Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

Série do Balão Mágico mexe com a nostalgia sem se aprofundar

"A Superfantástica História de Balão", série lançada pelo Star+, resgata histórias e bastidores de um dos maiores fenômenos da indústria pop brasileira

Vitória
Publicado em 13/07/2023 às 02h22
Balão Mágico. Série “A Superfantástica História de Balão” , do Star+
Tob, Mike, Jairzinho e Simony, o Balão Mágico, em cena da série “A Superfantástica História de Balão” , do Star+. Crédito: Pedro F. Rodriguez Chacal/Divulgação

Os anos 1980, no Brasil, eram uma loucura. A abertura social com o iminente fim da ditadura militar dava uma sensação de liberdade, um otimismo de que tudo era possível. A liberdade era tamanha que ninguém via problemas em um grupo de crianças trabalhando à exaustão, pressionados para suprir os anseios capitalistas de empresários, produtores e familiares. Neste cenário, nada grita mais anos 80 do que o Balão Mágico, grupo formado por Simony, Mike, Tob e, depois, Jairzinho, crianças que praticamente nasceram no estrelato e tiveram suas infâncias roubadas pelo mundo pop.

“A Superfantástica História de Balão”, série documental lançada pelo Star+, recupera a história do Balão, do surgimento do grupo ao auge, com programa diário na televisão, desaguando na inevitável superexposição e nos traumas deixados pelo fim de uma “carreira”.

Em três episódios, a série apresenta todos seus protagonistas com cautela, desenvolvendo personalidades diferentes para cada um deles. Os episódios alternam conversas de um encontro entre os quatro integrantes da formação clássica e entrevistas com pessoas que fizeram parte da história do grupo. Depoimentos de nomes como Marcos Maynard, ex-diretor musical do grupo e um dos idealizadores, dão um sabor agridoce ao documentário, escancarando o tratamento daquelas crianças como um produto.

É interessante como a narrativa escolhe contar a história – as falas das pessoas que cercavam o Balão, às vezes ditas de forma positiva, são antagonizadas pelas falas dos integrantes, que expõem marcas deixadas pelo tempo em que tiveram suas infâncias roubadas. Há momentos marcantes, por exemplo, quando Tob fala de seu disco solo com um sorriso no rosto instantes antes de Maynard dizer, gargalhando, nem se lembrar disso, pois “só se lembra dos sucessos”.

Balão Mágico. Série “A Superfantástica História de Balão” , do Star+
Mike, Simony, Tob e Jairzinho, o Balão Mágico. Crédito: Divulgação

Em um texto documental, Maynard é conduzido ao papel de antagonista, o vilão da história, alguém que manipulou e explorou vidas enxergando crianças como grandes sacos de dinheiro. Suas falas são corroboradas pelas falas de pessoas como Boni (o pai), que diz que as crianças podem até ter sofrido, mas “foram muito bem remuneradas por isso”.

“A Superfantástica História de Balão” faz questão de ressaltar os integrantes do Balão Mágico como amigos, parceiros de brincadeiras, quase uma inevitável família para aquelas crianças que não conheciam a normalidade. O documentário é eficiente ao tocar em assuntos como o boato de que Simony ganharia mais dinheiro do que seus colegas, mas logo trata de desconversar; da mesma forma, algumas polêmicas são tratadas de maneira muito superficial, o que é quase frustrante após a série ter sido vendida como tal.

Balão Mágico e Roberto Carlos. Crédito: Star+/Divulgação
Balão Mágico e Roberto Carlos. Crédito: Star+/Divulgação

Seguindo as personalidades construídas no Balão, Simony é claramente a protagonista, a estrela da turma, enquanto Mike tem um carisma meio louco, forte influência do pai, o ladrão inglês Ronald Biggs, e Tob tem uma ingenuidade, um charme adolescente quase triste, o que se comprova com sua versão adulta. Jairzinho, por ter entrado depois e talvez por ser o único com carreira musical sólida ao longo dos anos, tem menos destaque e desperta menos curiosidade.

Há muitos méritos no trabalho de pesquisa de arquivo e principalmente nas entrevistas, que trazem familiares e empresários, além de nomes como Castrinho (o Cascatinha), Lázaro Ramos, Mara Maravilha, Raul Gil, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Fábio Jr. e até Luis Ricardo (o Bozo), pessoas com histórias distintas com a banda.

Balão Mágico. Série “A Superfantástica História de Balão” , do Star+
Tob, Mike, Jairzinho e Simony, o Balão Mágico, em cena da série “A Superfantástica História de Balão” , do Star+. Crédito: Pedro F. Rodriguez Chacal/Divulgação

Falta ao documentário se aprofundar em detalhes, mas essa possibilidade talvez tenha sido trocada pelo acesso à família e às pessoas que rodeavam a banda. Ricardinho, contratado após a demissão de Tob, é apenas citado rapidamente, sem que sua história nunca seja devidamente contada – um trauma que o texto explora pouco, apesar de citá-lo.

“A Superfantástica História de Balão” é um afago nostálgico para quem era criança dos anos 1980. Mesmo sem ser incrível, a série do Star+ entende ter em mãos uma excelente história a ser contada e a conta com eficiência, colocando um dos nomes mais icônicos da música brasileira novamente em evidência.

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