Advogada, coordenadora de Projetos CADH, mestranda em Direitos e Garantias Fundamentais (FDV) e especialista em Direitos Humanos e Segurança Pública

Envolver pessoas e comunidade é uma proposta de resgate das humanidades

A palavra-ferramenta utilizada pelo Projeto Reconstruir o Viver, Ubuntu, remete à noção de humanidade para com o outro, resgatando a consciência da relação entre as pessoas e a comunidade

Publicado em 09/11/2019 às 04h00
Atualizado em 09/11/2019 às 04h01
União de pessoas em prol da comunidade. Crédito: Divulgação
União de pessoas em prol da comunidade. Crédito: Divulgação

Frases clichês como “vivemos em tempos sombrios”, “a humanidade está doente”, “não há mais esperança” e “ o ódio venceu” têm frequentado discursos rasos por todos os cantos. Propalam-se as frases e vão embora cada um para seu “mundinho” para cuidar do que é seu, em um movimento de não se envolver no caos que toda a sociedade está submersa.

A pós-modernidade inaugurou um tempo de individualismo, em que cada um cuida de si. Cada vez mais estamos “ensimesmados”. As pessoas cada vez mais fecham-se em seus fundamentos, perdendo a capacidade de ouvir e compreender o outro. O descaso e descuido com o outro cada dia é mais recorrente.

Contudo, algumas ilhas de esperança e responsabilidade emergem da sociedade e no poder público. Propostas que guardam pertinência de essência com as praticadas pelo Rei Arthur e em Aldeias Africanas, se espraiam pela capilaridade social dando mostras de que há saída, mas depende de movimentos de aproximação.

O Projeto Reconstruir o Viver, idealizado pela juíza Patrícia Neves, tornou-se um Programa do Poder Judiciário, por meio do Ato Normativo em Conjunto nº 028/2018, é uma dessas alternativas. O programa “consiste na implantação da Justiça Restaurativa e Comunicação Não Violenta no âmbito dos processos judiciais e da Mediação Escolar; Mediação Comunitária; Círculos de Construção de Paz e Conversação; e Comunicação Não Violenta como ferramentas de solução pacífica de conflitos no seio da sociedade, em seara pré ou extrajudicial”, de acordo com parágrafo único do artigo 1º do mesmo Ato Normativo. Configura-se como instrumento de pacificação de conflitos e resgate de laços afetivos perdidos.

Nessa esteira, o município de Vila Velha sancionou a Lei Municipal de n° 6.132/2019, que em seu artigo 1º dispõe que: “A Rede Municipal de Ensino deverá adotar as técnicas da Justiça Restaurativa, com base na Resolução 225, de 31 de maio de 2016, do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, para a solução dos conflitos ocorridos dentro do ambiente escolar”.

As oficinas acontecem em círculos, sinalizando que nessa luta não há hierarquias, e permitindo que cada um olhe para o outro e ouça as histórias, para melhor compreensão da realidade e encontro de alternativas para o bem viver. Assim como nos tempos do Rei Arthur, que segundo a lenda, as reuniões aconteciam ao redor da Távola Redonda, uma mesa construída em um formato sem cabeceira, representando a linearidade entre todos, como uma forma de resolução de conflitos e enfrentamento das questões.

A palavra-ferramenta utilizada pelo Projeto Reconstruir o Viver, Ubuntu, originária da África, remete à noção de humanidade para com o outro, resgatando a consciência da relação entre as pessoas e a comunidade. Resgatando o sentimento de pertença e de responsabilidade mútua.

Aproximando as duas filosofias, o Programa Reconstruir o Viver, vencendo toda a acidez e aridez da atualidade, é uma proposta para uma sociedade individualista, ensinando que é possível reconstruir a humanidade perdida.

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