Mariana Reis é administradora de empresas e educadora física. É pós-graduada em Gestão Estratégica com Pessoas e em Prescrição do Exercício Físico para Saúde. Atua como consultora em acessibilidade e gestora na construção e efetivação das políticas públicas para a pessoa com deficiência em Vitória

Bullying não é brincadeira. E deve ser levado a sério

Todos os dias quando tocava o sinal da hora da saída, em nossos ouvidos, meu e da minha amiga da época, ouvíamos muito além do sinal. Uma voz dizia “vou pegar vocês”

Publicado em 20/10/2020 às 16h22
Bullying
Uma pesquisa feita em 2019 pela UNICEF apontou que 36% dos adolescentes brasileiros informaram já ter faltado à escola após ter sofrido bullying online de colegas de classe, tornando o Brasil o país com a maior porcentagem nesse quesito na pesquisa. Crédito: Divulgação

As lembranças da escola que conservo vagueiam entre a linha tênue que divide a graça e a sensação desagradável de ser parte da piada, hoje chamada de bullying. Todos os dias quando tocava o sinal da hora da saída, em nossos ouvidos, meu e da minha amiga da época, ouvíamos muito além do sinal. Uma voz dizia “vou pegar vocês”. Eu e minha amiga saímos em disparada, como numa aposta de corrida pra ver quem chegava primeiro em casa sã e salva. E sempre chegávamos. A nossa alegria era contagiante ao ver que estávamos ilesas. Batíamos uma mão na outra como sinal de vitória.

Esse episódio era recorrente e não passou despercebido pelas nossas mães, que não demoraram muito já estavam lá na sala da diretora, solicitando uma explicação para o que acontecia, e pedindo providências para que a nossa saída fosse segura e livre das carreiras insanas do nosso colega valentão.

Resolvido estava o problema. Segundo as ordens da diretora, eu e minha amiga seríamos dispensadas vinte minutos antes de todos para evitar a confusão. A diretora nos buscou na sala e nos levou até o portão da saída. Parecia um pouco sem graça não ter aquele espírito de aventura ao tocar o sinal. Caminhamos um pouco e para a surpresa das mães e diretora, resolvemos esperar pelo colega para ter novamente aquela sensação da adrenalina, do perigo inocente, da amizade enérgica que se construía e da corrida que nos obrigava a fazer. Era muito bom. Nunca saberemos como seria caso ele nos pegasse verdadeiramente. Ficamos com a memória de uma brincadeira engraçada, com a cumplicidade construída nessa aventura e com a amizade que se consolidou.

Dia de pensar sobre o bullying

O dia 20 de outubro é dedicado ao combate ao bullying e ao cyberbullying. Uma data importante que nos convoca a pensar, debater e refletir sobre esse problema que geralmente começa nas escolas. Mas que também pode ocorrer nos parques, nas ruas, no condomínio. Quando a brincadeira perde a graça e machuca é preciso encarar de frente e com coragem tais conflitos.

No Brasil é lei, está registrado na de número 13.185 de 2015 e prevê nas escolas a criação de uma cultura de paz, promovendo a conscientização, prevenção e combate a todos os tipos de violência, principalmente a intimidação sistemática como o bullying e o cyberbullying. Uma pesquisa feita em 2019 pela UNICEF apontou que 36% dos adolescentes brasileiros informaram já ter faltado à escola após ter sofrido bullying online de colegas de classe, tornando o Brasil o país com a maior porcentagem nesse quesito na pesquisa. Com o isolamento social e o uso frequente da internet podemos ver as consequências devastadoras do “cancelamento” de pessoas. Ainda que não haja agressões físicas, ele pode se tornar um problema ainda maior. Se antes os ataques ficavam restritos ao ambiente físico da escola e no momento do convívio, nas redes sociais a perseguição acontece o tempo todo.

O bullying pode matar

Na semana passada recebi uma mensagem sobre bullycídio, de um dos maiores nomes da comunidade LGBTQIA+ na internet do Brasil, Klébio Damas, que presta um serviço de acolhimento às vítimas do bullying e para que essa atitude violenta seja combatida. Milhares de pessoas se inspiram nele e se unem no objetivo de dar acesso à informação como uma das formas de se eliminar o preconceito. A ele também agradeço por lembrar e sugerir o tema de hoje.

É preciso estar atentos aos sinais que os os filhos apresentam, quase sempre aparecem em forma de alteração de comportamento. Reclusão, falta de socialização, depressão, pensamentos destrutivos e suicidas indicam a fase mais séria de que o bullying está acontecendo.

Lidar com as emoções nem sempre é fácil e cabe à escola também ensinar essa prática. O bullying não é bom pra ninguém, nem para a vítima e nem para o agressor. É preciso entender que diferenças não são problemas São oportunidades de desenvolver e ampliar a visão de mundo. A diversidade humana oportuniza a convivência. Dar espaço para a expressão dos afetos, na escola, na família ou com os amigos, para que se desfaça comportamentos violentos, é o caminho para criar uma cultura de respeito, empatia, e de paz que podem se estender em todos os contextos de vida.

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