>
"Obviamente o Carrefour tem uma parcela de culpabilidade, porque o evento ocorreu dentro da loja da empresa e não é o primeiro evento, já houve outros eventos ruins para a empresa, sobretudo para o Carrefour, que dá importância para o ESG. A matriz da França leva isso com muita seriedade, disse Correia.>
"Mas não tem como não dizer que a empresa falhou, e isso mostra a importância das empresas levarem o ESG a sério", afirmou.>
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De acordo com o gestor da JGP, para uma companhia implementar de fato o ESG, é preciso estabelecer um processo de governança em todos os níveis da empresa, começando pelo conselho, com comitês e processos internos -ele elogiou o programa de trainees exclusivo para negros da Magazine Luiza. Além disso, deve determinar o que é relevante para o negócio, identificando o que pode ser crítico.>
"[O Carrefour] sabe o quão crítica é a operação de segurança nas lojas. A gente falou com o Carrefour e com outras varejistas, perguntando como é a operação de segurança das lojas. E é óbvio que ali houve uma falha. Quando você contrata uma empresa terceirizada para uma operação desse nível crítico, você tem que internalizar pelo menos uma parte do treinamento. Descobrimos que o Carrefour faz 10 mil BOs por ano de eventos que acontecem. Então, a empresa tem conhecimento", afirmou Correia.>
Beto Freitas morreu após ser espancado por dois seguranças terceirizados do Carrefour. O IGP-RS (Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul) apontou, em análise inicial, que a vítima morreu por asfixia.>
"Foi um ato de racismo, que está implícito na sociedade brasileira, isto está nas estatísticas. A probabilidade de um homem negro ter sido morto daquela forma é três vezes maior que um homem branco. Em certas regiões do país, como no Nordeste, chega a ser quase sete vezes maior", disse Correia.>
Bartunek, da Constellation, concordou com os pontos levantados pelo colega. "É uma irresponsabilidade do Carrefour, não tem dúvida nenhuma, mas é uma falha de controle da empresa contratada", disse.>
"É uma tragédia, mas espero que pelo menos tenha o efeito de alertar as companhias que elas não são só responsáveis sobre o que os seus funcionários fazem, são responsáveis também pelo que os terceirizados fazem e pelo que as outras empresas que elas contratam também".>
Segundo Bartunek, o ESG seria como o freio ABS, que era tido no passado como um grande diferencial dos carros, mas, hoje, se tornou algo presente em quase todos os veículos por sua importância.>
"Estamos amadurecendo essa visão [ESG] e reação no mercado. É uma jornada, e empresas estão percorrendo esse caminho", disse Marta, da XP.>
"Empresas que não acreditam no ESG podem ter mais dificuldades e serem um mau investimento. Com redes sociais, se uma empresa pisa na bola, as pessoas ficam sabendo. Olha o Carrefour, imagina o custo de marketing negativo que isso teve para a empresa", disse Bartunek.>
Segundo Correia, da JGP, porém, a avaliação ESG depende muito da confiança do acionista na empresa. "Não temos como auditar, mas acho que cada vez mais vai ter mais informação disponível e vai ficar mais fácil.">
"Dá um trabalho [avaliar ESG], mas é um processo de aprendizado que o mercado local está passando. A Petrobras tinha problemas de corrupção, ela resolveu? Como ela mudou os processos? E isso é público. Como a Vale está atuando para lidar com o rompimento da barragem? É público", completa o gestor.>
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