Publicado em 25 de março de 2020 às 14:10
BRASÍLIA - A pandemia de coronavírus gerou novo ruído entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro Paulo Guedes (Economia), o que aumentou seu desgaste junto ao Palácio do Planalto.>
Na semana passada, o presidente avaliou que o ministro se antecipou a ele na apresentação de medidas econômicas para enfrentar a doença. Isso incomodou Bolsonaro no momento em que ele tentava ganhar protagonismo no enfrentamento à crise de saúde.>
Nesta segunda-feira (23), uma MP (medida provisória) proposta pelo Ministério da Economia teve forte reação negativa na base bolsonarista. Foi necessário um recuo público.>
Para ministros palacianos, no episódio mais recente, Bolsonaro confiou em Guedes para fazer um aceno ao setor produtivo. A ideia era enviar, em seguida, uma nova MP prevendo a compensação do governo.>
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A falta da contrapartida no texto inicial, no entanto, deixou a medida insegura e teve como resultado protestos no Poder Legislativo e críticas nas redes sociais.>
Bolsonaro e o coronavírus
No momento em que tem sofrido panelaços por conta de sua postura diante da pandemia, Bolsonaro tem trocado acusações com adversários políticos e se indisposto com sua equipe ministerial.>
A perda de apoio, sobretudo nas redes sociais, alterou o humor do presidente, segundo auxiliares palacianos, e o levou a se irritar com decisões administrativas que até então não o incomodavam.>
Na segunda-feira, Bolsonaro até ensaiou um arrefecimento do discurso, mas, na noite desta terça-feira (24), voltou a atacar governos estaduais na tentativa de municiar a militância digital em sua defesa.>
Além de já ter discordado do ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), que se tornou o porta-voz do combate à doença, o presidente também começou a demonstrar incomodo com o "posto Ipiranga".>
Na semana passada, Bolsonaro reuniu nove ministros e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para discutir políticas de combate ao novo coronavírus.>
No início da reunião, no entanto, dois auxiliares presidenciais não estavam disponíveis: Mandetta e Guedes.>
O primeiro recebeu uma ligação da Presidência da República. Ele informou que estava em uma reunião no STF (Supremo Tribunal Federal) junto com a cúpula do Congresso Nacional. E, de acordo com relatos, foi cobrado por isso. O segundo era uma incógnita para o presidente.>
Já na reunião, Bolsonaro perguntou sobre o ministro da Economia. Ele foi informado que Guedes estava em uma entrevista à imprensa apresentando medidas econômicas contra o coronavírus.>
Naquele dia, Guedes anunciou um pacote que, com propostas que haviam sido divulgadas na semana anterior, significaria a injeção de R$ 147,3 bilhões na economia. Segundo relatos feitos à reportagem, a ausência de Guedes causou mal-estar.>
A reunião no Palácio do Planalto havia sido convocada justamente para discutir a necessidade de maior articulação no anúncio de iniciativas.>
A ideia era que as medidas de combate ao novo coronavírus passassem a ser informadas publicamente na presença do presidente, em esforço para rebater as críticas dos governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de que Bolsonaro não tem adotado postura de liderança no enfrentamento da doença.>
A intenção do presidente era gerar pauta positiva diante de notícias negativas.Com o anúncio separado, a avaliação no Palácio do Planalto foi a de que o ministro atropelou Bolsonaro.>
De acordo com assessores presidenciais, Bolsonaro cobrou Guedes quando ele chegou ao Palácio do Planalto. Mais uma vez, teria dito que ,se a economia degringolasse, a culpa seria do ministro.>
Na última segunda-feira, o presidente teve um novo episódio de tensão com o ministro, que estimulou novos panelaços pelo país.>
No fim de semana, o Ministério da Economia elaborou uma medida provisória que incluía a possibilidade de suspensão dos contratos de trabalho por quatro meses.>
Segundo assessores palacianos, antes de ser publicada no domingo (22), a iniciativa teve a chancela do presidente, que recebeu a avaliação da equipe econômica de que ela teria o apoio do setor produtivo.>
No dia seguinte, no entanto, a repercussão geral foi negativa, com críticas de perfis de direita nas redes sociais. O repúdio da iniciativa até mesmo na base bolsonarista assustou o presidente.>
Ele telefonou para Guedes e pediu a retificação. Segundo deputados bolsonaristas, em conversas reservadas, o presidente culpou a equipe econômica pelo episódio.>
Para ele, a pasta deveria ter redigido um texto mais claro, com previsão de uma ajuda do governo aos trabalhadores durante os quatro meses, e avaliado com antecedência que a medida poderia ter reação negativa. O episódio levou integrantes do mercado financeiro a apostar em uma demissão do ministro.>
Apesar de membros da equipe econômica reconhecerem que a relação entre ambos passa por dificuldades, Bolsonaro divulgou uma fotografia com Guedes na noite de terça-feira (24), negando qualquer conflito. Não é a primeira vez que Bolsonaro se indispõe com Guedes.>
Em fevereiro, o ministro foi cobrado pelo presidente a entregar um crescimento de pelo menos 2% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano.>
A pandemia, no entanto, tornou improvável que o país atinja o patamar. Na sexta-feira (20), o Ministério da Economia cortou a projeção oficial, de 2,10% para 0,02%.>
No Poder Legislativo, líderes partidários avaliam que Bolsonaro demonstrou na atual crise agir com um excesso de personalismo e egocentrismo.>
Eles dizem que o presidente não admite que a atuação de sua equipe ministerial se sobreponha à sua.>
Em meio a uma nova crise, de acordo com deputados bolsonaristas, o presidente tem se sentido ainda mais pressionado a apresentar resultados.>
Ele passou a ser cobrado por aliados políticos e por sua base eleitoral a mudar de conduta diante da crise do coronavírus, o que o levou a querer centralizar sobre si os principais anúncios.>
Com essa postura, Bolsonaro tenta também se contrapor a Doria e a Witzel, seus eventuais adversários nas eleições presidenciais de 2022.>
Na tentativa de evitar que ambos obtenham dividendos eleitorais com a pandemia, Bolsonaro tem defendido que Mandetta evite posar ao lado de Doria e de Witzel.>
Na semana retrasada, Bolsonaro se irritou ao ter visto imagens de Doria ao lado de Mandetta. Após o episódio, Doria elogiou Mandetta e afirmou que se arrependeu de ter votado em Bolsonaro.>
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