Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Mário Frias: ex-'Malhação' sobreviverá à pressão da ala ideológica?

Ex-galã nos anos 1990, ator e apresentador Mário Frias foi confirmado por Jair Bolsonaro como novo Secretário Especial de Cultura do Ministério da Cidadania

Publicado em 18/06/2020 às 20h32
Atualizado em 18/06/2020 às 20h32
Mario Frias e Jair Bolsonaro na posse de Regina Duarte
Mario Frias e Jair Bolsonaro na posse de Regina Duarte. Crédito: Marcos Corrêa/PR

O que aprendemos com o governo de Jair Bolsonaro? Aprendemos que não há um dia de paz! No mesmo dia em que Fabrício Queiroz finalmente foi encontrado e que Abraham Weintraub deixou o Ministério da Educação (vai assumir cargo no Banco Mundial ganhando mais de R$ 100 mil por mês, livre de impostos), Mário Frias foi confirmado como novo secretário de Cultura, cargo antes ocupado por Regina Duarte.

Sim, Mário Frias, um ex-ator relegado ao décimo escalão da Globo após viver vários personagens diferentes em “Malhação” ao longo da carreira, sendo o de maior destaque na sexta temporada, ao lado de Priscila Fantin. Nos últimos anos vem sendo apresentador de programas de pouca relevância na RedeTV e será sempre lembrado por suas canastrices na novela “Mutantes”, da Record.

Sabe como ele conseguiu o cargo? Se oferecendo para assumi-lo em rede nacional. Frias foi um dos poucos atores a defender a nomeação de Regina Duarte para o cargo e esteve até na posse da ex-secretária. No início de maio, em entrevista à CNN Brasil, ele defendia a colega quando, em certo momento, soltou: "Olha só, para ser bem direto para o Jair: para o que ele precisar, estou aqui”.

Na mesma entrevista, ele afirmou não ter problemas em seguir a linha desejada pelo governo. Segundo ele, Jair Bolsonaro é como um diretor de novela e escolhe os rumos que quer para cada personagem - a comparação até que não é equivocada, mas tampouco exime ambos de responsabilidade: um diretor ruim, com atores ruins, vai fazer uma novela ruim.

Mário Frias

em entrevista à CNN Brasil

"Olha só, para ser bem direto para o Jair: para o que ele precisar, estou aqui"

O grande trunfo de Mário Frias para o cargo é sua demonstração prévia de disposição para dizer “amém” a tudo o que o presidente quiser. Regina Duarte, por menos preparada que tenha demonstrado ser, sentiu estar jogando fora tudo o que construiu na TV, sentiu muito o peso a reação pública; de “namoradinha do Brasil”, passou a ser execrada pela classe artística. Ainda, ela não conseguiu realizar a “caça às bruxas” desejada pelo presidente e seus apoiadores, cujo sonho é eliminar “o esquerdismo da cultura brasileira”.

Mario Frias e Priscila Fantin em "Malhação"
Mario Frias e Priscila Fantin em "Malhação"

Mário Frias, com a carreira apagada que tem como ator, não se preocupará com isso. Seu projeto é fazer parte do poder, de um governo no qual acredita. Ele é um apoiador de primeiro momento do presidente e não tem problema algum em postar fake news ou ataques à imprensa e a políticos de oposição a seu futuro chefe em suas redes sociais. Seu campo de biografia no Twitter é preenchido apenas com “AQUI É JAIR BOLSONARO”, em caixa alta mesmo. Nos últimos dias ele também tem incentivado a invasão de hospitais de tratamento de Covid-19 e postado críticas a Sergio Moro.

Apesar de ser um seguidor cego de Jair Bolsonaro, Mário Frias pode ter problemas com a chamada “ala ideológica” do governo, ou seja, os seguidores de Olavo de Carvalho. A trupe liderada pelo “guru” do presidente considera o ex-ator “pouco conservador”. Esse foi um dos motivos, aliás, pelo qual Regina Duarte foi "fritada".

Roberto Alvim, secretário de Cultura exonerado após vídeo com texto e estética nazistas, era um seguidor de Olavo de Carvalho. Deu no que deu.

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