Publicado em 6 de novembro de 2020 às 16:25
Maior produtor mundial de soja, o Brasil terá que contar com importações dos Estados Unidos para enfrentar a entressafra após exportações em massa para a China no primeiro semestre. >
A necessidade de importações reflete a queda nos estoques internos provocada pelo grande volume de exportações e pelo aumento da demanda doméstica. Ocorre em um momento de preços elevados do grão, que está mais caro do que nos meses em que o país vendeu sua produção ao exterior.>
A estimativa da Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais) é que o volume importado pelo Brasil chegue a cerca de um milhão de toneladas em 2020, sete vezes superior ao verificado no ano anterior. As exportações devem ficar na casa de 82 milhões de toneladas, a lta de 10%.>
Apenas em outubro, o Brasil importou 71 mil toneladas, contra 1,3 mil no mesmo período do ano anterior. Nos primeiros dez meses de 2020, já foram 600 mil toneladas, 379% a mais que em 2019, destacou a coluna Vaivém das Commodities, publicada pela Folha, que já alertava para o aumento das importações.>
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Até setembro, as exportações vieram principalmente do Paraguai, que já é um tradicional fornecedor do Brasil, que compra soja do país vizinho também para reexportação. Mas nas últimas semanas, o departamento de agricultura dos Estados Unidos começou a registrar embarques para o Brasil.>
Segundo a agência Reuters, o volume de soja americana importada deve atingir este ano o maior patamar desde 1997. A busca por suprimento nos Estados Unidos indica um desequilíbrio no mercado, apesar da safra recorde. Pelas estimativas da Abiove, o Brasil fechará o ano com estoques de cerca de 320 mil toneladas, um décimo do verificado no ano anterior.>
"A gente exportou tanta soja que faltou soja no mercado interno", afirma José Carlos Vannini Hausknecht, da consultoria MB Agro. Entre janeiro e julho, quando a maior parte da safra é comercializada, o Brasil exportou 69,7 milhões de toneladas, 36,4% a mais do o volume registrado no mesmo período do ano anterior.>
Principal cliente, a China comprou 50,5 milhões de toneladas no período, 32,2% a mais do que em 2019. Hausknecht diz que o apetite do país resulta de um temor de que a pandemia provocasse rupturas na cadeia de comércio de alimentos, o que a levou a buscar estoques tanto para consumo humano quanto para a criação animal.>
Com a retração das exportações argentinas em meio à crise econômica local e a safra americana só disponível no segundo semestre, o Brasil acabou se tornando o único grande fornecedor global naquele período.>
O presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, acrescenta que houve também aumento do consumo interno após o início da pandemia, com o brasileiro comendo mais em casa. "Além disso, teve o auxílio emergencial e as pessoas ficaram com mais dinheiro.">
As compras são feitas com cotações bem superiores às do período da comercialização da safra. Em outubro, a cotação do grão ultrapassou os US$ 1 mil (cerca de R$ 5,5 mil pela cotação atual) por bushel (unidade de medida equivalente a 27,2 quilos). No primeiro semestre, oscilava em torno dos US$ 850 (R$ 4,7 mil).>
Os elevados preços e a falta de óleo de soja no mercado levaram o governo a zerar as tarifas de importação da soja, em uma tentativa de reequilibrar a oferta no país. O cenário também tem impacto no mercado de combustíveis, com a escalada do preço do biodiesel que é misturado ao diesel de petróleo vendido nos postos.>
Para Hausknecht, a situação tende a se estabilizar com a colheita da próxima safra, no primeiro semestre de 2021. A safra americana, diz, está vindo melhor do que a anterior, o que deve ajudar a estabilizar o mercado global. "Acho que ano que vem vai ser mais normal, porque os Estados Unidos vão vender bastante soja e o mercado deve ficar mais tranquilo", diz.>
O economista-chefe da Abiove, André Furlan Amaral, concorda: a entidade espera que próxima safra seja recorde e as importações caiam á metade. Ele avalia que, apesar da necessidade importações, o cenário de 2020 tem sido muito positivo para o setor, com safra recorde e boa demanda internacional.>
"O Brasil conseguiu aproveitar as melhores oportunidades tanto no mercado interno quando no mercado externo e agora, de maneira bastante madura, faz uso do fluxo de importações para complementar aquilo que for necessário", afirma. "A importação é maior que nos anos anteriores, mas é pequena se comparada ao tamanho do complexo soja no Brasil.">
Em nota, o Ministério da Agricultura reconheceu que importações dos Estados Unidos não são comuns, mas afirma quer "importar e exportar constituem operações triviais e dependem apenas dos sinais dos preços".>
"A forte demanda internacional em 2020 foi atraente para as exportações antecipadas no Brasil. Aliás, se recomenda como proteção de ganho do produtor a venda antecipada do produto", diz, acrescentando que a safra que está sendo plantada já está praticamente vendida, aproveitando as altas cotações internacionais.>
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